domingo, 31 de março de 2013


50 anos do regime militar

Nem metade dos brasileiros hoje vivos testemunhou as condições e circunstâncias que levaram a Classe Média à deposição do Governo Jango Goulart e à instauração do Regime Militar. Poucos são os cidadãos de hoje que sentiram os desmandos próximos à anarquia daquele então, que prometiam transformar o Brasil num país estruturalmente pobre, dominado por radical ideologia que se revelou, com o passar dos anos, absolutamente incapaz de prover prosperidade a seus cidadãos.

Sem dúvida a democracia foi a primeira vítima desta transição. O autoritarismo, tênue no seu início, tornou-se progressivamente mais impiedoso na medida  em que os movimentos oposicionistas armados tornavam-se mais eficazes e agressivos. Resvalou o regime para além do prazo de correção de rumo, tanto político quanto ético, que se terminaria com o governo Castelo Branco após reformas políticas estabilizadoras. 

Seguiu-se uma desnecessária continuidade da ditadura desaguando no indesculpável uso da tortura como método de combate. A emergência dos movimentos de oposição armada foi inevitável, porém sua plataforma igualmente ditatorial propugnando, não o restabelecimento da democracia, mas sim o da  Ditadura do Proletariado, perdeu destarte o apoio da população brasileira, tornando-se fadada ao fracasso.

Os governos militares que se seguiram, obedecendo às exigências da “linha dura”, chegaram ao ápice da repressão em coincidência com o ápice da rebelião. De parte a parte houve matança e desrespeito aos direitos humanos, cabendo ao governo, contudo, por ser governo, o maior quinhão de responsabilidade. A partir dos generais-presidentes, Geisel e Figueiredo, arrefeceu-se a violência, chegando-se ao restabelecimento da democracia, sob a presidência de Tancredo Neves e José Sarney.

Mas que democracia temos hoje? Se no passado não se registra militares milionários, apesar do exercício do poder discricionário durante um quarto de século, que dizer dos políticos gerados na retomada democrática? Quantos milionários ilustram os quadros políticos sem que a origem de tais fortunas mereçam o conhecimento público?

Ditadura nunca mais, porém, igualmente, um basta à  “democracia  da impunidade”.

sexta-feira, 29 de março de 2013


Surprise !

Aos amigos francófonos segue artigo muito interessante do jornal financeiro parisiense, Les Echos. As comparações recomendam ajustes, levando-se em conta, por exemplo, o fato de serem de 2008 os dados sobre a Espanha, já não mais válidos tendo em vista a forte queda nos valores imobiliários daquele país. Porém, o mais relevante e surpreendente  parece ser a comparação entre a França e a Alemanha.

Les Echos, le 29 Avril 2013

Selon une étude publiée par la banque centrale allemande, et réalisée dans le cadre du système monétaire européen, les Allemands possèdent un patrimoine bien inférieur à leurs voisins, qu'ils soient français, italiens ou espagnols.

Concrètement, un foyer possède en Allemagne un patrimoine net de 195.000 euros en moyenne, contre 229.000 euros en France, voire 286.000 euros en Espagne. Mais le chiffre le plus important concerne peut-être le patrimoine médian : la moitié des foyers sont plus riches, l'autre moitié, moins riches. En Allemagne, ce montant s'élève à 51.000 euros, contre 114.000 euros en France, 178.000 euros en Espagne et 164.000 euros en Italie.

Comment expliquer une telle différence ? Premièrement, les chiffres masquent une réalité plus contrastée. Le patrimoine moyen dans les ex-Länder de l'Est n'est que de 67.000 euros alors qu'il dépasse 230.000 dans les anciens Länder de l'Ouest, qui, du coup, se rapproche de la moyenne française. Deuxièmement, le patrimoine comprend tous les biens, surtout immobiliers. Or, traditionnellement, les Allemands sont plus locataires que propriétaires. Le taux de propriété de la résidence principale s'élève à 44 % outre-Rhin contre 58 % en France ou 83 % en Espagne.

sexta-feira, 22 de março de 2013





Dez anos de Iraq

Graças à uma perspectiva decenal, hoje podemos nos aventurar na análise dos benefícios alcançados por Washington a partir do início da Guerra do Iraque. Útil será nos lembrarmos dos objetivos Norte Americanos, declarados, implícitos ou velados,  ao iniciar o conflito que pretendia ser de curta duração e baixo custo:
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      1.  Em guerra relâmpago, capturar e destruir as armas de Destruição em Massa possuídas por Bagdá.
    
