domingo, 31 de janeiro de 2021

O povo esquecido


                                       Como estarão depois do Covid 19?


"However, with the exception of those in East Jerusalem, no-one in the Palestinian areas has started receiving Covid vaccines."

Esta pequena notícia, quase despercebida na imprensa internacional, revela o que pode tornar-se um genocídio, um flagelo contra uma raça, uma nacionalidade.


As populações Palestinas, encarceradas e empobrecidas após mais de sete décadas nos Guetos de Gaza e Cisjordânia ainda não receberam as vacinas contra o Covid 19 essencial para protegê-las contra a pandemia que assola o mundo desde janeiro de 2020. 


Hoje, 31 de janeiro de 2021, as autoridades israelense não consideraram necessário ou importante enviar sequer uma vacina para proteção de um povo que mantêm enclausurado e que diz habitar em território que lhe pertence. 

Ora, se lhe pertence, torna-se responsável por ele. A incompreensível (e intolerável) indiferença pela vida de alguns milhões de homens, mulheres e crianças, de pais, mães e avós, revela um desprezo pela dignidade humana que faz lembrar épocas sombrias que a humanidade não quer repetir. 


Já, do outro lado das porteiras que fecham tanto o trânsito quanto a compaixão, que separa regiões livres das dominadas, parece reinar a indiferença ou um recôndito "death wish", onde Israel escancara sua eficiência anti-viral, exibindo índice de vacinação que lidera em eficácia os demais países do globo.


Há alguma coisa de muito errado dentre os homens ditos civilizados, onde sequer existe um brado de alerta, assim revelando tolerância indesculpável daqueles que apregoam um mundo melhor.


E o que nos conta este relato? Que um povo perseguido por sua raça, vitima de um Holocausto, não se julga responsável pela vida de quem não lhe convêm. 

.

Onde estarão as múltiplas entidades voltadas aos Direitos Humanos? Onde estarão as Nações Unidas? Onde estarão os Estados UNidos, tão cioso na defesa  dos direitos humanos quando assim lhe convêm?


Não raro, é na crise que o Diabo aparece, naqueles momentos em que a inteligência humana mais dificuldade têm para subverter a realidade através da hipocrisia.


A Palestina, oprimida, debilitada, aprisionada não pode ser esquecida em momento tão grave pelos homens de bem, de consciência, e de respeito humano, sejam eles Cristãos, Judeus, Muçulmanos.


sábado, 23 de janeiro de 2021

Rescaldo de uma dupla


                                                                      

Trata-se de uma dupla, assim como Didi e Dedé.  Um fica sério e diz bobagens, o outro é risonho e diz bobagens. Como um sobreviveria sem o outro? Difícil, mas, aconteceu.

Donald Trump, despedido de sua função pelo povo norte-americano, rebelou-se. Açulou suas hordas na direção do Congresso em ato sem paralelo na história dos Estados Unidos. Sua audácia impensada fruto de ambição incontida.

Não deu certo. Projeto fracassou. Em 20 de janeiro, 2021, foi despejado da Casa Branca. E aqui, no distante Brasil, ficou seu "side-kick" tropical, seu Dedé, atônito com a queda  de sua alma gêmea. 

Mas Jair é militar, valente. Aperta o cinto, encolhe a barriga, estufa o peito e.."Vamos em frente"! Pois bem, já há algum tempo vem ele preparando seu projeto de permanência. Se não for por bem, talvez tenha que ser por mal...

O clima de incerteza, alvoroço, e suspense criado por incessante fluxo de declarações desencontradas e provocadoras que emanam do Planalto lhe garante a atenção da mídia e, assim, lhe aduba uma incerteza que lhe beneficia. Estimula a polarização das facções e a radicalização das idéias, assim preparando suas hostes para o que der ou vier.

No plano do falatório, tem-se "Aqui será bem pior se o voto, em 2021, nao for impresso!" ou "quem decide se o Brasil será uma democracia ou uma ditadura serão as Forças Armadas", ou "o povo armado é um povo livre". E por aí vai...

Já, em suas ações, Bolsonaro coopta as Forças Armadas e as Polícias,  não raro travestidas em Milícia. Em afago constante, prestigia, com sua presença incansável nas cerimônias castrenses, oferece promessas, não só de maiores proventos mas, também, de maior poder, aquinhoados que são nos corredores da administração pública. Pagos, é claro, com o dinheiro da "viúva". 

