domingo, 18 de abril de 2021

Nuvens escuras

 



Em  novembro de 2022,  quando das eleições parlamentares americanas,  ter-se-á febril campanha buscando reformular o tênue equilíbrio partidário hoje existente. Determinará, para os anos seguintes; se Joe Biden será um líder ou um mero coadjuvante. Mas até então, qual será a Política Externa do "super-power".

O Mundo de hoje pouco parece com os idos tempos quando a Organização das Nações Unidas era respeitada, tendo os dois lados do tabuleiro interesse em valorizá-la. O capitalismo e o comunismo se digladiavam, mas, em momentos de crise aguda, buscavam na ONU o modus operandi para evitar a hecatombe nuclear.

Talvez a desmoralização da visão internacionalista e respeito às suas regras  tivesse, na invasão do Iraque por George W. Bush, o seu início. Mais e mais Washington procurou, em ações unilaterais, o instrumental para atingis seus objetivos. Donald Trump, uma vez eleito mergulhou a instituição internacional na mais profunda irrelevância.

Hoje, nota-se o resultado nefasto do ressurgimento das ambições e paixões nacionais, numa forma perversa de individualismo geopolítico, relegando a ONU à esporádicas declarações no vazio. As regras por ela estabelecidas mais e mais tornam-se letras mortas. 

E se explica. Com a queda do Império Soviético, uma grande quantidade de nações, que em tempo de ameaça vital tinham nos Estados Unidos a sua proteção, tinham por preço sua subordinação. Com o colapso e fragmentação da USSR cessou a ameaça, reduzindo a  subordinação ao Estado Protetor.

Com o colapso do comunismo, veio a queda do inimigo ameaçador. Caiu, também, a anterior dicotomia ideológica. As nações anteriormente subsidiárias à um dos polos, ganharam espaço de manobra que lhes permitisse melhor perseguir seus interesses, subordinando suas alianças à seus interesses geopolíticos e não mais à uma ideologia.

Para compensar o enfraquecimento de seu poder aglutinador e do seu poder suasório, antes ideológico, exercido sobre o "lumpen" das nações subsidiarias, os Estados Unidos hoje recorrem à aplicar, cada vez mais, o constrangimento financeiro e  comercial, e, até mesmo ocasional punição militar.

O ativo boicote de Biden  ao pipeline russo Nord II, não só atinge os interesses comerciais de Moscou, e, mais grave,  contraria o vital interesse de seu aliado, a Alemanha, em busca de des-nuclearização de sua energia. Expões o excesso a que esta sendo levada a politica norte americana  de coação comercial.

No caso da relação Estados Unidos/China, os primeiros manifestam sua clara oposição a que venha o segundo a atingir a superioridade econômica. Como se violação da Lei Internacional fora, Washington acusa a China de pretender cometer tal crime!

Se arroga, assim, o singular direito de impedir que uma nação venha a atingir dimensão econômica contrária a seus interesses. Tal entendimento reporta-se à era Imperial que dominava o mundo, visão  sepultada após a Segunda Guerra Mundial.

Se, outrora, os Impérios recorriam ao bloqueio naval buscando estrangular a economia de adversários, hoje, os computadores do Treasury Department substituem os canhões navais de antanho, bloqueando fluxos financeiros e comerciais de adversários políticos.

Contudo, tais sanções tanto podem coibir comportamento considerado indesejável quanto, pelo contrário, levar a nação penalizada a buscar apoio no campo adversário. Como exemplo, a política de Washington visando a contenção e a submissão da  Rússia, seu maior rival nuclear, tem por efeito levá-la aos braços  de Pequim. Hoje, tanto o militar quanto o econômico entrelaçam os dois países.

Ao fortalecer-se o bloco Sino-Russo, onde o arsenal nuclear russo e suas imensas reservas de energia se somam à China, segunda economia e poder militar do planeta, pode-se  deduzir que o caminho ora seguido por Washington trará mais desvantagens do que benefícios.

Se conflito houver, que se trave no comercio internacional sob as regras da OMC.  Que haja  competição, com limites negociados  sob a égide das Nações Unidas, como já vem sendo feito há décadas.

À persistir o atual diferendo, prenuncia-se escalada em sua intensidade, tornando a Comunidade das Nações refém e vítima involuntária..






3 comentários:

Roberto Rodrigo Octavio disse...

Muito bom seu comentário. Há que se observar com atenção 2022. No tabuleiro de xadrez de hoje, Putin está muito na frente. E a tradição russa de bons enxadristas talvez esteja a apontar desde já o campeão.

Roberto Rodrigo Octavio disse...

Muito bom seu comentário. Há que se observar com atenção 2022. No tabuleiro de xadrez de hoje, Putin está muito na frente. E a tradição russa de bons enxadristas talvez esteja a apontar desde já o campeão.

Roberto Rodrigo Octavio disse...
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