Podem ser muitas as
críticas contra Donald Trump, mas jamais será dito que é burro. O
presidente, pelo contrário, exibe alto gráu de inteligência. Não
raro, muitas das decisões que vem tomando recentemente podem
parecer duvidosas senão nocivas, porém se inseridas no contexto de
sua ambição política em busca de reeleição é possível nelas
encontrar nexo.
O presidente que tem
diante de si o objetivo eleitoral, tudo mais parece irrelevante.
Enfrenta o desafio privilegiando dois vetores: um ativo, de teor
econômico, e segundo, passivo: defender-se do coronavírus.
No campo econômico
tem-se o modesto crescimento pré crise, onde o PIB apontava para um
crescimento de modestos 2,1% em 2020. Insatisfeito, Trump buscou
turbinar a economia ao reduzir a competitividade externa mediante
uma profunda revisão nos termos de troca vigentes com a China e
outros países.
A alta tarifária das
importações foi atingida, porém, ainda são indefinidos os efeitos
sobre a economia real, uma vez que o aumento no preço dos produtos
importados poderão, ou não ser compensados por uma maior
produtividade local. Dentre os países prejudicados por esta política
está o Brasil, “aliado especial” dos Estados Unidos, penalizado
em suas exportações de aço e minério e outros.
Considerando-se
vencedor no conflito comercial, viu elevada suas chances de vitória
eleitoral em novembro. Após ásperos diálogos, reconciliou-se com o
líder chinês, que poucas alternativas tinha para conter o colosso
norte-americano. O fluxo comercial caminhava para um novo normal.
Eis que surge a crise
do Coronavírus...
Quanto ao vetor
sanitário, de início, o presidente cometeu grave erro político ao
menosprezar a pandemia, contando que fosse ela tênue e passageira.
Tendo posto suas fichas no tabuleiro da expansão econômica,
anunciou que a partir de abril “America will be raring to go!”¹
Revelou ter desprezado a intensidade e a expansão do perigo apesar do
ocorrido em outros países. Por resultado acabou soterrado pela
escalada da contaminação, levando o país
à maior mortandade no quadro médico mundial. Assim, o presidente
expôs-se às críticas e à consequente fragilização eleitoral.
Face à nova realidade,
julgou necessário desviar-se do ônus político; joga a culpa em
Tedros Adhanon, o agora responsabilizado e demonizado presidente da
Organização Internacional da Saúde. Segundo Trump o Dr. Adhanon,
em conluio com a China, teria, propositadamente, subtraído informações
relevantes, assim impedindo o combate ao vírus.
Contudo, Donald Trump
parece ser o único mandatário no planeta que o acusa de de tal
malfeito, fato que fragiliza, se não anula, a veracidade da
acusação. Ao interromper a habitual contribuição norte americana para
o OMS acentua-se a fragilidade da saúde mundial.
Demonstra o presidente
Trump não somente a falta de limites em sua ambição,
como revela uma visão global refratária à solidariedade face ao inimigo comum. A prosseguir o longo rosário de retiradas de
organismos e tratados internacionais² ter-se-a o paulatino desmonte
da estrutura consensual e conciliadora essencial à paz mundial.
(1) “doido
para avançar”.
(2) Os
Estados Unidos, sob a atual presidência retirou-se do:
- Tratado de Paris – proteção do Meio Ambiente
- Tratado anti nuclear com o Irã
- UNESCO (organização internacional de cultura)
- Organização Mundial do Comércio (impede sua operacionalidade)
- Retira sua contribuição à Organização Mundial de Saúde
Um comentário:
Caro Pedro, mais uma vez brilhante comentário. Muito dele se aplica ao caso brasileiro, com a agravante que aqui a eleição será em 2022. Para sua consideração vou enviar-lhe o meu email de hoje "Mais uma pista da origem do COVID-19 a ser investigada" Abs. Luiz Fernando
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