Morando e estudando nos Estados Unidos por sete anos, em colégio e universidade, observei, com surpresa, o interesse limitado do corpo estudantil americano pelas questões internacionais.
É verdade que naqueles longínquos idos não existiam o computador e, muito menos, as redes sociais. Estes instrumentos de globalização, somente há pouco existentes, geram ativa polêmica, reação e protesto público.
Neste momento, a rebelião em pról dos Palestinos, corretamente identificados como vítimas de cruel e injustificável massacre, abre novo capítulo na crônica universitária americana. Tal indignação não se limita a estes estudantes, mas espalha-se mundo-a-fora contra o governo de Netanyahu. Em sua defesa, são muitos os que capitulam tal revolta como Anti Semitismo, não por erro de raciocínio mas sim por conveniência estratágica. Tal epíteto convém aos responsáveis pela crise humanitária ora em curso, por oferecer ao injustificável massacre dos Palestinos esta falsa linha de defesa.
Ora, o repúdio ao cataclismo despejado sobre dezenas de milhares de crianças e mulheres Palestinas nada tem de Anti-semítico. Trata-se, sim, de repúdio civilizatório contra atos capitulados como crime pela Lei Internacional.
No caso em questão não será admissível, na defesa de princípios morais e da lei da guerra, que os atos desumanos perpetrados tanto por Israel quanto, ainda que menor escala mas igualmente cruel, pelo Hamas, sejam tolerados.
Também relevante ao cenário, pesa, também, a nova e formal designação de Israel como Estado Judeu que altera o equilíbrio regional conquistado há décadas, e por criar barreiras adicionais à sua posição internacional. Do ponto de vista interno, vale a observação que tal mudança afeta a essência deste novo Estado. Assim fazendo, fragiliza o status dos não-Judeus, reduzindo-lhe direitos e identidade política, assim criando cidadãos de segunda classe com inevitável perda de significado político e, em decorrência, perda de competividade econômica.
Em profunda ironia histórica, de laico e moderno o Estado de Israel hoje abandona o movimento civilizatório do Ocidente, descarta a laicidade da Constituição para juntar-se à visão político-religiosa de seus vizinhos Árabes e Persas. Os Textos Sagrados, como aquele citado por Netanyahu para justificar a aniquilação em Gaza dos homens, mulheres, crianças e animais, citando escritos em passado bíblico milenar, reflete o perigo de tal caminho. Ter-se-á, possivelmente, um retrocesso cultural ao reduzir-se a laicidade, fonte de iluminismo do desenvovimento mundial.
Parece a este autor que tal movimento tectônico no Oriente Médio terá consequências criando para o Ocidente nova fonte de instabilidade e angustia.
2 comentários:
Excelente!
Perfeito.
Ignez
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