Após a derrubada do Rei Afonso XIII
em
1931, formou-se um governo republicano, dominado pelos
socialistas. Em
1936 militares
monarquistas se rebelaram, liderados pelo já famoso general Franco.
Assim começou na Espanha tres anos de
cruenta guerra civíl. No combate foi testada a eficacidade de novas
armas e o poder de novas ideologias. Os monarquistas foram apoiados
pelo nazismo e fascismo, enquanto os republicanos (com os
comunistas no comando militar) tiveram o suporte da Rússia e das
brigadas voluntárias socialistas e anarquistas, vindas dos Estados
Unidos, França, Inglaterra e outros países.
Assim, as duas facções passaram fazer o jogo das duas grandes
potências, Alemanha e Rússia, alimentados que foram por homens e
material bélico de toda ordem. Tanto Berlim como Moscou, finda a
manipulação de suas marionetes espanholas, terminaram por se
enfrentar na mais sangrenta das guerras.
Passemos à Ucrânia. O país está políticamente dividido, com o
setor Oeste (Kiev) sob influência Euro-americana, enquanto o setor
Leste (Donetsk e Luhansk) é ligado a Moscou. Se não houver um
desarmamento de espíritos nas próximas semanas, será provável o
recomeço do conflito, temporáriamente interrompido pela cessar
fogo. Numa primeira fase, tal confronto provávelmente fará com que
armas ocidentais e russas abasteçam, cada vez mais, os beligerantes;
já numa segunda fase, é forte a probabilidade de envolvimento de
“voluntários” dos dois campos, assim dificultando, cada vez
mais, o retorno à mesa de negociações. A terceira fase seria a
internacionalização do conflito, com a participação ostensiva da
OTAN e da Rússia.
O que diferencia e agrava o atual conflito da experíência
espanhola, é serem ambos os opositores potencias nucleares. Assim,
seja por intenção, seja por “erro de cálculo”, o que começou
como uma aventura geopolítica pode transormar-se numa guerra de
consequências imprevisiveis.
O contencioso Ucraniano teve por inicio o indevido apoio Ocidental
à derrubanda do presidente eleito do país. Empossado em Kiev o
ultra direitista Primeiro Ministro rebelde, anunciou-se o
cancelamento do regime bilingue, onde o ucraniano e o russo conviviam
secularmente, bem como outras conceções à população russófona.
Em resposta às “alterações nas regras do jogo cívico”
seguiu-se o levante dos rebeldes, desta vez no Leste, com o
inevitável apoio de Moscou.
As recentes eleições, tanto na parte Oeste como no Leste da
Ucrânia agravam a situação, por enquistar e engessar os pólos em
conflito. Legitimam uma facção, e relega o adversário à
ilegitimidade.
Torna-se urgente desarmar-se as pressões bélicas de parte a
parte, pois a crise promete deterioração incontida. Vale, neste
momento onde soluções pacíficas se impõem, o exame da formula
imposta pela OTAN para o conflito do Kosovo contra a Sérvia. A
independencia da província separatista sérvia embasou-se em quatro
critèrios:
1, o territorial (Utis Possidetes),
2, o étnico,
3, o idioma e
4, o religioso.
A formulação então propugnada pelos Estados Unidos parece
aplicar-se, com surprendente fidelidade às condições que hoje se
verificam na Ucrânia, como um todo, e nas duas partes
contestatárias. Os rebeldes detêm a terra reinvidicada, a etnia é
diversa do ucraniano, o mesmo se aplica ao idioma, que é o russo e
a religião Ortodoxa, e não a Católica.
Aplicou-se, com sucesso a formula como base para ligitimização
da separação do Kosovo. Parece aplicar-se, também, no caso
Ucraniano. Resta formalizar o procedimento eleitoral e
pacificador, com a aprovação de ambas as partes.
Há um ditado inglês que diz: “A visão do patíbulo aguça a
mente” *. Se houver bom senso e boa vontade, outras alternativas,
que não a apresentada acima, certamente surgirão. Antes que seja
tarde.
*
The sight of the gallows sharpens the mind