domingo, 5 de abril de 2020

A Política Externa pró Brasil

Para entender a bandeira do Brasil - Nossa Ciência


Além de ameaçar a saúde e a economia dos brasileiros o Covid-19 impõe uma reflexão sobre a política externa brasileira. Tem ela forte influência sobre como trilhará o Brasil ao arrefecer da pandemia e ao retornar-se à normalidade

Esta não será plena, uma vez que os efeitos do atual desmonte da sociedade se farão sentir por alguns anos. Afastada a ameaça à saúde restará a reconstrução econômica. Ao governo Bolsonaro caberá  assegurar que todos os fatores sejam mobilizados para acelerar  reconstrução econômica do país.

Para tal terá as opções tanto para iniciativas de cunho interno quanto e àquelas de cunho internacional. Sob a batuta do ministro Paulo Guedes pode-se prever que será mobilizado o instrumental   adequado para reverter o inevitável quadro recessivo que ora ameaça o país.

Desafios como o retorno aos níveis necessários de emprego, da recuperação do consumo das famílias, da capitalização das empresas, da fluidez dos mercados, da retomada dos investimentos, da estabilização da moeda, da restauração do equilíbrio orçamentário, da contenção da inflação, do reequilíbrio das contas externas, todos estes  estarão na lista das prioridades. Todos são objetivos atingíveis, mas não sem a participação dos atores internacionais.

Tanto o comércio internacional quanto o fluxo positivo de capitais externos serão essenciais à retomada da economia brasileira. Quanto mais eficaz a mobilização da boa vontade internacional, mais intensa e veloz será a recuperação e o alcance das metas desejadas.

O sucesso desta tarefa decorrerá, em grande parte, da habilidade na condução a política externa brasileira. A crise  que hoje assola o mundo, e o Brasil em particular, tem revelado comportamento variável de nossos parceiros além fronteiras, onde a convergência de interesses nem sempre está presente. Submetidos à recessão, os parceiros terão comportamento variável.

Dentre os fatores que regem o comercio, preponderá o grau de dependência  mútua. Dela decorrerá a formulação das prioridades. Nesta categoria se constata o comercio com a China; onde os  bens agrícolas e minerais lhe é essencial. Do lado brasileiro, o interesse em exportar tais produtos também nos é imperativo. Neste quadro, acresce o fato de que a China vem sendo, também, o maior investidor externo em empreendimentos locais, assim gerando empregos essenciais à recuperação que se aproxima.

Perturbar este equilíbrio virtuoso poderá ter por consequência nefasta a prazo médio. Lembrando a perda do domínio dos mercados de assucar, café e borracha, a singularidade do Brasil pode ser temporária. O fornecimento de carne, soja, minérios se manterá na medida que o fluxo seja confiável e lucrativo para ambas as partes. Em caso de frustração, o desenvolvimento por Pequim de outras fontes de suprimento é provável. Por exemplo, soja a ser plantada na África, cujo clima se aproxima do brasileiro, talvez alcançando produtividade semelhante, seria um desastre para nossa agricultura e balanço de pagamentos. 

Hoje a política externa brasileira está refém de objetivos ideológicos. Estes  não podem manter a relevância atual, pois são de cunho subjetivo e desequilibram o peso dos fatores essenciais à formulação dos interesses do país e de sua população. Seguindo esta linha, o país se torna dependente de "líderes" externos, estranhos, e mesmo antagônicos ao interesse nacional.

Ainda, impor ao Brasil a camisa-de-força ideológica pode se revelar contra-producente. Como exemplo negativo, uma aliança militar com os Estados Unidos, tal qual a ora vigente, pressupões tendência ao conflito e à exclusão de parceiros desejáveis. Tal aliança, de intrínseco  teor bélico, contamina a politica externa brasileira, levando-a  à asperezas diplomáticas contrarias à aos seus objetivos permanentes. Reduz a potencial multiplicação dos mercados.

Mas, também importante, será reduzir, no tempo, a dependência excessiva desta ou daquela nação.  Para tal, o quadro de parceiros desejados deve conter aqueles cuja conformação favoreça a complementariedade.

Hoje, Brasilia se indispõem com parte da Europa e não raro esgarça sua relação com a China. Na derrota do Virus, as portas do país devem permanecer abertas à todas as nações para privilegiar a recuperação de sua economia e o bem estar do povo, cuja penúria e sofrimento em breve atingirá seu climax. Não mais cabe o "luxo" de teorias exóticas e errôneas como o "terra-planismo"  que condena a solidariedade global.

O Brasil exigirá, nos próximos meses, pressa e eficácia e, sobretudo, bom senso.

2 comentários:

Joaquim de Carvalho disse...

Pedro
A China foi a primeira vítima de um vírus que até dezembro do ano passado era desconhecido, o coronavirus. Não era previsível que pudesse ser algo tão contagioso.
Graças a pesquisadores chineses já se sequenciou o DNA desse vírus, o que abre o caminho para se chegar a uma possível vacina.
Foram o chineses que contataram que, por enquanto, a única maneira de evitar a sua propagação exponencial é um rigoroso isolamento social – e isto eles fizeram. Foi assim que já conseguiram estancar a epidemia, restando-lhes agora tratar e, se possível, recuperar e dar alta às milhares de pessoas infectadas e internadas.
Já em janeiro, a diáspora chinesa na Itália, com suas frequentíssimas idas e vindas ao país de origem, contaminou italianos, principalmente no Piemonte e na Lombardia.
Em vez de informar imediatamente a sociedade sobre a gravidade do problema e orientar os cidadãos no sentido de proceder ao isolamento social, o prefeito de Milão começou uma campanha no sentido oposto, com o objetivo de preservar a economia da região. Entretanto, logo em seguida, alertado pela comunidade científica, o mesmo prefeito reconheceu o erro e, publicamente, pediu desculpas à sociedade. Mas aí já era tarde. Muitos lombardos e piemonteses, viajando pelo país, acabaram por contaminar praticamente a Itália inteira. Faltou coordenação entre os diversos governos regionais e prefeituras. Só agora o governo da república tomou a si o controle da situação, centralizando tudo no Ministero della Salute.
Com isto, segundo a imprensa italiana, o a epidemia começa a se estabilizar, com o número de infetados caíndo dia a dia.
Entre o final de fevereiro e o começo de março esses fatos eram noticiados no mundo inteiro, até no Brasil.
No entanto, o presidente Trump fazia pouco caso do “vírus”, uma simples gripezinha, no que era imitado por seu lacaio Bolsonaro.
O resultado é que o epicentro da pandemia mudou da China para os Estados Unidos.
Em vez de assumir a responsabilidade e pedir desculpas – como fez o prefeito de Milão – Trump, exibindo toda a sua velhacaria, lança covardemente a culpa sobre a China.
Quanto ao menino-de-recados-do-Trump, que é o Bolsonaro, vai sendo segurado por um dos poucos personagens decentes de seu governo, o ministro saúde, Mandetta.
Por isto mesmo Bolsonaro enche-se de ciúmes do Mandetta, humilha-o em público e a toda hora ameaça demiti-lo.
Nunca o Brasil foi governado por uma gentalha tão desprezível quanto os Bolsonaros (pai e filhos) e a maioria de seus ministros.
Abraço
Joaquim

pedro leitão da cunha disse...

Excelentes comentários e observações, Joaquim. Em muito valoriza este Blog.