Fábula diplomática
Eram 10 horas da manhã, do dia 7 de outubro de 2013. Neste
dia radioso,que só o Rio sabe nos brindar, o vôo 342 da American Airline pousou
no nosso tristemente decadente Aeroporto Tom Jobim. Pamela Smith, excitada e
radiante desceu a escada da aeronave, tropeçou no segundo degrau e pensou
“Calma, Pam, não é hora de torcer o pé”. Levando sua mochila seguiu os
intermináveis corredores que, por fim, a levava ao escrutínio da Polícia
Federal.
- Passaporte, por favor
Pam, como toda menina de 16 anos procurou o documento,
mergulhado no fundo de sua bolsa, misturado a um conjunto inacreditável de
objetos díspares. Finalmente o apresenta
ao sisudo guardião de nossa fronteiras.
- Qual a finalidade da viagem? Você só tem 16 anos, é menor;
onde está a autorização de viagem? Onde vai residir?
- Estou a passeio e vou morar na casa de minha tia, com
autorização de meus pais. Está tudo escrito nesta carta.
- Mas a carta está em inglês, não serve. Acho que Você
pretende ficar por aqui e, provavelmente, trabalhar ilegalmente. Não acredito
em Você.
Pamela pouco entendia o inglês truncado do Agente Teixeira,
mas compreendia que algo terrivelmente errado estava por acontecer. Porque não
haveriam de acreditar no que dizia. Afinal tinha o visto em situação regular, e
a carta explicava o resto. “Ai meu Deus, o que está acontecendo? Tenho que
buscar ajuda. Tenho que chamar minha tia.”
O policial chama seu superior e explica o sucedido.
- É assim, Dr. Flávio, não me cheira nada bem.
- Concordo Teixeira. Ela vai para a “salinha” e lá ficará
até ser encaminhada para a detenção em
São Cristóvão. Ah ,
não esqueça o procedimento, nada de
telefonemas. Fica incomunicável até a
remoção.
- Certo, Dr Flávio
O Agente Teixeira encaminha Pamela para a “salinha” onde
permanecerá com outros desafortunados até uma eventual liberação.
- Cuida desta aqui, Lorimundo, até a remoção. Nada de
telefone, certo?
Depois de dois meses no Centro de Detenção, com direito a um
telefonema quinzenal, limitado a cinco minutos, para a família, Pamela Smith
foi finalmente libertada. Dois policiais
a escoltaram diretamente ao Galeão, onde
o avião para o retorno da deportada
já estava na pista.
Difícil de acreditar, não é... E com razão. Na vida real Pam
pediria para telefonar ao Consulado
Americano, o que lhe seria concedido. Duas horas depois do susto estaria na
casa da querida tia, feliz e aliviada. O Cônsul, satisfeito por ter cumprido
seu dever ao proteger uma cidadã norte-americana, seria, posteriormente,
elogiado pelo seu chefe. Para coroar seu êxito, dias depois recebia um
envergonhado pedido de desculpas da Policia Federal. Final feliz
Já a estória real é bem outra. Aconteceu com uma moça chamada Verônica
Silva, e não Pamela Smith. Verônica tem 16 anos, e ao chegar à Miami, com seu
bom visto, sua cartinha em português e o endereço de sua tia mereceu a
implacavelmente burra aplicação dos “procedimentos “, aqueles que ignoram
transparência e respeito no trato humano, no cuidado com uma menina solitária.
Sem telefonema permitido, rumou para a prisão (denominada de “abrigo”), só
saindo depois de dois meses, de 1440 longas horas, para sua deportação.
Triste contraste. Onde estavam nossos excelentes diplomatas...como evitar tal mal trato a cidadã brasileira, menor de idade, sem que protesto
formal e público mereça imediata divulgação.. .sem que uma ação do Chanceler junto ao embaixador americano ocorra... não exigindo explicação de como
se pode prender sem crime... Tanta gente no Poder, podendo tão pouco.