sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Tempos Inquietos

 




"Since the Cold War, however, the United States’ military frontier has advanced much farther eastward. Regardless of how Russia’s brutal war in Ukraine ends, the United States has committed itself to sustaining a robust military presence on Russia’s doorstep. If alive today, Kennan would note the danger of cornering the Russians to the point where they might lash out. He would also gesture toward the United States’ multiple problems at home and wonder how this exposed presence in Eastern Europe accorded with the long-term foreign and domestic interests of the American people."

Foreign Affairs

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January 27, 2023



O texto acima aborda o perigo que deriva do atual conflito entre Russia e Ucrânia, citando as preocupações de George Kennan, extraordinário diplomata norte-americano e expert em assuntos envolvendo as relações de seu país com a então União Soviética. 

Importante notar, que este notável analista internacional, foi o primeiro a alertar o Presidente Eisenhower sobre o crescente perigo que a União Soviética trazia ao Ocidente, propugnando uma politica de  contenção vis-avis a expansão comunista. Porém, anos depois, voltava a alertar Washington para o perigo da expansão da OTAN em direção às fronteiras russas.

Sessenta anos transcorridos, em novo capítulo, se repete a antiga ameaça, o avanço das fronteiras da OTAN buscando a cooptação da Ucrânia.

Já falecido, Kennan não mais opina, porém tem-se por substituto o notável Henry Kissinger, profundo conhecedor das tensões e limites no jogo geopolítico.   Repete ele a advertência de seu antecessor, desaconselhando as políticas expansionistas de Washington e OTAN, alertando para o crescente perigo que tal estratégia encerra.

De volta  aos tempos atuais, em Setembro de 2021,Vladimir Putin perseguia junto à Washington, sem sucesso, garantias contra a cooptação da Ucrânia para a OTAN. Defendia a neutralização de Kiev,  seguindo os exemplos da Finlândia e da Suécia. Com a recusa norte-americana de respeitar o "status quo" da região, esta coluna, sob o título "Brinkmanship", previa a crescente probabilidade de violenta reação russa, lembrando quão imprudente seria encurralar um Urso¹.

Poucos meses depois, Putin, cai na armadilha habilmente urdida pelos Estados Unidos ao cometeu o sério erro político/militar de invadir a Ucrânia. Ainda,  confronta-se com inesperada resistência das tropas ucranianas, estas gradualmente reforçadas por armamentos de última geração provindos do  Ocidente. Cria-se, então, as condições para uma  imponderabilidade no campo político-estratégico da região, condição indutora de reações de parte a parte envolvendo crescente intensidade e violência. 

Assim, pode-se estimar que, caso as forças russas sejam rechaçadas na direção de suas fronteiras, deixando a integridade do território russo sob ameaça, pode-se prever uma revisão dos meios militares em uso no conflito.  Em consequência, ter-se-ia uma relevante reação das forças politicas e militares em Moscou, prenunciando mudança na estratégia e revisão dos riscos aceitáveis. Desde a escalada tático-nuclear nuclear no campo de batalha até, no âmbito político, a improvável substituição de Putin tornam-se possíveis, senão prováveis.

Neste quadro, relevante revisão estratégica não deve ser descartada, envolvendo, talvez, a entrada da Bielo Russia na guerra. Sua posição ao Norte da Ucrânia oferece importante vantagem estratégica, pois permitiria às tropas de Minsk o avanço na direção de Kiev e o consequente cerco das forças ucranianas hoje posicionadas ao Leste do país. Contudo, com o inverno chegando, a guerra de movimento se subordina às posições fixas a espera de melhores dias.

Já, do lado positivo, um aumento de intensidade do conflito poderá oferecer um ambiente  favorável à negociação de um armistício. A decisão ora cabe à Moscou e Washington.


1) O Urso simboliza a Russia



 

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