Foto de Bruno Garschagen
Margaret Thatcher
A Dama de Ferro foi-se. Fisicamente, isto é, pois já faz
tempo sua mente a abandonara. Gostemos ou não, foi uma mulher excepcional e uma
líder política singular. Nascida de classe média, importante pela filiação de
pastor Metodista, pôde cursar Oxford e
aproximar-se das classes dominantes.
Os neo-conservadores a cultuam, os progressistas a abominam,
e aqueles que tentam, com dificuldade, livrar-se da subjetividade ideológica, a
admiram e a criticam.
O primeiro grande passo na caminhada Thatcheriana foi o
desmonte do sindicato dos Mineiros do Carvão. Não parece haver dúvida que o
poder deste último minava a justa autoridade do governo eleito pela maioria
britânica. Seguiram-se confrontos com a classe operária.
Ao ser agredida pela Argentina, sua liderança, tão ao estilo
Britânico quando desafiado militarmente, foi impecável. Por mais que os
corações latino-americanos (com a especial exceção do Chile) pendessem para discreta
torcida por uma vitória Argentina, cabe-nos reconhecer que a aventura Plateña
só poderia acabar mal. O país invasor, destituído de qualquer experiência guerreira
no Século XX desafiou uma das mais azeitadas maquinas de guerra do mundo
desenvolvido. A derrota de Galtieri foi
inevitável, o que salvou a Dama de Ferro de iminente derrota política, assim renovando sua liderança por mais uma década.
No campo econômico privilegiou as empresas, sobretudo
financeiras, dando à City uma dimensão excepcional, só superada por Wall Street.
No campo da política externa foi de grande valia na contenção da expansão
Soviética, revelando notável tirocínio ao
considerar o recém empossado Mikhail Gorbachev como interlocutor
construtivo na “détente” que se
aproximava.
Já a débito de seu governo observou-se substancial
desindustrialização da Grã Bretanha, incapaz de enfrentar a concorrência
internacional. Seu governo não soube incentivar seus industriais a abandonarem
o seu viés artesanal, buscando na modernização e produtividade a sua
sobrevivência. Ainda, suas políticas fiscais e administrativas provocaram
crescente concentração de renda, estimulando protestos contínuos das classes
trabalhadoras, coibidos por política de violência policial.
No campo financeiro, acompanhou Ronald Reagan na
desconstrução dos regulamentos que mantinham solido o sistema financeiro, fato
que eventualmente levaria ao débâcle sistêmico . Por efeito de suas políticas
elevou mais ainda, a clivagem social, culminando com a Poll Tax, igual para
pobres e ricos, que a derrubou do poder.
Thatcher opôs-se, com veemência, ao
ingresso do Reino Unido na União Européia, revelando-se incapaz de descortinar
os importantes benefícios econômicos e políticos de uma aproximação com o
continente Europeu.
Melhor resumindo vale a declaração desta destemida mulher,
herdeira de forte influência do Metodismo protestante: “Não existe tal coisa como a Sociedade” . Em
outras palavras, priorizava o individuo e não as exigências de bem estar da
Sociedade como um todo. Revelava-se
pupila de Ayn Rand, de Friedrich Hayek e de Milton Friedman.
Deixa claro, com estas palavras, que o
edifício da Nação Britânica, a mais socialmente rígida das nações Européias, deveria ter por alicerce o trabalho daqueles
que, por feliz combinação de família, trabalho, fortuna, sorte ou até anomia de escrúpulos atingem o sucesso em suas atividades. Relega, ainda,
aqueles destituídos, por ausência de meios, da capacidade de criar e enriquecer, à condição de cidadãos subsidiários. Desconsiderava, assim,
a responsabilidade social do governo.
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