quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

AMIL e a Ética




O Capitalismo é o motor que desenvolve a economia de um país, enquanto o Socialismo é responsável pela proteção à massa humana que dá sustentação ao desenvolvimento econômico. Nenhum país atinge a maturidade sócio-política sem respeitar esta dupla responsabilidade.

A  revolução da informação, graças à cibernética, rompeu as barreiras de outrora, hoje desvendando a intensidade na inter-relação dos mecanismos responsáveis pela evolução da sociedade. Os segredos de outrora, que poderiam servir de proteção às classes economicamente  superiores, não mais existem, pois a ubiquidade dos meios de comunicação revelam a todos os andares do condomínio humano a realidade dos privilégios e das amarguras.   

Aos governos, estejam onde estiverem, cabe a  buscar de contínuo equilíbrio entre expectativas e realizações, entre anseios e frustrações, entre realizações e esperança. A sociedade desequilibrada  prenuncia o seu desmonte político, não raro levando a soluções falsas adubadas pelo ódio, pela pobreza e pela demagogia.

Estas considerações decorrem de incidente onde o capitalismo criador é desvirtuado pelo capitalismo explorador. Trata-se do caso AMIL, relevante seguradora no ramo Saúde, que, além de importante carteira de seguros em grupo e individuais que, por comportamento surpreendente, hoje se vê exposta nas manchetes. 

Esta empresa, há poucos anos adquirida, pela gigante americana United Health, decide, inesperadamente para seus clientes, desvencilhar-se de sua carteira de cobertura individual. Assim, em manobra "esperta" cria uma outra companhia, sob seu contrôle integral,  para a qual "vende" sua carteira de 340.000 segurados com o objetivo de, em seguida vendê-la à um comprador final, assim livrando-se do "mau negócio". 

Nenhuma consideração é oferecida aos milhares de clientes "vendidos". Nenhuma opção de manter-se protegidos com qualidade é oferecida aos clientes que há anos lhes pagam para resguardo, seja hoje, seja amanhã, de sua saúde.

Demonstrando insensibilidade e irresponsabilidade, o golpe final foi dado pela United Health, celebrando a venda à um grupo que, segundo a imprensa,  não reúne as condições confiáveis que resguardassem os milhares de clientes rejeitados. Vendidos estes clientes, tal gado ou escravos, nenhuma voz lhes foi oferecida para influir em seu futuro.

Porém, brados de protesto chegaram aos meios de comunicação levando a Agencia Nacional de Seguros, órgão estatal responsável pela aprovação de tais operações, a desautorizar a última etapa do golpe solerte  e camuflado aos segurados.

Eis que esta empresa brasileira teve, há poucos anos, seu contrôle adquirido pela gigante norte-americana United Health. Alegando prejuízos que lhe trazem os velhinhos de sua carteira, impondo-lhe a venda precipitada, revela em seu balanço para 2021 os seguintes números:  Receita em 2021,            73 bilhões de dólares, Lucro liquido, 4 bilhões de dólares. 

O fato de ser próspera não deve tolher-lhe medidas que aperfeiçoe sua política empresarial. Porém, o fato de ser próspera lhe permite o luxo de preservar a ética, buscando o tempo necessário para encontrar o justo equilíbrio entre seus interesses e aquele de seus clientes. Preservação da imagem de seu "Brand" também é objetivo empresarial.    

Fica a questão, qual o peso do cliente no equilíbrio das prioridades?

                                                                     

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Um comentário:

Rodrigo Almeida disse...

Essa questão decorre da mistura de falta de "regulação", de abuso regulatório, e violação do código civil.
A falta de regulação ou falta de exercício do poder de polícia pela ANS, ou seu exercício irregular. Jamais o negócio poderia ter sido autorizado. Seja pelo aspecto ético, seja sobretudo peonaspecto jurídico. Num contrato, a parte contratada não pode cedê-lo a terceiro, ou este assumir dívida ou obrigação, sem anuência do contratante, valendo o silêncio como recusa. A ANS usurpa poder legislativo e ofende o código civil com "resolução normativa" que autoriza esse tipo de negócio. Essas agências regulatórias foram engendradas no governo FHC. Não exercem adequadamente o poder de polícia da administração pública, porque foram capturadas pelas empresas reguladas.