segunda-feira, 21 de janeiro de 2013


A transformação norte-americana


A eleição de Obama, e sua recente reeleição, chama nossa atenção para as mudanças demográficas que ocorrem nos Estados Unidos. Expressiva maioria de latinos e asiáticos, aliados à 91% do eleitorado negro levaram à Casa Branca a antítese do poder WASP. Ainda, os jovens  de todas as raças viram em Obama um futuro mais sensível para com suas aspirações. Parecem, também, ter reconhecido os esforços de Obama para ampliar o acesso às universidades e a conseqüente mobilidade social.

De posse dessas informações, talvez caibam algumas especulações em torno do futuro próximo dos Estados Unidos da América do Norte. Pela segunda vez consecutiva, no período de quatro anos, o estamento WASP  foi incapaz de eleger seu presidente. E isto apesar da profunda crise econômica que ainda assola aquele país. A insistência dos republicanos, intimamente associados com a raça branca, ao defender o radicalismo social, isento de solidariedade política e fiscal, acentuou a clivagem que se torna, cada vez mais, ideológica e fracionária.

O surgimento do Tea Party com sua visão simplista onde o Estado deveria  tornar-se quase irrelevante, desaguou no distanciamento de interesses comuns necessários à amálgama de uma sociedade. Tal doutrina, que ignora o caráter social e solidário que cabe à nação moderna,  se implementada, teria mergulhado o país em profunda recessão. O corte do seguro de saúde amplo, a inexistência do auxilio desemprego, a erradicação do programa  de cupons alimentares teriam efeito devastador, tanto econômico como político e social. Contudo, não parece haver protesto quanto à generosidade dos subsídios, tanto agrícolas como industriais, que oneram, também, o erário.   

Nos últimos vinte anos o ganho real da classe média foi diminuto enquanto os 20% mais ricos hoje absorvem mais de 50% do acréscimo de riqueza anual gerada no país. Tal disparidade já vem se refletindo no acesso à educação superior e na conseqüente  perda de mobilidade social norte americana. Desmonta-se a teoria Republicana, onde todos tem a oportunidade de prosperar, basta querer estudar e trabalhar. Ora o estudo inferior leva ao emprego inferior assim gerando o circulo vicioso da desagregação da unidade nacional.

A observação da evolução da economia norte americana revela que a progressão do país depende de uma classe média, em processo de crescente prosperidade, através de política fiscal equitativa. Os avanços decorrentes da eliminação dos grandes gargalos, graças em boa parte aos “robber barons” do Século XIX,  num país que buscava a autonomia e pujança industrial concentrada em poucos, não mais se justifica. É hoje um culto post medieval, defendido pela post aristocracia. Pelo contrário, é e será o motor do Consumo, embasado na crescente classe média, que trará o melhor benefício àquela  nação americana.

O governo Obama pretende reverter esta tendência, mas encontrará no partido opositor tenaz resistência. O Partido Democrata defende cautelosa redução de gastos acompanhada de aumento de imposto restrito às camadas mais favorecidas, na busca da redução do mega-déficit. Já o Sr Boehner, líder dos Republicanos na Câmara dos Deputados, derrotado no embate do Precipício Fiscal, insiste na redução de despesas, centrado naquelas de teor social enquanto rejeita qualquer redução das ciclópicas despesas em armamento e subsídios.  Neste engessamento ideológico o país se aproxima de novo obstáculo fiscal, a elevação do teto de endividamento dos Estados Unidos.

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