      2.. Desbaratar as organizações terroristas ligadas à Al Queda, em guerra declarada com os Estados Unidos
    
     3. Depor o Ditador Saddam Hussein, sanguinário quando necessário, afim de criar um Estado Democrático cujos valores seriam convergentes com os do Ocidente.
   
     4. Por sua centralidade geográfica, tornar o Iraque elemento de estabilização ou base de ação, militar e de inteligência, contra os vizinhos potencialmente hostis, tais como a  Síria e o Irã, que não se curvassem às imposições estratégicas Norte Americanas e Israelenses.

      5. Assegurar a estabilidade das alianças com as Monarquias Aliadas, tais como a Jordânia, a Arábia Saudita, o Kuwait, o Bahrein, e os Emirados, todos estreitamente vinculadas aos Estados Unidos, mediante governos ditatoriais, porém sanguinários somente quando necessário.

     6. Capturar, em benefício dos aliados na empreitada,  a produção petrolífera do país.

Hoje podemos pretender avaliar até que ponto a desiderata de Bush e Cheney foram alcançadas e a que custo, porém com a humildade de reconhecer que, com tantas informações soterradas nos arquivos secretos da CIA e do Departamento de Defesa, uma análise se auto limita pelos dados conhecidos.

Quanto às armas, basta uma palavra: Nada. Nem armas, nem terroristas, nem  Guerra Relâmpago. Se as armas não existiam, o relâmpago estendeu-se por mais oito anos. O Erário desembolsou  perto de três trilhões de dólares, e mais de 5.000 de seus soldados e mercenários foram mortos. À carnificina juntou-se  300.000 Iraquianos, sobretudo civis. Ainda, a débito desta aventura, contam-se 30.000 soldados americanos feridos, e outros milhares atingidos por desordem psicológica.

Este enorme preço foi pago sem, portanto, atingir o objetivo de criar-se um estado sob os padrões democráticos americanos e, muito menos,  estabelecer-se uma base eficaz e estável, convergente com os interesses do invasor. A captura de Saddam Hussein deu a Washington somente sua cabeça, separada do corpo quando enforcado. 

À sua morte seguiu-se o desmembramento efetivo do Iraque, que, pela análise histórica, somente uma ferrenha ditadura poderia manter unido um país tão artificialmente criado. Oscilando entre a mais fria “real politik”, e a proteção dos fracos e oprimidos, facilitou a retirada dos Curdos da família Iraquiana, e deu aos Sunitas a razão para tornar-se força desagregadora. Ao ver-se obrigado a conceder o acesso dos Xiitas ao poder, Washington, vitima de profunda miopia, não compreendeu que entregava ao Irã o trunfo da influência. Bush conquistou um país que deixou de sê-lo.

Ora, a extensão do desequilíbrio político hoje constatado no Iraque, torna impossível transformá-lo em base solida e confiável, despida que está de qualquer confiabilidade, anulando as ingênuas pretensões de cooptação daquele país para a esfera Ocidental. Longe de tranqüilizar as monarquias Árabes, sua proximidade com Teerã provoca inquietação, levando Washington à procura de planos alternativos, apoiando Israel incondicionalmente, e reforçando o apoio aos aliados da península Saudita, anti xiitas, onde vicejam os monarcas sanguinários, porém somente quando necessário. Distancia-se assim da sinceridade de propósitos quanto à defesa dos Direitos Humanos na região.

