sexta-feira, 28 de julho de 2023

1984 ou 2024?



O diferendo que hoje atordoa o planeta teve sua origem em 2014, com o protagonismo de Hillary Clinton, então Secretaria de Estado norte-americana, ao enviar sua emissária, Victoria Nuland, a Kiev. Sua missão, a derrubada¹ do recém eleito (94 dias no poder) presidente pro-Russia, Victor Ianukovitch com pleno apoio norte-americano, teve por conclusão a instauração do presidente designado Petro Porochenko, hostil à Russia.  A partir de então, o futuro se escurece..

Hoje o planeta parece encaminhar-se para o conflito desenhado pelo notável escritor inglês, George Orwell, em seu livro "1984", onde o mundo se divide entre o Ocidente e o Oriente, arrastando-os à guerra sem fim. Emulando esta notável obra, tem-se hoje o Ocidente, formado pelos Estados Unidos e Europa, prestes ao conflito armado com as potencias orientais, Russia² e China.  

Na ficção, cada lado é dominado por um poder omnisciente sob a forma de um Big Brother, permitindo plena intrusão na vida de seus cidadãos, dobrando a realidade aos interesses de um mundo subjugado pela intrusiva inteligência artificial, esta manipulada pelos poderes dominantes.

Na Ucrânia tem-se nova fase no conflito. A ofensiva encetada por Zelenski não parece progredir. A se constatar tal situação, as forças Ucranianas sofrerão grandes perdas. Face à resistência russa, os Estados Unidos aumenta a aposta, recorrendo às bombas múltiplas,  condenado pelas Nações Unidas. Por sua vez, Moscou responde no mesmo tom, lançando mão à igualmente à proibida bomba de fragmentação. 

Porém, mais grave ainda, Washington anuncia carta branca ao bombardeio da Crimeia, território considerado  como seu pelos russos, sendo as bases navais de Sevastopol e Odessa essenciais ao seu domínio do Mar Negro. O quadro se torna mais sombrio face à ameaça russa de retaliação nuclear caso seu território³ seja atacado. 

Já, mais à Sudeste, e completando o quadro Orwelliano, o conflito diplomático e econômico promovido pelos Estados Unidos contra a China, como forma de conter seu crescimento econômico, joga lenha na fogueira geopolítica já acesa ao Leste Europeu.  

Este crescente boicote comercial e tecnológico é aguçado, ainda, pela crescente presença política e militar norte-americana no entorno da ilha de Taiwan, Tendo Washington promovido a "otanização" da Ucrânia contra a Russia, a mesma "receita" parece ser adotada no potencial conflito contra a China,  tendo Taiwan por estopim. Imprudente, Biden, ignora os sábios conselhos de Kissinger, ao fustigar Pequim através de crescente presença militar e política em sua fronteira, assim desenhando-se a transformação da ilha em elemento estratégico contra a segurança chinesa. 

Se ainda lá não chegou-se, torna-se cada vez mais provável que tal sequência de eventos possa levar o planeta à fratura bipolar.    

 
1) Ver o levante popular na praça Maidan em 2014
2) Apesar da Russia ser considerada Europeia, 2/3 de seu território se encontra na Ásia.
3) A Crimeia foi conquistada e anexada à Russia em 1777.  Khrushchev (nascido Ucraniano)  a presenteou à Ucrânia em 1964.


quarta-feira, 19 de julho de 2023

Demografia




O Censo de 2022 já gerou seu resultado. É um alerta para a má direção que toma a república brasileira. O grande quadro exibe um país com aumento populacional minguante, ou seja, 0,53% no ano em análise, enquanto uma enorme massa de brasileiros está alijada do sistema de saúde, do ensino e da alimentação regular. 

Em outras palavras, não só o Brasil está debilitado, porém mais grave ainda, caso não haja um forte reversão de tendência, os fatores recessivos  do país serão de difícil reversão. Tanto o segmento não produtivo dos idosos revela substancial aumento, quanto o segmento produtivo de jovens ingressando na economia demonstra preocupante redução relativa.

