Se por um lado a posição russa encontrava apoio lógico em sua oposição à instalação da OTAN na sua fronteira, a invasão da Ucrânia abre uma Caixa de Pandora.
Fosse a incursão armada contida dentro dos limites de uma "advertência" talvez a relação Custo/Benefício fosse bem melhor para Moscou. Uma contida presença armada russa, por exemplo, na parte separatista do Dombas, sob pretexto de defendê-la contra ameaça de Kiev, teria gerado a pressão desejada, reforçando a credibilidade de subsequente escalada caso insistisse no projeto OTAN. Talvez não tivesse levado o projeto ao elevadíssimo custo militar, político e econômico hoje observado.
A atual situação "on the ground", com os tanques russos cercando Kiev, coloca a Russia na situação de "toma, que o filho é teu"! Quanto mais tempo em território conquistado, maior sua responsabilidade e maior será o preço dela decorrente. A probabilidade de vir Moscou a instalar na Ucrânia um governo submisso é minima.
Putin se coloca na posição tão conhecida de seu grande rival norte-americano; a derrota subjacente de uma vitória aparente. Putin se manieta por redução de alternativas viáveis, o que promete crescentes dissabores. Tem tudo para piorar. De uma situação de "influencer", torna-se protagonista. Corre o iminente risco de ver-se dominado pela sequência de eventos que não mais controla.
Como um Cortez moderno, Putin não mais pode retroceder sem desmoralizar-se, pois queimou seus navios. Quanto mais tempo permanecer em território ucraniano, mais sofre sua imagem, passando de vítima a algoz; assim, derruba todo um edifício lógico, enfraquecido em suas vigas mestres.
Um passo além das pernas que fere a imagem e o futuro político do grande estrategista, confrontado com a perene indagação: "como sair desta?".
E assim prossegue o xadrez... O passar do tempo é contrário aos interesses de Putin e da Russia. As sanções econômicas se acumulam, atingindo intensidade jamais vista; a perdurarem levarão Moscou à derrota política e à humilhação militar. obrigando à retirada do exército russo sem que atinja seus objetivos.
A vibrante solidariedade à Ucrânia manifesta pelas nações Ocidentais (recrutando até a profissionalmente neutra Suíça) chega, surpreendentemente, a incluir a China no rol dos opositores à invasão.
Será o "canto do cisne", para Wladimir Putin ou terá ele uma "carta na manga?" Será ele vítima do próprio establishment russo? A aposta foi enorme, e assim será o seu custo.
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