sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Faz de Conta



Existe uma nítida propensão à fuga da realidade na sociedade moderna, substituindo, gradual e paulatinamente, o mundo real em benefício de incursões cada vez mais profundas ao mundo do "faz de conta". O stress da luta pelos objetivos pessoais fundamentais em contexto de veloz mudança do seu entorno acentua o desgaste psíco-emocional, gerando a busca por alívio.  Dentre elas destacam-se o advento do MetaVerso e da Moeda Virtual. 

O MetaVerso cria riqueza do nada, ou melhor a pseudo-riqueza, ao gerar o comercio e o investimento de bens tornados valiosos pela mera vontade de qualquer indivíduo em "existir" na realidade paralela. Ao movimento jantam-se empresas que "oferecem" seu produtos, devidamente identificados, para o fim exclusivo de serem transacionados no ambiente virtual. Assim, bolsas do Hermes ou sapatos Louboutin trocam de donos mediante pecunia abstrata. Os aficionados garantem que casas e terrenos podem ser comprados e vendidos por moeda real.

Não bastasse este não-universo, tem-se a moeda virtual, cujo curso é real, alimentando comércio, investimentos e, até mesmo, poupança.  Do lado ativo, uma combinação de criatividade, audácia, e faro de sangue-dinheiro leva o homem-lobo à busca incessante de novas avenidas, nova carne, novo lucro; já, do lado passivo, tem-se o homem-cordeiro, levado pelos cães do dono aos currais da satisfação vicária, trazida pela combinação da tecnologia que dá à esperteza a pátina da respeitabilidade.

Esta adesão à realidade alternativa decorre, presume-se, de uma insatisfação de crescente segmentos das classes abastadas, onde o "cafard" procura o novo descartando o conhecido. Sim, uma vez que as classes necessitadas pouco tempo terão para incursões abstratas. Encontra o homem, então, a Moeda Virtual, uma abstração sem referência que guie a compreensão de seu valor. Tanto pode valer "Mil" quanto "Um", pois em ambos os casos sua essência se iguala. Sem parâmetro, sem referência, sem lastro serve para abrir porteiras para a inconsequência, para a fortuna, para a ruina.



E chega-se ao mais grave, onde a sociedade e suas instituições basilares paulatinamente se acumpliciam a este jogo de espelhos onde tudo é, e onde tudo, a qualquer momento,  pode não ser. A adesão de bancos conhecidos e poderosos, obedecendo à busca continua de lucro a despeito de valores fundamentais como a prudência, abrem departamentos, convocam minions, para gerir e explorar um não-ativo  que está "na moda".

Este "ativo" despencou de 60.000 dólares para 20.000 dólares sem que  hesitação houvesse. Queda vertiginosa de 66% em poucos meses.  Porque caiu tanto, quando as ações e os imóveis, caíram, pelas razão da alta dos juros internacionais, digamos 5 ou 10%? Porque, ao contrario de imóveis e ações representando valores reais, o "coin" nada vale intrinsecamente, assim revelando sua fragilidade. Vesti-lo com a respeitabilidade de uma instituição financeira parece ser grave erro. 


2 comentários:

Carlos Leoni Siqueira disse...

Pedrinho, estou de pleno acordo com você. A sociedade como um todo, baseada em propostas absurdas e de fato relativas ao que não existe, caminha através da escuridão ILUMINADA pelas falsas esperanças ou de que basta a vontade de cada crente para tudo virar realidade. Pior: na cripto moeda se escondem os recursos sujos, o dinheiro lavado dos crimes cometidos - e aí vale a máxima: o que vem fácil, vai também fácil. As perdas perdem significado e expressão. Quando vamos para com esses absurdos da criação da mente humana sem qualquer vínculo com os princípios que deviam reger os homens? A esperança dos que vêem a realidade cada vez mais se reduz, se encolhe.
Abraços
Leoni

Anônimo disse...

Pedro, muito interessante o seu comentário. Sempre me extasiei com a onda tecnológica, embora seja uma analfabeta virtual, mas nunca tinha pensado em como a sociedade está usando esta ferramenta para suprir a uma de suas mais antigas necessidades- a de se alienar da realidade.
Ignez