Dez anos de Iraq
Graças à uma perspectiva decenal, hoje podemos nos aventurar
na análise dos benefícios alcançados por Washington a partir do início da
Guerra do Iraque. Útil será nos lembrarmos dos objetivos Norte Americanos,
declarados, implícitos ou velados,  ao
iniciar o conflito que pretendia ser de curta duração e baixo custo:
.      
      1.  Em guerra
relâmpago, capturar e destruir as armas de Destruição em Massa possuídas por Bagdá.
      2.. Desbaratar as organizações terroristas ligadas à
Al Queda, em guerra declarada com os Estados Unidos
     3. Depor o Ditador Saddam Hussein, sanguinário
quando necessário, afim de criar um Estado Democrático cujos valores seriam
convergentes com os do Ocidente.
     4. Por sua
centralidade geográfica, tornar o Iraque elemento de estabilização ou base de
ação, militar e de inteligência, contra os vizinhos potencialmente hostis, tais
como a  Síria e o Irã, que não se curvassem
às imposições estratégicas Norte Americanas e Israelenses.
      5. Assegurar a estabilidade das alianças com as Monarquias
Aliadas, tais como a Jordânia, a Arábia Saudita, o Kuwait, o Bahrein, e os
Emirados, todos estreitamente vinculadas aos Estados Unidos, mediante governos
ditatoriais, porém sanguinários somente quando necessário.
     6. Capturar, em benefício dos aliados na
empreitada,  a produção petrolífera do
país.
Hoje podemos pretender avaliar até que ponto a desiderata de
Bush e Cheney foram alcançadas e a que custo, porém com a humildade de
reconhecer que, com tantas informações soterradas nos arquivos secretos da CIA
e do Departamento de Defesa, uma análise se auto limita pelos dados conhecidos.
Quanto às armas, basta uma palavra: Nada. Nem armas, nem
terroristas, nem  Guerra Relâmpago. Se as
armas não existiam, o relâmpago estendeu-se por mais oito anos. O Erário
desembolsou  perto de três trilhões de dólares, e mais de 5.000 de seus soldados e
mercenários foram mortos. À carnificina juntou-se  300.000 Iraquianos, sobretudo civis. Ainda, a
débito desta aventura, contam-se 30.000 soldados americanos feridos, e outros
milhares atingidos por desordem psicológica. 
Este enorme preço foi pago sem, portanto, atingir o objetivo
de criar-se um estado sob os padrões democráticos americanos e, muito
menos,  estabelecer-se uma base eficaz e
estável, convergente com os interesses do invasor. A captura de Saddam Hussein
deu a Washington somente sua cabeça, separada do corpo quando enforcado. 
À sua
morte seguiu-se o desmembramento efetivo do Iraque, que, pela análise
histórica, somente uma ferrenha ditadura poderia manter unido um país tão
artificialmente criado. Oscilando entre a mais fria “real politik”, e a
proteção dos fracos e oprimidos, facilitou a retirada dos Curdos da família
Iraquiana, e deu aos Sunitas a razão para tornar-se força desagregadora. Ao ver-se
obrigado a conceder o acesso dos Xiitas ao poder, Washington, vitima de
profunda miopia, não compreendeu que entregava ao Irã o trunfo da influência. Bush
conquistou um país que deixou de sê-lo.
Ora, a extensão do desequilíbrio político hoje constatado no
Iraque, torna impossível transformá-lo em base solida e confiável, despida que
está de qualquer confiabilidade, anulando as ingênuas pretensões de cooptação daquele
país para a esfera Ocidental. Longe de tranqüilizar as monarquias Árabes, sua
proximidade com Teerã provoca inquietação, levando Washington à procura de
planos alternativos, apoiando Israel incondicionalmente, e reforçando o apoio
aos aliados da península Saudita, anti xiitas, onde vicejam os monarcas
sanguinários, porém somente quando necessário. Distancia-se assim da
sinceridade de propósitos quanto à defesa dos Direitos Humanos na região.
Porém , após tanta amargura e tanta frustração, restou a
doce fragrância que traz o petróleo. À desconstrução da companhia estatal
Iraquiana seguiu-se o parcelamento da principal riqueza Iraquiana. A presente
produção de petróleo já supera a dos melhores dias do Governo  Hussein.  Hoje, perto de 3 milhões de barris  são produzidos diariamente, devendo atingir 6
milhões de bpd em 2020. Estima-se que 70% desta produção é compartilhada pelas
grandes petrolíferas, dentre elas a Shell, a Exsson, BP, Chevron, Occidental  e outras empresas da aliança Anglo Americana. Já
os chineses e demais nacionalidades detém a  exploração dos restantes 30%  da capacidade produtiva. 
A invasão bem como o fracasso dos objetivos
re-estruturadores ingenuamente planejados por Washington, não obteve sucesso ao
pretender instalar uma democracia nos moldes Norte Americanos em país alienado
culturalmente e fracionado por religião e território.  Teve por efeito potencializar a desconfiança
que o Oriente Médio dedica a seus promotores. Perdeu-se sangue, dinheiro e toda
uma política de aproximação com o povo Árabe e Muçulmano.  E tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário