A transformação norte-americana
A eleição de Obama, e sua recente reeleição, chama nossa
atenção para as mudanças demográficas que ocorrem nos Estados Unidos.
Expressiva maioria de latinos e asiáticos, aliados à 91% do eleitorado negro
levaram à Casa Branca a antítese do poder WASP. Ainda, os jovens de todas as raças viram em Obama um futuro
mais sensível para com suas aspirações. Parecem, também, ter reconhecido os
esforços de Obama para ampliar o acesso às universidades e a conseqüente mobilidade
social.
De posse dessas informações, talvez caibam algumas
especulações em torno do futuro próximo dos Estados Unidos da América do Norte.
Pela segunda vez consecutiva, no período de quatro anos, o estamento WASP foi incapaz de eleger seu presidente. E isto
apesar da profunda crise econômica que ainda assola aquele país. A insistência
dos republicanos, intimamente associados com a raça branca, ao defender o
radicalismo social, isento de solidariedade política e fiscal, acentuou a
clivagem que se torna, cada vez mais, ideológica e fracionária.
O surgimento do Tea Party com sua visão simplista onde o
Estado deveria tornar-se quase irrelevante,
desaguou no distanciamento de interesses comuns necessários à amálgama de uma
sociedade. Tal doutrina, que ignora o caráter social e solidário que cabe à
nação moderna, se implementada, teria mergulhado
o país em profunda recessão. O corte do seguro de saúde amplo, a inexistência
do auxilio desemprego, a erradicação do programa de cupons alimentares teriam efeito
devastador, tanto econômico como político e social. Contudo, não parece haver protesto
quanto à generosidade dos subsídios, tanto agrícolas como industriais, que
oneram, também, o erário.
Nos últimos vinte anos o ganho real da classe média foi diminuto
enquanto os 20% mais ricos hoje absorvem mais de 50% do acréscimo de riqueza anual
gerada no país. Tal disparidade já vem se refletindo no acesso à educação
superior e na conseqüente perda de
mobilidade social norte americana. Desmonta-se a teoria Republicana, onde todos
tem a oportunidade de prosperar, basta querer estudar e trabalhar. Ora o estudo
inferior leva ao emprego inferior assim gerando o circulo vicioso da
desagregação da unidade nacional.
A observação da evolução da economia norte americana revela
que a progressão do país depende de uma classe média, em processo de crescente
prosperidade, através de política fiscal equitativa. Os avanços decorrentes da eliminação
dos grandes gargalos, graças em boa parte aos “robber barons” do Século XIX, num país que buscava a autonomia e pujança
industrial concentrada em poucos, não mais se justifica. É hoje um culto post medieval, defendido
pela post aristocracia. Pelo contrário, é e será o motor do Consumo, embasado
na crescente classe média, que trará o melhor benefício àquela nação americana.
O governo Obama pretende reverter esta tendência, mas
encontrará no partido opositor tenaz resistência. O Partido Democrata defende
cautelosa redução de gastos acompanhada de aumento de imposto restrito às
camadas mais favorecidas, na busca da redução do mega-déficit. Já o Sr Boehner, líder dos
Republicanos na Câmara dos Deputados, derrotado no embate do Precipício Fiscal,
insiste na redução de despesas, centrado naquelas de teor social enquanto rejeita
qualquer redução das ciclópicas despesas em armamento e subsídios. Neste engessamento ideológico o país se
aproxima de novo obstáculo fiscal, a elevação do teto de endividamento dos
Estados Unidos.
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