quinta-feira, 1 de abril de 2021

Versão de um voluntário

Fazem hoje 57 anos do início do processo que destituiu João Goulart da presidência, movimento apoiado pela grande maioria da classe média brasileira. Para entendê-lo, necessário se faz ter vivido o colapso que se observava, da ordem cívica, administrativa e econômica graças à emergência de movimentos contestatários, de cunho pré-revolucionário, com a anuência do poder Federal cuja missão deveria ser a manutenção da lei e da ordem. Permissivo, o governo Goulart abriu às portas ao colapso da hierarquia militar e, portanto, da Segurança Nacional e Constitucional.

Carlos Lacerda tornou-se o principal e mais ativo opositor de Jango. Encastelado no Palácio da Guanabara, o Governador proclamava sua contestação, negando a autoridade Federal. 

Naqueles momentos, complementando pequeno contingente policial, chegavam ao palácio jovens jovens de espírito, de diversas idades e procedências, dispostos a colocarem-se como muralha.




Dentre estes estava  este escriba, acompanhado de três amigos; um ex-reporter, Ítalo Viola, um italiano desgarrado, Sergio Piombo, e um pequeno grande valente, Aluísio Leitão. Uma carabina, uma espingarda de caça, uma pistola e um revolver. Não para defender um líder político, não visto nem na chegada nem na partida, mas para defender um modo de vida que nos era caro.

Às quatro da manhã, este pequeno grupo, reforçado pelo inesquecível Arnaldo Borges, partiu, numa Kombi machucada, em busca de mais armas tendo vista a penúria reinante. Alguns as emprestaram, (lembro-me bem da Winchester que Eduardo Defini emprestou-me) outros as negaram (um conhecido colecionador de armas de caça não arriscou suas joias). Durante o périplo e voltando ao Palácio, as invectivas da rádio oficial nos acompanhava,  proclamando a derrota da rebelião e a iminente captura do governador. Mas lá chegamos com modesto arsenal e poucas esperanças. 

E assim passou a madrugada, entre escuridão e boatos, à espera da investida dos Fuzileiros do Aragão. Ao chegar abril, e sua claridade, ouviu-se, o arrastar das cremalheiras dos tanques. Fez-se o silêncio dos defensores, trazendo preocupação e consternação. Situação indefensável. 

Súbito, pela primeira vez ouvimos ordens do General Mandin, aparentemente encarregado da defesa do perímetro. Ordem peremptória: preparem os Cocktail Molotov! Mas nem garrafas nem gasolina havia.  A ironia não nos escapou, mas todos lá ficaram, esperaram com suas armas que, face aos blindados,  mais pareciam brinquedos.

Foi então que, ao longe, viu-se, em lenta marcha, civis portanto faixa contra Goulart à frente de três tanques comandados pelo Capitão Etchegoyen. Goulart fugira. Pano rápido. Fim de uma curta estória, começo de uma longa história. 





    



  




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