sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Milagre!

 



Há poucos dias ouvi uma excelente palestra sobre os milagres que o Bitcoin oferece ao universo financeiro. Ainda não me converti, mas está ficando cada vez mais difícil resistir às. fortunas prometidas, trazidas por...vento quente! (É como os norte-americanos chamam palavras vazias). Sim, por palavras e não por substância,  seja ela física, seja ela jurídica. Ao leigo, como eu, o Bitcoin  flutua sobre uma crença coletiva sustentada pelo desejo de lucro.

É uma espécie de dinheiro de Monopólio, que tanto jogava de jogar quando menino (será por isso que tornei-me banqueiro?) onde as notas valem por decisão temporária dos parceiros que compartilham  o mesmo objetivo:  o de enriquecer. Nada tinha a ver com o mundo real. Mas porque há o Bitcoin de valer, hoje, perto de US$ 50.000,00?  Porque, igual ao Monopólio,  faz parte de um jogo. Um imenso faz de conta onde os que assim desejam o aceita como valor real. 

Mas, existem razões para que a realidade seja assim manipulada? Vivemos uma época de incontida admiração pelo virtual, pelos bytes, pela explosão do "on line". Uma nova era baixou sobre os humanos onde ubiquidade  é confundida com infalibilidade. Traz no seu cerne uma nova espécie de crença semi religiosa, trazida por um "Deus ex Maquina". 

E, ainda, para dar-lhe respeitabilidade e credibilidade esta nova etapa da história humana é envolta em instigante mistério e com ele o glamour que leva à  veneração do incompreensível, fonte de novos e contínuos milagres. E, assim, está feita a conversão. O mais arraigado dos realistas sucumbe ao eletrizante canto do Bitcoin, envolto em sofisticada nuvem técno-mítica.

Mas dá uma certa pena dos laboriosos holandeses do Século XVI (1593 AD) que montaram jogo semelhante, transformando as tulipas em cobiçado ativo financeiro. Os armadores do jogo, respeitáveis batavos, decidiram que o bulbo da tulipa (não o insípido pen drive de nossos dias) merecia enorme valor. E assim aconteceu, sua gênese uma espécie de fiat lux (não confundir com o fósforo).  E a farsa durou vinte anos, testemunhando o nascimento e morte de  fortunas (quando não de seus proprietários)  extinguindo-se na segunda década do Séculos seguinte. Finalmente, o espectro da realidade pôs a ganância a correr.

Mas, não pense o leitor que o este observador preveja o fracasso do projeto Bitcoin. Não. A capacidade que o ser humano tem de enganar-se não tem limites.   


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