quinta-feira, 16 de abril de 2020

Dois Vetores e Uma Eleição


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Podem ser muitas as críticas contra Donald Trump, mas jamais será dito que é burro. O presidente, pelo contrário, exibe alto gráu de inteligência. Não raro, muitas das decisões que vem tomando recentemente podem parecer duvidosas senão nocivas, porém se inseridas no contexto de sua ambição política em busca de reeleição é possível nelas encontrar nexo.

O presidente que tem diante de si o objetivo eleitoral, tudo mais parece irrelevante. Enfrenta o desafio privilegiando dois vetores: um ativo, de teor econômico, e segundo, passivo: defender-se do coronavírus.

No campo econômico tem-se o modesto crescimento pré crise, onde o PIB apontava para um crescimento de modestos 2,1% em 2020. Insatisfeito, Trump buscou turbinar a economia ao reduzir a competitividade externa mediante uma profunda revisão nos termos de troca vigentes com a China e outros países.

A alta tarifária das importações foi atingida, porém, ainda são indefinidos os efeitos sobre a economia real, uma vez que o aumento no preço dos produtos importados poderão, ou não ser compensados por uma maior produtividade local. Dentre os países prejudicados por esta política está o Brasil, “aliado especial” dos Estados Unidos, penalizado em suas exportações de aço e minério e outros.

Considerando-se vencedor no conflito comercial, viu elevada suas chances de vitória eleitoral em novembro. Após ásperos diálogos, reconciliou-se com o líder chinês, que poucas alternativas tinha para conter o colosso norte-americano. O fluxo comercial caminhava para um novo normal.

Eis que surge a crise do Coronavírus...

Quanto ao vetor sanitário, de início, o presidente cometeu grave erro político ao menosprezar a pandemia, contando que fosse ela tênue e passageira. Tendo posto suas fichas no tabuleiro da expansão econômica, anunciou que a partir de abril “America will be raring to go!”¹ Revelou ter desprezado a intensidade e a expansão do perigo apesar do ocorrido em outros países. Por resultado acabou soterrado pela escalada da contaminação, levando o país à maior mortandade no quadro médico mundial. Assim, o presidente expôs-se às críticas e à consequente fragilização eleitoral.

Face à nova realidade, julgou necessário desviar-se do ônus político; joga a culpa em Tedros Adhanon, o agora responsabilizado e demonizado presidente da Organização Internacional da Saúde. Segundo Trump o Dr. Adhanon, em conluio com a China, teria, propositadamente, subtraído informações relevantes, assim impedindo o combate ao vírus.

Contudo, Donald Trump parece ser o único mandatário no planeta que o acusa de de tal malfeito, fato que fragiliza, se não anula, a veracidade da acusação. Ao interromper a habitual contribuição norte americana para o OMS acentua-se a fragilidade da saúde mundial.

Demonstra o presidente Trump  não somente a falta de limites em sua ambição, como revela uma visão global refratária à solidariedade face ao inimigo comum. A prosseguir o longo rosário de retiradas de organismos e tratados internacionais² ter-se-a o paulatino desmonte da estrutura consensual e conciliadora essencial à paz mundial.

(1) “doido para avançar”.
(2) Os Estados Unidos, sob a atual presidência retirou-se do:
                         
        • Tratado de Paris – proteção do Meio Ambiente
        • Tratado anti nuclear com o Irã
        • UNESCO (organização internacional de cultura)
        • Organização Mundial do Comércio (impede sua operacionalidade)
        • Retira sua contribuição à Organização Mundial de Saúde



Um comentário:

pedro leitão da cunha disse...

Caro Pedro, mais uma vez brilhante comentário. Muito dele se aplica ao caso brasileiro, com a agravante que aqui a eleição será em 2022. Para sua consideração vou enviar-lhe o meu email de hoje "Mais uma pista da origem do COVID-19 a ser investigada" Abs. Luiz Fernando