quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Receitas opostas




Muitos observadores se perguntam porque a Europa se mantêm estagnada, enquanto o seu parceiro politico, os Estados Unidos, parecem já ter encontrado a rota da recuperação. Enquanto Barack Obama buscou na expansão da liquidez o estímulo para a atividade econômica, para, em seguida, atingir o aumento de arrecadação fiscal e a consequente redução do déficit, a Europa se centra na redução das despesas como método corretivo, na busca, pela estagnação, do equilibrio fiscal.


A observação dos resultados parece validar a política adotada por Washington em sua luta pela retomada. Constata-se, claramente, que sua caminhada para o reequilibrio fiscal vem sendo realizada graças ao aumento de arrecadação dos impostos sobre a renda de pessoas físicas e jurídicas. Assim, conforme o apartidário Congressional Budget Office, o déficit do recém encerrado ano fiscal de 2014, caiu para 483 bilhões de dólares. Este é inferior aos 680 bilhões atingido no ano anterior, ou, ainda, menos da metade daquele de 2009 (1,4 trilhões).


A redução de despesas deu-se, sobretudo, pela redução das despesas militares, enquanto as despesas sociais aumentavam, apesar da relevante redução de custo do seguro desemprego. Apesar de ter a estratégia norte-americana elevado substancialmente sua dívida pública, fator atenuante terá sido o baixissimo custo de seu carregamento. Enquanto o custo da dívida em 2013 (encerramento em 30 de setembro) chegava a 431 bilhões, no ano de 2006, pré crise e com juros mais elevados, o custo da dívida pública montava a 406 bilhões de dólares.


Dir-se-á, corretamente, que a mais longo prazo o custo da dívida pública aumentará, assim trazendo novos problemas. Contudo, melhor será lidar com este problema a partir de uma economia já saneada do que postergar-se a retomada por mêdo do futuro. Ainda, os proponentes da redução prioritária de gastos parecem esquecer que a recessão, se instalada, trará custos materiais de monta, tais como, no campo material, o desmantelamento da infraestrutura nacional que, mais tarde demandará investimentos adicionais. Ainda, no campo político, agravar-se-á a clivagem na sociedade, cada vez mais dividida pelo fosso da desigualdade que se acentua na recessão.


Contrariando a experiência norte-americana, o velho Continente se curva perante a vontade Germânica. Se antes Berlim ditava pelas armas, hoje o faz pela imposição econômica. Tolhida pela experiência histórica, Frau Angela Merkel não consegue livrar-se do pesadelo da hiper inflação alemã, que reinou entre as duas Grandes Guerras. Qualquer menção de leniência monetária causa na inflexível Valkíria calafrios, provocando radical rejeição. A oposição do Bundesbank às medidas pro-ativas parece ignorar que a tendência deflacionária já bate às portas da Europa, podendo anular a já diminuta taxa de inflação, assim acentuando o movimento recessivo, desistimulando o consumo e o investimento. Ainda, o Banco Central Europeu encontra sérias dificuldades em demover Berlim de sua oposição à compra de relevante quantidades de “bonds” emitidos pelos países membros, que permitiria a irrigação dos canais produtivos.


A União Européia demonstra ser incapaz de aumentar substantivamente a receita fiscal face à mediocridade do crescimento econômico, à perenidade das altíssimas taxas de desemprego, que aliadas à redução de gastos governamentais causarão crescente recessão e custo político no Continente. Sejam eles governos de esquerda ou direita, basta que estejam eles no mando, tem sido derrotados e substituidos por seus opositores, igualmente manietados. Por resultado caminha-se para a contestação da estrutura do Euro e do próprio projeto da União Européia.


Tanto Marine le Pen do Front National francês, quanto o britânico Nigel Farrage do UKIP, aliados aos eurocéticos europeus, legitimados pelas crescentes insatisfação populares, poderão abortar um experimento civilizatório sem igual na história do planeta.






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