Tendo por exemplo, segue o receituário da  Venezuela ao seduzir, paciente e paulatinamente, o  estamento armado nacional.

Ainda, incansável na consolidação de seu poder, prestigia seitas de conservadorismo hermético de Calvino, apropriado ao Século XVI, contrárias aos  aperfeiçoamentos do Iluminismo que os Séculos seguintes trouxeram. Assim, Bala e Bíblia se associam às preferências e propósitos  de Jair Messias.

Para  dar substância ao Verbo, importam-se mais Armas do mundo afora, livres de imposto e contrôle, distribuídas aos fiéis seguidores como se não bastasse as que aqui já tanto matam.. Em contraste obscurantista, aplica-se, pela primeira vez, imposto sobre livros.

Bom estrategista, Jair vê o Caminhoneiro como aliado. Amaciados e protegidos desde a primeira greve que paralisou o país, o Presidente, cioso da extensão do poder que a categoria encerra, mantêm, ainda hoje, mantêm conveniente intimidade. A mobilização da "categoria", em momento de crise, pode, ao subtrair o imprescindível combustível e paralisar o trânsito, inibir qualquer ação que lhe seja desfavorável. 

Significaria, o que vai acima, uma previsão de ação inconstitucional de Jair? A resposta é Não.  Nas eleições de 2022 ter-se-á o veredito das urnas, e o vencedor terá o respeito do vencido. Ou assim se espera...e assim é a regra do jogo democrático. Ou...

Contudo, o Presidente já manifestou sua preferência pelas urnas que registrem, físicamente, os votos. Caso se mantenha contra sua vontade o atual sistema eletrônico,  e caso não vença o pleito, prevê ele revolta popular mais grave, ainda, do que a ocorrida em Washington,  como "justa" reação à inconfiabilidade de um processo eleitoral tido por viciado.

E, se assim for? Dependendo da vontade de um Líder (Fuhrer em alemão, Duce, em italiano), com uma penada, uma piscadela, uma meia palavra cai por terra uma democracia...

A não ser que os brasileiros prestem muita atenção...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Tempos incertos





Assalto ao Capitólio


Vê-se o mundo chocado com os recentes eventos ocorridos nos Estados Unidos. Ao final da disputa eleitoral, elegeu-se Joe Biden, porém dando a Donald Trump nada menos do que setenta e cinco milhões de votos. A vitória democrata não foi acachapante, onde o derrotado voltasse para casa humilhado, emasculado políticamente. Não, a derrota do partido Republicano ainda lhe deixa considerável poder político.

Trump, tendo abraçado o radicalismo que ´pretende transformar a nação americana, proponente da Fortaleza América contra o mundo exterior, se retira para Mar-a-Lago, talvez temporariamente.  

No lado oposto à esta visão constrita, fechada, está uma America aberta política e comercialmente ao Mundo; multiracial, solidária,  tolerante...É a América que o mundo deseja como parceiro internacional..

Isto posto, vale indagar como pôde chegar-se ao aberrante experimento político que prevalece há quatro anos? Como um ambiente tradicionalmente respeitador das regras constitucionais permitiu, da noite para o dia, revelar uma face iconoclasta, raivosa, violenta.

Como nada nesta vida é de graça e sim consequência  de atos passados, tal desarrumação nas bases partidárias e nas expectativas que as alimentam  terá razões que atingem o âmago da alma política norte americana. Algumas destas razões serão profundas e históricas. Outras, mais recentes, decorrem de conjugações inesperadas pretendendo lidar com a nova realidade que se forma.

De singular importância, tem-se a questão racial, onde a raça branca americana vê sua constante e crescente perda de protagonismo. Espera-se para 2050, e talvêz antes, que a soma das raças não-brancas se tornem majoritárias. Mais algumas décadas e a perda de maioria criará condições para sua gradual redução de poder político senão econômico.

Outra tendência que se acentua é a concentração de renda no topo da pirâmide populacional, acentuando a insatisfação nas camadas economicamente inferiores porém majoritárias. Estas, em constante conflito com o ilimitado capital do topo da pirâmide, busca a reversão da tendência, levando à potencialmente instável equilíbrio político.

