segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Futuro Incerto





No longínquo 2004 deu-se o início da decadência do futebol brasileiro. Após a conquista ímpar de cinco copas mundiais, o Brasil sofreu fragorosa derrota, quando a Alemanha balançou nossas redes por sete vezes, deixando-nos a dúbia honra de um solitário gol.

Sendo o Brasil o "país do futebol", onde, de fato, a população sofre intima relação emocional, sucessos e derrotas em disputas internacionais influem, de forma relevante, no psiqué dos brasileiros.  Desde então, nosso histórico exibe triste e decadente desempenho.

Infelizmente, os infortúnios do futebol se repetem no comportamento da economia brasileira. Conforme se observa nos Gráfico 5 e 6 preparados pelo IBGE. A partir de 2012 a economia brasileira patina dentro dos limites da mediocridade, refletindo crescimento apenas na exploração do que a terra nos dá: a agricultura e a mineração. Porém, pouco contribui a contida operosidade no âmbito industrial, conforme demonstrado. 

Observa-se que o início da estagnação da economia brasileira deu-se a partir da posse de Dilma Roussef, e assim prosseguindo até os dias de hoje. Tal contenção reflete a modéstia do primeiro mandatário bem como a anomia que vem afetando o Congresso, destacando-se a Câmara de Deputados, onde a qualificação dos parlamentares revela sensível redução das qualidades que caracterizavam seus antecessores

O salto demográfico nos últimos setenta anos, de 90  para 205 milhões de brasileiros, ainda que positivo ao longo prazo, desde que as prioridades sejam bem escolhidas, teve por efeito negativo à curto prazo inevitável. Face à insuficiência da estrutura escolar em acompanhar tal evolução, ao reduzir a qualidade acadêmica do eleitor, tal fragilidade submete-os aos apelos emocionais e, não raro, irracionais. Ainda, a resultante expansão para 54 milhões  de analfabetos e analfabetos funcionais, agrava o quadro eleitoral. 

Por consequência,  tem-se um aviltamento da qualidade legislativa e a qualidade administrativa da nação. Tal anomia só poderá ser revertida pela prioridade à educação popular. Como exemplo da insignificância que lhe atribui a política atual, constata-se  o incompreensível abandono da rede de escolas construídas no Rio de Janeiro durante o governo Brizola. Reflete a perda de referência quanto às prioridade demandadas pela cidade do Rio.     

O mesmo ímpeto é urgente às regiões brasileiras onde haja déficit escolar pois, a perdurar o índice de ignorância e indigência cultural que ora se observa, os Poderes da Republica serão gradual e irreversivelmente degradados, levando o país à crescentes crises políticas, sociais e econômicas.  Enquanto não existir a capacidade do Estado em educar sua população, assim preservando a qualidade do processo eleitoral, cabe o retorno à invalidade do voto analfabeto, assim reduzindo os currais eleitorais de triste consequência.

 

Gráficos elaborados pelo IBGE

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

O Planeta Inquieto

                                      

                                                                           

Se o planeta Terra tivesse uma força motriz, esta seria os Estados Unidos. Toda decisão sua tomada gera reflexos globais, seja para o bem, seja para o mal. A participação de seus exércitos contra as forças Nazistas, ainda que decidida após as heroicas e solitárias resistências Inglesa e Russa, assegurou a vitória final.

Como rescaldo, teve-se a reorganização politica do mundo, chegando ao fim desta etapa o gradual desmanche da União Soviética. A Paz estava assegurada, abriam-se as porteiras da prosperidade. Novamente, a preponderância norte-americana deu o tom; reinou solitária nas Américas. e na Europa. Cooptou nações e ilhas asiáticas do Japão, Filipinas, e Indonésia.

Contudo, o continente "amarelo" gerou continua contestação ao poder Yankee. O conflito Coreano e a guerra do Vietnam despertaram a atenção da China, até então pacifica e introspectiva, ao ver suas fronteiras potencialmente ameaçadas. Em ambos os casos os Estados Unidos sofreram derrotas. Rechaçados no Vietnam, e na Coreia do Norte graças à reação chinesa, coube à Washington lamber suas feridas.

