Ao terminar meus estudos secundários no exterior voltei para servir no Exército brasileiro. Foram oito meses de ordem unida e disciplina, muito exercício. Fiz boas amizades em todas as classes sociais mas não vi um só grã-fino na caserna. Tornei-me motorista de caminhão, transportando desde mobília de sargento em mudança, a holofotes antiaéreos. Dei três tiros com meu mosquetão Mauser e nada mais de cunho bélico. Mas fez-me bem. Nada de privilégios. Me endureceu.
Doze anos depois, em abril de 1964, acompanhado por quatro amigos, deixamos minha casa no Morro da Viúva e partimos com parco arsenal para o Palácio da Guanabara. Lá vi muitos grã-finos, armados e dispostos. Sob o comando do General Landim nos posicionamos nos muros do jardim a espera dos fuzileiros do Almirante Aragão. Não vieram; em seu lugar chegaram os três tanques do Capitão Etchegoyen. Final feliz.
Esta vivência deu-me grande apreço pelo Exército brasileiro, o que me faz abordar um assunto que me traz tristeza e decepção. Depois de terminado o ciclo revolucionário de '64, constatado o inevitável desgaste decorrente de anos seguidos no poder, coube às Forças Armadas voltar aos quarteis. Conforme a nova Constituição de 1988, lhe cabe proteger a Nação contra ameaça externa e, obedecendo a convocação do Presidente em exercício, na qualidade de Comandante em Chefe, conter movimentos armados internos.
Contudo, em 2019, com o advento de um militar na presidência da República, os últimos anos revelam uma crescente politização desta Forças Armadas, tendo por comandante em chefe um Tenente que, após condenado e levado a deixar o Exército por Tribunal Militar, teve sua sentença comutada tornando-o Capitão por aposentadoria.
Conquistando expressiva vitória eleitoral, Jair M Bolsonaro cercou-se de militares, na Vice Presidência e nos Ministérios bem como em dezenas de órgãos relevantes, assim gerando uma relação íntima e relevante com as demandas políticas, condição desaconselhável em processo democrático onde a preponderância civil é necessária. Bastaria um exame na composição política das grandes democracias hoje existentes para constatar-se tal evidência.
Já em 2023, tornado Presidente da República e Comandante em Chefe das Forças Armadas, Lula da Silva enfrentou nos primeiros dias de empossado uma rebelião de turba politizada, cuja ação fora possibilitada por nítida e inaceitável passividade no cumprimento des seus deveres por parte, tanto da Policia Militar de Brasilia quanto do Quartel General do Exército. Enquanto a primeira corporação permitiu a invasão da Praça dos Três Poderes já o Exército se recusou a desbandar os radicais encampados sob a ostensiva proteção do QG. Ainda, ordenou passividade perante a invasão ao Batalhão de Guarda Presidencial responsável pela segurança do Palácio.
Insuflados, financiados, atiçados por mensagem (em seguida apagada) do presidente derrotado insistindo na fraude eleitoral, e liderados pelas palavras de ordem de seus líderes radicais, deu-se a invasão inédita das instituições basilares da Nação.
Pois não venceram. Apesar do apoio recôndito dos inimigos da agora vitoriosa Democracia. Com atuação correta, o Presidente Lula da Silva, reunindo os líderes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal deu à Nação a visão de uma país que preza a liberdade e rejeita o autoritarismo.
Não menos importante, as grandes Nações estrangeiras reconheceram, com mensagens explícitas de apoio e solidariedade, a neutralização das ameaças sofridas, assim reforçando os laços que as une ao Brasil.
Um comentário:
Obrigado pelo comentário. Me é importante ter a opinião de meus leitores. Forte abraço para V. também.
Pedro
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