Um terceiro fator negativo que oprime o psique norte americano terá sido a perda, ao longo das últimas décadas, do até então inconteste protagonismo internacional da nação americana: 

         A constituição da União Europeia, cujo PIB e população igualam ou superam os índices americanos; 

         O excepcional avanço chinês, cujo progresso tanto  econômico, comercial quanto militar e, por consequ|ência, político, devendo superar os  Estados Unidos na próxima década; 

         A permanência da Rússia no jogo internacional mantendo o status de maior poder nuclear do planeta. 

A emergência destes núcleos políticos reformula e reavalia o poder relativo econômico e/ou militar, trazendo ansiedade e temor.

Um quarto fator será a queda da tradição de invencibilidade das armas americanas. As últimas décadas tem revelado os Estados Unidos sujeito à derrota (Vietnam) ou impasse militar (Afeganistão).O prolongamento inédito destes conflitos tem turbinado seu custo, tanto em vidas quanto em recursos.

Já, como quinto fator, tem-se sido o congelamento da ascensão sócio-econômica, outrora caracteística dos Estados Unidos. Pesquisas recentes revelam um crescente fosso econômico limitando o acesso à qualidade na educação e na saúde pela classe média. Ainda, o sacrifício fiscal destas classes modestas supera, em muito, àquele dos contribuintes de alta renda (vide efeito Buffet).  

O conjunto destes fatores pintam um quadro, pelas tensões e frustrações que gera, que dificulta o diálogo político equilibrado e construtivo. Pelo contrário, induz à aspereza, intransigência e intolerância no debate político. Contrariamente ao passado não distante, a existência e prevalência das redes sociais disseminam e turbinam as frustrações e ansiedade, enrijecendo posições.

E qual o caminho que se abre? Tem-se, no momento, um presidente derrotado, Donald Trump, que, no entanto,  obteve nada menos do que  74 milhões de votos nestas eleições. Quanto deste apoio provém de segmento respeitadores das regras dos jogo  constitucional, quanto estará propenso à soluções violentas, extra constitucionais? 

Caso Trump seja impeached, e assim perca seus direitos políticos vedando-lhe uma futura vida pública, poder-se-ia esperar o seu ostracismo e gradual esquecimento. Por outro lado,  permanecendo na liça política, algumas hipóteses se desenham:

- manter-se na liderança, ou lutar por ela, fiel ao partido Republicano, ou

- cindir o partido buscando  liderança em nova agremiação de cunho contestatário.

Tais considerações levam em conta que, deixando a proteção do cargo que ora ocupa, Donald Trump provavelmente tornar-se-á alvo de ações legais hostis ao seu patrimônio e à sua liberdade. Será a liderança política, seja qual formato lhe seja possível, que lhe trará tanto um escudo que lhe defenda,  quanto uma espada que lhe abra novos rumos.   


    


 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Eleições e ambições


                                                           Jair Bolsonaro e seu mentor

O objetivo que prepondera no espírito político do Presidente Jair Messias Bolsonaro é a sua reeleição em 2022. Até ahí, tudo normal...é o que políticos fazem. Ao observador cabe, contudo, identificar se o roteiro por ele escolhido seguirá as regras do jogo democrático ou optará pela flexibilização que lhe garanta a vitória. . 

Sua recente derrota nas eleições municipais traz a primeiro plano a necessidade de aperfeiçoar sua estratégia para os próximos 700 dias.   Quais as vantagens a explorar, quais os obstáculos a superar?

No momento, importante vantagem política decorre da sua aproximação ao Centrão, com o  benefício defensivo de conter seus inimigos em eventual tentativa de impeachment e, no ofensivo,  dar-lhe munição para pontuais vitórias parlamentares.

No campo judiciário, o presidente vem reduzindo sua desvantagem no Supremo Tribunal Federal, tanto no relacionamento com alguns Ministros, tais quais Toffoli e Gilmar Mendes, na indicação do ministro Kassio (não esquecer o "K" que enobrece!), e na indicação de novos membros nos próximos dois anos. Pode-se esperar, também, maior presença do Planalto na indicação e remanejamento das Cortes subalternas visando desobstruir obstáculos futuros.

Na mesma direção, pode-se esperar pressões crescentes pelo afrouxamento dos limites orçamentários, revelando uma gradual substituição da inicial proposta econômica liberal, conforme defendida por Paulo Guedes, pela via do populismo econômico. No campo das reformas liberais nota-se retrocesso, com a interrupção da Reforma Tributária e da privatização de estatais. 

