O enigma Sírio
Quando meu amigo judeu, Jacob, profundamente ligado aos destinos
de Israel, me revelou, durante o cafezinho, sua preocupação com a queda de
Bashir al Assad, senti que algo
importante estava mudando.
Até bem pouco os rebeldes Sírios, pareciam cumprir tarefa do
interesse das principais nações Sunitas da região, com o apoio explícito ou
implícito dos Estados Unidos, Inglaterra e Israel. Repetindo a malfadada
experiência Iraquiana, os lideres Ocidentais, levados por um misto de
defesa dos direitos humanos(quão
sincero?) e interesses econômicos e geoestratégicos, adotaram a política de
mudança de regime naquele país milenar. Cedendo à atávica propensão ao maniqueísmo,
Washington colocou suas fichas na rebelião, mobilizou, nos bastidores, o apoio dos políticos e da imprensa, execrando
o governo Sírio.
Prosperando em seu embate, as diversas facções rebeldes
Sírias, receptoras de armamento sofisticado daquelas nações, hoje destroçam
tanques e aviões com seus foguetes. Outras preferem explodir carros bomba, tão
ao gosto dos terroristas, no centro de Damasco e outras cidades. Os dirigentes
destes diversos grupos, aliados pelas circunstâncias, e somente por elas, lutam, cada qual com seus objetivos,
explícitos ou recônditos. A diversidade política da oposição armada tem
impedido, até o momento, sequer uma união visando determinar o comando das forças rebeldes. Desafiando a lógica da política externa Ocidental, seu
apoio ostensivo ainda prevalece mesmo
após declaração de adesão pela Al Qaeda aos demais grupos.
O restabelecimento do Islamismo, sob o preponderante credo Sunita,
e a derrocada do estado laico parecem ser o traço que a todos une. Ora, como se observa no Iraque de hoje, cuja
lição deveria ser apreendida, a desintegração do laicismo servirá de rastilho
na perseguição das minorias Alauitas, Maronitas, Drusas e outras. Especialmente ameaçada será a
comunidade Cristã, respeitada pelo partido Baath, mas ameaçada e perseguida sob
os regimes radicais Sunitas. A estas minorias caberá a submissão ou a rebelião.
Razoável será prever-se endêmica instabilidade no país que surgirá destas
cinzas.
Quanto à lógica Israelense, duas hipóteses parecem
sobressair: a primeira seria a conveniência de eliminar um relevante inimigo,
que ainda hoje permanece em estado de
guerra, assim neutralizando qualquer possibilidade de ameaça militar
modernamente estruturada. Já do lado negativo para Tel Aviv, a eventual
consolidação de regime Sunita em Damasco, aliado à riqueza e armamento da Arábia
Saudita e do Qatar poderá acentuar, no futuro, a insegurança Israelense.
Neste momento Barack Obama e John Kerry devem se perguntar
quais dos riscos convêm correr. Se um desfecho positivo da rebelião, com a
instalação de governo amigo em substituição a Assad (até agora, sem exemplo nas
demais revoluções Árabes), ou aquele pessimista, onde uma aliança Sunita, pespontada
por rebeldes terroristas, empolgue o poder (Líbia)?
Contudo, parece razoável supor-se que a preponderância Sunita
na Síria melhor servirá as monarquias do Golfo Pérsico, servindo de barreira à
expansão Xiita na região, reforçando a influência de Riad. Até que ponto a mola
mestre Sunita dentre as nações Árabes,
ou seja, a Arábia Saudita, adaptar-se-á à
profunda alteração do mercado petrolífero mundial, a partir da iminente independência energética dos Estados Unidos?
Quais serão os novos rumos estratégicos da dinastia Saud nos próximo dez anos?
Maior submissão à Washington, ou maior independência? Buscar na China o que perderá na América? Nova aliança?
Decifra-me ou te devoro!
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