sexta-feira, 26 de julho de 2013

Golpe e Democracia


As semanas que decorreram do golpe que derrubou o presidente Mursi não trouxeram a tranqüilidade para o Egito. Também não contribui para a tão necessária estabilidade do conflagrado Oriente Médio. A derrubada de um presidente democraticamente eleito e, ainda, pouco antes de eleições parlamentares que reforçariam ou abrandariam a força do primeiro mandatário, renova as tensões que há tanto mortifica o Oriente Médio.

Sem dúvida, o presidente Mursi pecou por promulgar decretos que intranqüilizaram as minorias, ainda que dentro dos limites da nova Constituição, aprovada por referendum popular. Aguçou discordâncias e intranqüilizou segmentos da população, ainda que dentro dos limites legais. Não foi hábil, porém presidia legalmente o país.

Sua derrubada, contudo, era previsível. Ao levar a Irmandade Muçulmana ao poder provocou a ira de Israel e a disfarçada oposição de seu aliado incondicional, os Estados Unidos. As monarquias da região juntaram-se aos opositores, financiando os partidos oposicionistas, tendo por única exceção o Emirado do Qatar.

O exército Egípcio, um misto de Força Armada e Conglomerado econômico,  tornou-se, a seguir, o instrumento para a deposição, para o golpe militar. Dependendo do fluxo bilionário provindo de Washington para sua existência hermafrodita, ampliando arsenais e capitais, cedeu, sem grande constrangimento, à necessária  traição do General Sissi. Assim, poder e riquezas foram assegurados, mantendo os  enormes benefícios para a casta uniformizada que domina o país.

O que importa agora é o desdobramento desta aventura. A Irmandade Muçulmana, conquistando após o golpe o apoio dos demais partidos de viés Islâmico, representam o maior grupo político do país, chegando perto da maioria. A repulsa cívica manifestada poderá degenerar em conflito armado e eventual guerra civil, ou, bem inversamente, mergulhar aquela nação nas trevas de prolongada ditadura.

O rompimento do processo democrático trouxe  a seus instigadores  a perda da liderança moral, levando os Estados Unidos. a posição comprometedora. Quem não se lembra do discurso de Barack Obama no Cairo, onde defende a instauração da democracia no Oriente Médio, nas barbas do ditador Mubarack? Hoje,  constata-se não passar de farsa, costurada com os interesses imediatos, sem curar pelas conseqüências que hão de vir.

A peça teatral que ora se processa em Washington e na Casa Branca seria motivo de  risadas, não fosse o assunto tão sério. A recusa de definir o golpe como golpe, seguida de explicação que não é um não-golpe, desafia a credibilidade dos mais crédulos, e desmoraliza os autores de tais (não)explicações.

Já, Israel, mergulhado em prudente silêncio, regozija-se com a dêmise da Irmandade, irmão maior do Hamas, seu incômodo vizinho. Feliz estará com o retorno do exercito Egípcio ao comando daqueles soldados mais interessados em enriquecer e subjugar.  É mais um cheque em branco que recebe a jovem nação para manter o domínio, em continua expansão, sobre aqueles seculares vizinhos que lhe tolhem os passos.

Quanto às outras monarquias da região, podem elas suspirar aliviadas, tranqüilas no exercício de seus discretos regimes de força, enquanto recebem do rico amigo o caudal inesgotável que fortalece seus soldados, seus policiais e seu poder absoluto.

Para o observador  experimentado, tudo que vai acima é perfeitamente normal, pois segue os princípios que regem as nações: o seus interesses. Estes por vezes mais aparentes do que reais, mais imediatos do que permanentes.  Contudo, a débito das demais nações não comprometidas, como o Brasil,  vê-se na crescente hostilidade entre o Ocidente e o Islã promessa gratuita de  futuro intranqüilo.  O circulo vicioso já criado caminha para a  irreversibilidade. A cada ação corresponde uma reação, a cada violência outra é cometida.

A democracia parecia ser o antídoto, mais não o é. Não quando quem ganha não agrada. 




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