A adoção, talvez com outra designação,  da outrora famigerada  Bolsa Família  revela guinada pro-distributivismo dado a notável melhoria da imagem do Presidente após a distribuição do recente auxílio monetário anti-pandemia. O Planalto parece decidido a repetí-lo.

Porém, julgar o político e antever suas ações recomenda, também, a análise de sua personalidade. Suas preferências, sua instrução, sua zona de conforto psicológico, suas pulsões psíquicas, sugerem seu comportamento futuro. O bordão "Quem manda sou eu!" hábitualmente lançado através da imprensa escrita, falada e televisada pode revelar incontido autoritarismo.

Já se sabe que Jair Messias Bolsonaro tem dificuldade em lidar com a derrota. Como corolário, pode-se esperar sua negação dos resultados porventura desfavoráveis na próxima eleição presidencial. Não surpreenderia vê-lo seguir o comportamento exibido por Mr. Trump, seu alter-ego, igualmente negacionista.

Alastrando-se a pandemia, agora acentuada por nova cepa do vírus, onde as mortes se acentuam pari passu com as insuficientes  medidas  profiláticas do governo, cria-se ambiente de insatisfação com consequências políticas. 

Mesmo sob  vacinação em massa e a resultante queda de infecção pública, serão muitos os desafios econômicos. Se as classes mais favorecidas poderão colher substanciais benefícios na abertura das comportas consumistas imprudente será ignorar o déficit do emprego, o alto nível de endividamento pessoal e empresarial e público, a desestruturação da área imobiliária, todos estes de cunho depressivo. 

Ainda, o limite de gastos imposto constitucionalmente tolherá o recurso à medidas  anti-cíclicas de liberação fiscal. O recurso ao aumento de impostos, que aliviaría a pressão sobre o déficit e poderia conter ou reduzir o endividamento,  porém peca por ser anti-político, contrário ao objetivo eleitoral, este prioritário para o candidato`reeleição. 

Assim, em decorrência do provável desequilíbrio monetário, orçamentário e cambial, este último  afetado pela insegurança institucional alimentada pelo governo, surge a probabilidade de prolongada pressão inflacionária com impacto nefasto para as classes que compõem a base social. 

O quadro que se desenha não parece ser favorável às aspirações presidenciais.  

Seguindo esta linha hipotética, pode-se elencar suposições, estas sugeridas pelos fatos e comportamento conhecidos objetivando influir ou negar a vontade eleitoral. As ações abaixo descritos poderão ser acionados pelo atual Presidente e Comandante em Chefe das Forças Armadas para "corrigir erros e anomalias e os consequente resultados" porventura a ele desfavoráveis.

Uma notícia  relevante é transcrita abaixo. Surgiu há pouco dias na imprensa. Revela o que já se sabe. Jair Bolsonaro vem reforçando sua influência junto às instituições militares e policiais, emulando a experiência venezuelana. Lembra um velho adágio: "Os dois extremos se tocam." 

"Jair Bolsonaro participou de seis cerimônias militares e policiais só em dezembro. Foram formaturas de aspirantes das Forças Armadas, a conclusão do curso de delegados da PF e um evento de soldados da PM do Rio. Como bônus o presidente ainda visitou, no  início do mês, alunos de pós-graduação da Abin."

A este fato adiciona-se a relevante participação de militares, tanto reformados quanto da ativa,  em seu governo, abrangendo não apenas ministérios mas, também, agências e departamentos. Tanto as benesses do exercício do poder quanto os substanciais salários e benefícios disseminados pelos núcleos familiares que decorrem da distribuição de cargos públicos asseguram lealdade e obediência. Cria-se assim, uma nova casta político-administrativa. 

Já, como preparo para possível contestação de resultado eleitoral adverso, Bolsonaro já iniciou campanha para fragilizar a confiabilidade do atual sistema eleitoral, exigindo que comprovação escrita seja gerada para validar a apuração dos votos. Colocando em dúvida o sistema baseado nas urnas eletrônicas abre-se a porta para contestação e para nova e perigosa mudança nas regras do jogo.

Cumpre aos cidadãos brasileiros acompanhar atentamente o que vem por aí...