sábado, 13 de abril de 2013



                                           



O enigma Sírio

Quando meu amigo judeu, Jacob, profundamente ligado aos destinos de Israel, me revelou, durante o cafezinho, sua preocupação com a queda de Bashir al  Assad, senti que algo importante estava mudando.

Até bem pouco os rebeldes Sírios, pareciam cumprir tarefa do interesse das principais nações Sunitas da região, com o apoio explícito ou implícito dos Estados Unidos, Inglaterra e Israel. Repetindo a malfadada experiência Iraquiana, os lideres Ocidentais, levados por um misto de defesa  dos direitos humanos(quão sincero?)   e interesses econômicos e  geoestratégicos, adotaram a política de mudança de regime naquele país milenar. Cedendo à atávica propensão ao maniqueísmo, Washington colocou suas fichas na rebelião, mobilizou, nos bastidores,  o apoio dos políticos e da imprensa, execrando o governo Sírio.  

Prosperando em seu embate, as diversas facções rebeldes Sírias, receptoras de armamento sofisticado daquelas nações, hoje destroçam tanques e aviões com seus foguetes. Outras preferem explodir carros bomba, tão ao gosto dos terroristas, no centro de Damasco e outras cidades. Os dirigentes destes diversos grupos, aliados pelas circunstâncias, e somente por elas,  lutam, cada qual com seus objetivos, explícitos ou recônditos. A diversidade política da oposição armada tem impedido, até o momento, sequer uma união visando determinar  o comando das forças rebeldes.  Desafiando a lógica da política externa Ocidental,   seu apoio ostensivo ainda  prevalece mesmo após declaração de adesão pela Al Qaeda aos  demais grupos.

O restabelecimento do Islamismo, sob o preponderante credo Sunita, e a derrocada do estado laico parecem ser o traço que a todos une.  Ora, como se observa no Iraque de hoje, cuja lição deveria ser apreendida, a desintegração do laicismo servirá de rastilho na perseguição das minorias Alauitas, Maronitas, Drusas  e outras. Especialmente ameaçada será a comunidade Cristã, respeitada pelo partido Baath, mas ameaçada e perseguida sob os regimes radicais Sunitas. A estas minorias caberá a submissão ou a rebelião. Razoável será prever-se endêmica instabilidade no país que surgirá destas cinzas.

Quanto à lógica Israelense, duas hipóteses parecem sobressair: a primeira seria a  conveniência de eliminar um relevante inimigo, que ainda hoje  permanece em estado de guerra, assim neutralizando qualquer possibilidade de ameaça militar modernamente estruturada. Já do lado negativo para Tel Aviv, a eventual consolidação de regime Sunita em Damasco, aliado à riqueza e armamento da Arábia Saudita e do Qatar poderá acentuar, no futuro, a insegurança Israelense.

Neste momento Barack Obama e John Kerry devem se perguntar quais dos riscos convêm correr. Se um desfecho positivo da rebelião, com a instalação de governo amigo em substituição a Assad (até agora, sem exemplo nas demais revoluções Árabes), ou aquele pessimista, onde uma aliança Sunita, pespontada por rebeldes terroristas, empolgue o poder (Líbia)?

Contudo, parece razoável supor-se que a preponderância Sunita na Síria melhor servirá as monarquias do Golfo Pérsico, servindo de barreira à expansão Xiita na região, reforçando a influência de Riad. Até que ponto a mola mestre Sunita dentre  as nações Árabes, ou seja,  a Arábia Saudita, adaptar-se-á à profunda alteração do mercado petrolífero mundial, a partir da iminente  independência energética dos Estados Unidos? Quais serão os novos rumos estratégicos da dinastia Saud nos próximo dez anos? Maior submissão à Washington, ou maior independência? Buscar na China o que perderá na América? Nova aliança?

Decifra-me ou te devoro!

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