Após décadas, vê-se a China emergir como potência, suplantando a debilitada Rússia, e redesenhando o quadro geopolítico do planeta. Seu ímpeto de crescimento, tendo por base a extraordinária escala de evolução acadêmica, o consumo, o investimento e a pesquisa em rapidez e proporções inegualáveis só poderá ser contido pela força ou atenuado pela concórdia. 

Constatando uma nova oportunidade, Beijing gerou novo "bloco" de nações de poder intermediário , congregando países da Ásia, Oriente Médio, África e América do Sul. Pouco peso militar terá, porém sua relevância política nos forii internacionais não deve ser desprezada. Estimulados pela indiferença político-econômica norte-americana, estes países vislumbram oportunidade de relevância até então desconhecida.     

Em conclusão, vislumbram-se duas opções: 1) erguer um quadro de respeito mútuo e de, até mesmo, parceria, ou 2) o recurso à confrontação. A segunda hipótese será de extrema complexidade. Um potencial conflito tradicional (não nuclear) traz fortes desvantagens para os Estados Unidos, face a sua distância do teatro de operações. Tal ônus tem como exemplo as derrotas sofridas em conflitos anteriores na região. Por consequência, até que ponto as alianças tradicionais perdurarão? Terá a Europa, beneficiada pelo substancial incremento comercial com a China, propensão à guerra? A mesma  pergunta se fará ao Japão, ameaçado pela curta distância dos foguetes chineses.  

Conforme diz a Esfinge de Gisé, que guarda as pirâmides egípcias: "decifra-me ou te devoro".


quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Moeda falsa



Esta coluna vem alertando aos que valorizam a higidez do mercado de valores bem como sua segurança no que tange a substância dos valores transacionados, preocupa o crescente movimento e ampliação do mercado Crypto, este sancionado por entidades privadas e, agora, públicas.  

Em impulso incontido e com a cumplicidade das autoridades pertinentes, o mundo financeiro mergulha no labirinto das "Crypto moedas" como se Moedas fossem apesar de não representar "Reserva de Valor", condição essencial à definição econômica de Moeda. Tanto a Securities and Exchange Commission¹ norte-americana quanto o Banco Central do Brasil recém validaram a formação de fundos de investimentos negociados junto ao publico investidor tendo por lastro títulos sem lastro. 

Em sua argumentação o Banco Central define a "moeda-crypto" como um Ativo Financeiro  porém, ao definir-se tal Ativo a presunção de Valor e Liquidez deve acompanhá-lo, fato que, por sua vez, exige um lastro quantificável,  assim evitando ser seu preço de mercado um mero encontro emotivo de demanda e oferta sem que represente um valor, ainda que variável, à guiá-lo. A prevalecer esta formulação, turbina-se seu potencial especulativo bem como o fator risco para seus investidores.  

À confirmar-se tal leniência das autoridades financeiras, cria-se condições para um potencial colapso destes produtos. Imprudente parece ser o estimulo concedido pelas autoridades financeiras do país. ao induzir a poupança pública a extremo risco. Nesta mesma linha de avaliação, reproduzo a seguir artigo divulgado em 12 de janeiro p.p. pela renomada Bloomberg sobre a matéria em questão:

"RIP, crypto chaos and gimmicks

It has to be a bittersweet day for Bitcoin believers. Not only are they expected to celebrate the industry's occupation by an institutional army with the debut of exchange-traded funds, but today also marks a serious diminishment of the role of what is best termed as inexplicable chaos in calling the cryptocurrency tune.

Just think about it. Now whenever Bitcoin bobs or weaves, people will have tangible reasons to explain why: exchange-traded fund flows. Where's the fun in that? Crypto's complete lack of fundamental drivers had been a major force for democratization, making everyone with a social media handle an expert on its swings. Now it'll be inflows this, outflows that -- the same drab pseudo-science spewed on Wall Street to give stocks and bonds a chimera of predictability.

Not that anything actually works -- just ask reporters who watched equities surge in 2010 when everyone and their mother was bailing out. But it's one more explanation than zero, the former sum total of believable reasons for moves in cryptocurrencies."


(1) Publicado em 11-01-2024 no Bloomberg: Regulators Approve New Type of Bitcoin Fund, in Boon for Crypto Industry




                                                                                                                                                                                        

sábado, 6 de janeiro de 2024

Nova Era


                                                                Desafio Planetario 


O ano de 2024 parece ser o portal para uma nova realidade, tanto para o Brasil quanto para o planeta que habitamos.