O retrato demográfico, outrora com nítido formato piramidal, revelando importante geração de jovens que viriam, no tempo, prover uma pujante base de sustentação e crescimento da economia, não mais ocorre. O que  hoje se constata é o estreitamento da pirâmide virtuosa dando lugar ao estreitamento da sua base (vide gráfico), bem como a ampliação do contingente idoso onde os jovens não mais demonstram sua largueza anterior. 

Razoável prever-se que este quadro manterá a tendência ora observada. Se acentuaria, ao longo dos próximos anos, tanto a redução de jovens (resultado da transformação cultural em curso) quanto o aumento dos idosos, este turbinado pelos contínuos avanços da medicina. Tal quadro prevê  a necessidade de ajuste para atingir-se o equilíbrio orçamentário, demandando  substancial revisão das prioridades hoje existentes.

Dentre elas se destaca a urgência a ser dedicada à educação da juventude carente. sendo o quadro agravado pelo enorme estoque de jovens funcional ou integralmente analfabetos. Para garantir o crescimento econômico e o equilíbrio político há que compensar-se a relativa redução no crescimento do segmento jovem, conforme revelado no Censo, com a crescente  qualidade da juventude ascendente, matéria prima imprescindível ao desenvolvimento nacional. Assim, urge a priorização da educação elementar e superior bem como a ampliação de sua infraestrutura.    

Também relevante é a constatação das diferenças  demográficas e econômicas dentre os Estados e seu impacto político no quadro nacional. O aumento de disparidade econômica fragiliza a solidariedade nacional com resultado negativo na formulação das políticas de Estado.  

Esta nova radiografia  da população brasileira recomenda uma atualização da inter-relação dos Estados que compõem o país, reavaliando as proporções de representatividade e de distribuição orçamentária bem como projetos de estímulo econômico ao setor privado. Tal ambiente, se não ajustado aos interesses permanentes da Nação, promete acentuar as diferenças de poder econômico e político das regiões mais prósperas, relegando as regiões menos favorecidas  à condição subsidiária, fragilizando o sistema federativo. 

Muito a fazer...

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Quo Vadis Bolsonaro


 


A inelegibilidade de Jair Bolsonaro muda o quadro político do Brasil ao transformá-lo de provável sucessor de Lula em peça incógnita no novo xadrez político.
Confrontado com esta nova realidade, terá o ex-Presidente a opção de exercer sua influência como "King Maker", usando seu acesso ao eleitorado e aos blocos partidários, associações de classe e sindicatos. Contudo, dificilmente terá sucesso pois nem sua imagem nem sua capacidade política parecem  estar à altura deste objetivo.   

Como alternativa, para viabilizar o projeto de retorno ao poder, essencial seria a recuperação de sua elegibilidade que, por sua vez, dependeria do apoio politico de fontes majoritárias. Tal cenário exigiria  o restabelecimento do diálogo entre  Bolsonaro e as maiorias qualificadas da Câmara e do Senado. Como complemento à conquista do apoio parlamentar, Bolsonaro poderá optar por liderar a contestação direta junto ao povo, usando sua importante munição nas redes sociais e sua capacidade de mobilização em comícios e manifestações populares. 

Porém, o passar do tempo é seu inimigo, pois o vácuo criado com seu afastamento vem beneficiando  as ascendentes lideranças, tanto de  Tarcísio de Freitas  quanto de Romeu Zema. Apesar de ligados ao Bolsonarismo, ambos vem revelando agendas próprias condizentes com seu entorno regional, porém defendendo, ainda que de forma mais atenuada, as noções de seu mentor.    

Contudo, os recentes eventos na arena política, onde se destaca a recente votação do Arcabouço Fiscal onde os extremos foram alijados por uma maioria de Centro, sugerem uma perda de capital político nos setores radicais. Também, conforme observado em recente divergência com sua cria, o governador Tarcisio de Freitas deve constatar que, ao longo do tempo, haverá um crescente conflito de interesses entre suas ambições e as amarras do Bolsonarismo.