quarta-feira, 10 de abril de 2013


Foto de Bruno Garschagen



Margaret Thatcher

A Dama de Ferro foi-se. Fisicamente, isto é, pois já faz tempo sua mente a abandonara. Gostemos ou não, foi uma mulher excepcional e uma líder política singular. Nascida de classe média, importante pela filiação de pastor Metodista, pôde cursar  Oxford e aproximar-se das classes dominantes.

Os neo-conservadores a cultuam, os progressistas a abominam, e aqueles que tentam, com dificuldade, livrar-se da subjetividade ideológica, a admiram e a criticam.
O primeiro grande passo na caminhada Thatcheriana foi o desmonte do sindicato dos Mineiros do Carvão. Não parece haver dúvida que o poder deste último minava a justa autoridade do governo eleito pela maioria britânica. Seguiram-se confrontos com a classe operária.

Ao ser agredida pela Argentina, sua liderança, tão ao estilo Britânico quando desafiado militarmente, foi impecável. Por mais que os corações latino-americanos (com a especial exceção do Chile) pendessem para discreta torcida por uma vitória Argentina, cabe-nos reconhecer que a aventura Plateña só poderia acabar mal. O país invasor, destituído de qualquer experiência guerreira no Século XX desafiou uma das mais azeitadas maquinas de guerra do mundo desenvolvido.  A derrota de Galtieri foi inevitável, o que salvou a Dama de Ferro de iminente derrota política, assim  renovando sua liderança por mais uma década. 

No campo econômico privilegiou as empresas, sobretudo financeiras, dando à City uma dimensão excepcional, só superada por Wall Street. No campo da política externa foi de grande valia na contenção da expansão Soviética, revelando notável tirocínio ao  considerar o recém empossado Mikhail Gorbachev como interlocutor construtivo na  “détente” que se aproximava.

Já a débito de seu governo observou-se substancial desindustrialização da Grã Bretanha, incapaz de enfrentar a concorrência internacional. Seu governo não soube incentivar seus industriais a abandonarem o seu viés artesanal, buscando na modernização e produtividade a sua sobrevivência. Ainda, suas políticas fiscais e administrativas provocaram crescente concentração de renda, estimulando protestos contínuos das classes trabalhadoras, coibidos por política de violência policial.

No campo financeiro, acompanhou Ronald Reagan na desconstrução dos regulamentos que mantinham solido o sistema financeiro, fato que eventualmente levaria ao débâcle sistêmico . Por efeito de suas políticas elevou mais ainda, a clivagem social, culminando com a Poll Tax, igual para pobres e ricos, que a derrubou do poder.  Thatcher opôs-se, com veemência,  ao ingresso do Reino Unido na União Européia, revelando-se incapaz de descortinar os importantes benefícios econômicos e políticos de uma aproximação com o continente Europeu.

Melhor resumindo vale a declaração desta destemida mulher, herdeira de forte influência do Metodismo protestante:  “Não existe tal coisa como a Sociedade” . Em outras palavras, priorizava o individuo e não as exigências de bem estar da Sociedade como um todo.  Revelava-se pupila de Ayn Rand, de Friedrich Hayek e de Milton Friedman.  

Deixa claro, com estas palavras, que o edifício da Nação Britânica, a mais socialmente rígida das nações Européias,  deveria ter por alicerce o trabalho daqueles que, por feliz combinação de família, trabalho, fortuna, sorte ou  até anomia de escrúpulos  atingem o sucesso em suas atividades. Relega, ainda, aqueles destituídos, por ausência de meios, da capacidade  de criar e enriquecer,  à condição de  cidadãos subsidiários. Desconsiderava, assim, a responsabilidade social do governo. 

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