terça-feira, 13 de abril de 2021

Razão e Exaltação




Observa-se, ao longo dos últimos anos, uma gradual transformação  no diálogo político nas mais diversas nações que formam o mundo democrático. Excluindo-se as confrontações tectônicas, como o embate Capitalismo-Comunismo ou Democracia-Ditadura onde a escolha entre as facções adquiriam densidade existencial, promovendo violência tanto verbal quanto física, o debate partidário em eleições democráticas guardavam um comportamento tido como civilizado.

Mas o cenário hoje é outro. A agressividade dá o tom. E a causa parece ser o advento das Redes Sociais.  A  primeira condição que aguça a crescente hostilidade que se observa do diálogo político é a atual capacidade dos antagônicos em dialogar em real-time, instantaneamente. Não mais inibidos pelo tempo de receber o input, processá-lo, redigir a resposta no seu e-mail, cuja tréplica tardaria um ou dois  dias, tempo suficiente para a reflexão e revisão da contestação, hoje, os debatedores o fazem em "tempo real". O que é "dito" foi 5G afora e não tem volta. A instantaneidade da resposta on line impede a reflexão prudente e atenuante. 

Nos tempos passados, os sábios insistiam: "Pare para pensar". Hoje, a sociedade, sob o culto da velocidade, não mais tolera o "Parar".  Confundindo "Eficiência" e "Eficácia", ganha-se em velocidade com a pressa, porém, com ela,  perde-se a reflexão e a compreensão. 

E assim, entra-se  no Facebook (ou similar) por uma porta que se abre sobre milhares de janelas, que nem um clássico sobrado em rua Napolitana. As comadres e compadres ja parecem ter opinião formada, municiadas por chavões, repetições e enganações. Dentre elas estão os robots que automaticamente se manifestam em textos pré-preparados. 

Adentrando o tema político, o futuro eleitor se adere a seus correligionários, e juntos se lançam ao debate. Argumentos tolhidos pela pressa, a indignação atropelando a análise, o sectarismo toldando a visão.  Em poucos lances o linguajar se azeda, a calma cede à raiva, e abrem-se as portas para a injúria, não raro, pessoal. E assim vai se agravando a intolerância, o maniqueísmo e, enfim, o ódio à ideia alheia.

O conceito de multipartidarismo cede a imposição do unicismo ideológico, febril, pois, nas Redes Sociais não serão os tolerantes e os prudentes que exercerão a influência, mas, sim, os vendedores de panacea que, sob a capa de falsa realidade, engrossam as fileiras dos iconoclastas. 

E o que era somente eletrônico, transborda nas ruas, nas manifestações, nas depredações. O protesto penetrante  e as soluções simplistas. Em tempo real. E assim, chaga-se ao período eleitoral; as facções de viés autoritário já formadas, as ideias e crenças já congeladas, prenunciando a obsolescência da democracia.

Trump, Bolsonaro, Maduro, Orban já exerceram ou exercem o poder, porém as eleições que se aproximam mundo afora revelam o potencial de nova fornada de líderes extremados. Se este Virus eletrônico  não for contido a Razão cedera à Exaltação e negro será o futura das nações.



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