quarta-feira, 23 de março de 2022

A MARCHA DA INSENSATEZ




Preliminarmente, cumpre deixar claro que a invasão da Ucrânia, longe de beneficiar a Rússia, causou-lhe dano abissal, tanto político quanto econômico. Foi um erro colossal, desbancando  Putin de seu pedestal de grande estrategista. Levado pela provocação de Joe Biden, ao ameaçar a Rússia com a expansão da OTAN até suas fronteiras, o líder russo caiu na esparrela  fazendo jus à frase de Talleyrand¹,  " c'est pire qu'un crime, c'est une faute." 

Retrocedendo à 18 de dezembro de 2021, em artigo intitulado "Brinkmanship"¹ publicado nesta coluna,  descrevia as iniciativas agressivas então tomadas pelos Estados Unidos, que, se mantidas  correriam o risco de cruzar a "linha vermelha" que a Russia traçava para garantir sua segurança. 

Por erro ou por malícia, embasada na errônea tese do "expansionismo russo" como se a Russia atual da era Soviética ainda fosse, Washington mantêm a política de "Containment" propugnada por George W. Kennan em 1947 ! 

Despreza a realidade vigente, onde Moscou não mais mantem a capacidade ofensiva de outrora. As diferenças são óbvias:

 a) não mais existe o proselitismo da ideologia comunista como elemento propulsor. proselitismo social.         

b)  o atual PIB russo representa apenas 10% do americano, quando em 1980 representava 70%.                                                                                                                                                                

c) sua população foi reduziu-se em 50%, passando de 300 milhões para 145 milhões                

d) seu território se reduziu de 24 milhões de km² para 17 milhões de km² 

Hoje, a equação geo-política é outra, e as velhas estratégias não mais atendem o redesenho que o mundo atual demanda. Colidem com a prioridade econômica e comercial de integração mundial da qual todas as nações querem participar. 

Vive-se hoje funesto erro. Desprezando os alertas proclamados por Moscou, inconformado por grave ameaça a suas fronteiras pela presença da OTAN, Joe Biden, seja por incúria, seja por desígnio, persistiu na direção tomada assim provocando a prevista reação do adversário. Deu-se a guerra. Por resultado tem-se a queda no abismo das incertezas.


E eis a Rússia,  encurralada na política e na  economia sem que obtivesse, até o momento, qualquer benefício.  Pelo contrario, a justa indignação global em favor do povo ucraniano atinge nível que  em nada se parece com a indiferença para com o sofrimento de outros povos invadidos ao longo das décadas passadas. Hoje, Putin  não encontra uma porta de saída que não lhe dê, aos olhos do mundo, a fama de derrotado.

Já, para uso interno, Joe Biden desponta como o cavaleiro da armadura dourada, envolto na Stars and Stripes, seduzindo o eleitorado americano na busca da maioria parlamentar. Vinga-se, também, da pérfida Russia por ter revelado um pretenso envolvimento de seu parente na Ucrânia. 

Ainda, no cenário internacional,  estreita as relações com uma Europa que, paulatinamente,  se tornava mais distante.

E qual será o papel do lado perdedor? Em graus diferentes, Russia e China perdem importante espaço no xadrez internacional. A questão russa ainda não está resolvida. A Ucrânia abraçará a OTAN? O Kremlin aceitará um líder derrotado? 

Até que ponto irá a solidariedade da China para com seu parceiro ao Norte? E qual a posição de Pequim vis-a-vis uma OTAN em versão oriental. Taiwan será a próxima Ucrânia?   


1) Ministro de assuntos exteriores sob Napoleão I; Traiu seu antigo chefe quando do Congresso de Viena.
 



3 comentários:

Maggui de Broux disse...

Pedro, seu comentário é muito realista, nunca imaginei que chegássemos ao ponto de ver uma Rússia encurralada.
Temo pelo que vai vir!

pedro leitão da cunha disse...

Maggui, o conflito era inevitável, Biden e Putin em rota de colisão já faz tempo...

Cláudio Seixas disse...

Eu acredito que o mais perigoso será a volta da guerra "morna", não tão fria como a anterior ao desmanche da União Soviética r nem tão quente como essa guerra idiota e i aceitável, além de inútil, burra e absurda! Perdem a médio prazo todos, principalmente, Putin e Biden, além, é claro dos Ucranianos, mortos, expulsos e destruídos.