Do ponto de vista politico, constata-se o enraizamento de nova classe política, onde seus próceres não mais advém de uma elite econômica-cultural fruto de uma sociedade estável e de uma demografia regrada,  mas, sim, de contínua emergência de novas levas de eleitores com sensível redução da média  cultural. Por resultado tem-se a perda de qualidade eleitoral, agravada pelo voto obrigatório e pela franquia  do voto analfabeto.

Tal tendência o reflete, inevitavelmente, a diluição da qualidade do colégio eleitoral, refletindo-se no perfil dos eleitos, na escolha das prioridades políticas e na propensão à gratificação pessoal. 

Ainda, importante parece ser a perda da primazia introspectiva Católica face à emergência do dinâmico movimento Evangélico no Congresso. Levando-se em conta a queda da primeira em sua missão pedagógica, justo prever-se gradual alteração de conceitos e prioridades no quadro cultural brasileiro onde a influência reflexiva do Catolicismo europeu cede espaço ao ritmo vivaz da atuação Evangélica, tendo ela por base cultural os Estados Unidos onde tais vertentes cristãs surgiram e prosperam.            

Noutra dimensão, esta global, tem-se a iminente ubiquidade  da Inteligência Artificial.  Em progressão geométrica, ter-se-á um mundo em constante mudança, onde indivíduos, instituições e governos farão uso da nova "Lâmpada de Aladim", com todo os benefícios e perigos que dela decorrem.

Ainda, o crescente desequilíbrio climático promete perigosas consequências. Para enfrentá-la torna-se essencial a cooperação de todas as nações na adoção de políticas preventivas. Tal coordenação só será possível sob a orientação das Nações Unidas, ou instituição similar, com poder para o estímulo e punição.   

Quanto a reordenação do equilíbrio internacional, a manter-se o crescimento chinês em ritmo superior àquele das sociedades já sedimentadas,  caberá às duas maiores potências, Estados Unidos e China, optarem pela confrontação ou a conciliação. A primeira hipótese  traz consigo alta probabilidade de conflito ou chantagem nuclear com consequências apocalípticas; já, a segunda, poderá resultar em novo salto de prosperidade "urbi et orbi".  

Feliz 2024.


terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Contra-senso?


                        

Em surpreendente ballet de estímulos e desestímulos, tem-se a última decisão do governo Lula em prol (conforme declarado) do Projeto de Mobilidade Verde (MOVER) envolvendo carros elétricos e proteção ambiental.

O governo está correto em regulamentar e sofisticar a aplicação de recursos em estímulo que protejam o meio ambiente. Favorece, assim,  constante aumento de produtividade, abrindo mercados nacionais e internacionais, estes fortalecendo as reservas cambiais, fator essencial  à ampliação e sofisticação dos meios de produção, em circulo virtuoso para nossa economia.

Um setor que merece especial atenção envolve a queda do consumo de petróleo, hoje o "bicho papão" da higidez ambiental, ao substituir a frota  movida por seus derivados por uma nova equação, esta  dependente de força motriz elétrica. A pluralização de fontes desta energia, que abrange o Sol, o Vento a Maré  casa-se com a tecnologia de seu armazenamento que vem revelando veloz expansão de métodos e soluções.

Desta forma, já se valida esta substituição, iniciando e consolidando economias de crescente escala, onde o Brasil parece contar com forte vantagem competitiva graças à sua conformação e locação geográfica.

Assim sendo, presume-se que o esforço de reduzir a produção de automóveis movido por gasolina/diesel deveria merecer prioridade. Ledo engano. Em intrigante decisão o governo Lula recém decide financiar o projeto através um aumento de imposto sobre a importação de veículos verdes, tornando-os menos competitivos 

A notícia não revela aumento de imposto (já muito elevados) para a produção de veículos movidos à derivados do petróleo, assim protegendo-os da crescente competição com os recém chegados. Será a melhor estratégia, ou não temos pressa? Ou o lobby contestador foi forte o bastante?

"Jabuticaba"(¹) amarga. 

1) Só no Brasil