Porém , após tanta amargura e tanta frustração, restou a doce fragrância que traz o petróleo. À desconstrução da companhia estatal Iraquiana seguiu-se o parcelamento da principal riqueza Iraquiana. A presente produção de petróleo já supera a dos melhores dias do Governo  Hussein.  Hoje, perto de 3 milhões de barris  são produzidos diariamente, devendo atingir 6 milhões de bpd em 2020. Estima-se que 70% desta produção é compartilhada pelas grandes petrolíferas, dentre elas a Shell, a Exsson, BP, Chevron, Occidental  e outras empresas da aliança Anglo Americana. Já os chineses e demais nacionalidades detém a  exploração dos restantes 30%  da capacidade produtiva.

A invasão bem como o fracasso dos objetivos re-estruturadores ingenuamente planejados por Washington, não obteve sucesso ao pretender instalar uma democracia nos moldes Norte Americanos em país alienado culturalmente e fracionado por religião e território.  Teve por efeito potencializar a desconfiança que o Oriente Médio dedica a seus promotores. Perdeu-se sangue, dinheiro e toda uma política de aproximação com o povo Árabe e Muçulmano.  E tempo.

sábado, 16 de março de 2013



Os que se foram e os que chegaram

Num espaço de duas semanas um homem abandonou a política, e dois outros assumem o poder máximo de suas comunidades.

De um lado Chávez morre, deixando saudades para uns e alívio para outros. Não era um homem malvado; pelo contrário buscava melhorar a vida dos humildes de sua terra, mas o fazia desrespeitando o conceito que temos de democracia, ignorando as regras do comportamento convencional, desrespeitando o que ensinam os compêndios sobre Economia, atropelando os adversários com surpreendente energia, sugando àquela que lhe dava saúde. Chávez herdou uma Venezuela de imensa pobreza e enorme riqueza. A primeira para muitos, a segunda para muito poucos. Há quem diga que até alface vinha de Miami; certamente é exagero, mas pouco produzia, e produz, aquele país vítima do mal uso do abundante petróleo,  que por décadas pouco beneficiou o povo. Pecou, ainda, por querer exportar seus ideais, nascidos da sua realidade e circunstância, para outras nações, de diferentes culturas e condições. Morre Chávez endeusado pelos seus pobres, execrado pelos ricos.

Já noutro continente, na velha Europa, observamos o surgimento de um novo Papa, Francisco I. Assume o Pontificado num ambiente cheio de suspeitas, onde a pureza da Igreja sofre as manchas da cobiça e da imoralidade. Tendo por inspiração a humildade e a generosidade de São Francisco de Assis, o que esperar deste nobre Argentino, Latino Americano, acostumado com a lide diária com a pobreza? O confronto entre seu sofrido Buenos Ayres com a opulência do Estado Papal haverá de trazer à tona a reflexão Franciscana. Os que o conhecem estimam que devolverá ao seu reinado o amor e atenção dos primeiros Papas ao povo Católico. Mas difícil é subestimar a inamovível força da Cúria cardinalícia, petrificada em suas benesses, suas conspiratas, suas influências que se distanciam da humildade ensinada por Jesus. Se a proporção de Católicos na Europa tende à estabilização, o mesmo não acontece no Novo Mundo, onde a deserção dos pobres para o movimento Evangélico reduz, dramática e continuadamente, a população católica da America Latina. Sem buscar na mensagem de São Francisco, o santo dos santos, escolha do pelo novo Papa como o rumo a seguir, só veremos a inapelável debilitação da nossa Igreja.

Do outro lado do mundo, ascende ao poder Xi Jinping como presidente da China que se moderniza. Enfrenta desafios imensos, sendo, talvez, o mais importante o estabelecimento do equilíbrio entre duas forças contrárias: a busca por crescente democratização por parte da nova burguesia chinesa, e a imperiosa necessidade de manter-se a ordem e o rumo estratégico desta nação de mais de bilhão de habitantes. Como conciliar o laissez faire que impele a economia chinesa com a proteção social imposta pelo dogma comunista? O fio da navalha está sob os pés do equilibrista Xi. Jinping para este ou aquele lado, e o impacto sobre o resto do mundo será determinante para a trajetória política das demais nações.

Foram duas semanas marcantes, que merecem reflexão.