sexta-feira, 22 de março de 2013





Dez anos de Iraq

Graças à uma perspectiva decenal, hoje podemos nos aventurar na análise dos benefícios alcançados por Washington a partir do início da Guerra do Iraque. Útil será nos lembrarmos dos objetivos Norte Americanos, declarados, implícitos ou velados,  ao iniciar o conflito que pretendia ser de curta duração e baixo custo:
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      1.  Em guerra relâmpago, capturar e destruir as armas de Destruição em Massa possuídas por Bagdá.
    
      2.. Desbaratar as organizações terroristas ligadas à Al Queda, em guerra declarada com os Estados Unidos
    
     3. Depor o Ditador Saddam Hussein, sanguinário quando necessário, afim de criar um Estado Democrático cujos valores seriam convergentes com os do Ocidente.
   
     4. Por sua centralidade geográfica, tornar o Iraque elemento de estabilização ou base de ação, militar e de inteligência, contra os vizinhos potencialmente hostis, tais como a  Síria e o Irã, que não se curvassem às imposições estratégicas Norte Americanas e Israelenses.

      5. Assegurar a estabilidade das alianças com as Monarquias Aliadas, tais como a Jordânia, a Arábia Saudita, o Kuwait, o Bahrein, e os Emirados, todos estreitamente vinculadas aos Estados Unidos, mediante governos ditatoriais, porém sanguinários somente quando necessário.

     6. Capturar, em benefício dos aliados na empreitada,  a produção petrolífera do país.

Hoje podemos pretender avaliar até que ponto a desiderata de Bush e Cheney foram alcançadas e a que custo, porém com a humildade de reconhecer que, com tantas informações soterradas nos arquivos secretos da CIA e do Departamento de Defesa, uma análise se auto limita pelos dados conhecidos.

Quanto às armas, basta uma palavra: Nada. Nem armas, nem terroristas, nem  Guerra Relâmpago. Se as armas não existiam, o relâmpago estendeu-se por mais oito anos. O Erário desembolsou  perto de três trilhões de dólares, e mais de 5.000 de seus soldados e mercenários foram mortos. À carnificina juntou-se  300.000 Iraquianos, sobretudo civis. Ainda, a débito desta aventura, contam-se 30.000 soldados americanos feridos, e outros milhares atingidos por desordem psicológica.

Este enorme preço foi pago sem, portanto, atingir o objetivo de criar-se um estado sob os padrões democráticos americanos e, muito menos,  estabelecer-se uma base eficaz e estável, convergente com os interesses do invasor. A captura de Saddam Hussein deu a Washington somente sua cabeça, separada do corpo quando enforcado. 

À sua morte seguiu-se o desmembramento efetivo do Iraque, que, pela análise histórica, somente uma ferrenha ditadura poderia manter unido um país tão artificialmente criado. Oscilando entre a mais fria “real politik”, e a proteção dos fracos e oprimidos, facilitou a retirada dos Curdos da família Iraquiana, e deu aos Sunitas a razão para tornar-se força desagregadora. Ao ver-se obrigado a conceder o acesso dos Xiitas ao poder, Washington, vitima de profunda miopia, não compreendeu que entregava ao Irã o trunfo da influência. Bush conquistou um país que deixou de sê-lo.

Ora, a extensão do desequilíbrio político hoje constatado no Iraque, torna impossível transformá-lo em base solida e confiável, despida que está de qualquer confiabilidade, anulando as ingênuas pretensões de cooptação daquele país para a esfera Ocidental. Longe de tranqüilizar as monarquias Árabes, sua proximidade com Teerã provoca inquietação, levando Washington à procura de planos alternativos, apoiando Israel incondicionalmente, e reforçando o apoio aos aliados da península Saudita, anti xiitas, onde vicejam os monarcas sanguinários, porém somente quando necessário. Distancia-se assim da sinceridade de propósitos quanto à defesa dos Direitos Humanos na região.

Porém , após tanta amargura e tanta frustração, restou a doce fragrância que traz o petróleo. À desconstrução da companhia estatal Iraquiana seguiu-se o parcelamento da principal riqueza Iraquiana. A presente produção de petróleo já supera a dos melhores dias do Governo  Hussein.  Hoje, perto de 3 milhões de barris  são produzidos diariamente, devendo atingir 6 milhões de bpd em 2020. Estima-se que 70% desta produção é compartilhada pelas grandes petrolíferas, dentre elas a Shell, a Exsson, BP, Chevron, Occidental  e outras empresas da aliança Anglo Americana. Já os chineses e demais nacionalidades detém a  exploração dos restantes 30%  da capacidade produtiva.

A invasão bem como o fracasso dos objetivos re-estruturadores ingenuamente planejados por Washington, não obteve sucesso ao pretender instalar uma democracia nos moldes Norte Americanos em país alienado culturalmente e fracionado por religião e território.  Teve por efeito potencializar a desconfiança que o Oriente Médio dedica a seus promotores. Perdeu-se sangue, dinheiro e toda uma política de aproximação com o povo Árabe e Muçulmano.  E tempo.

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