sábado, 5 de setembro de 2020

Reescrevendo a história

 


Reescrever a história tem sido, no passado atividade preferida de governos totalitários. Por um longo período do Século XX, o exemplo cabe à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.  Seus livros de história recebiam novas versões dos acontecimentos passados de acordo com interesse  dos donos do poder. Não foram poucos os casos que as fotos de pessoas caídas em desgraça eram recortados e reimpressas sem constar das atualizadas  fotografias oficiais. Não existiram.   

Trinta anos após a queda do império comunista o mundo depara-se com novo movimento global, onde fatos e personagens do passado são excomungados no altar do "politicamente correto".

Somente àqueles desprovidos de sentimento humanitário teriam simpatia pelo instituto da escravidão. Sem medo de errar, somente sóciopatas veriam mérito em tal sistema. Ainda, cabe à todo ser humano possuidor  de princípios morais e empatia humana e social rejeitar e condenar tão abjeta condição.

Mas tais pensamentos e valores não refletem o que ocorreu no passado. pelo contrário, desde os primeiros passos do homem no planeta o mais forte dominava o mais fraco, seja pela força, seja pela persuasão. Nos primórdios, o derrotado na guerra era escravizado. Com o passar dos séculos cada sociedade lidava à sua maneira, com maior ou menor crueldade.  Seres de todas as raças, brancos, pretos, amarelos, bem como as demais cores do planeta, foram, a algum tempo, escravizadas.

Como disse, com acerto, um renomado filósofo Ortega y Gasset, "somos todos escravos de nossas circunstâncias". Assim o julgamento feito no Século XXI, não deve ignorar ou desprezar as circunstâncias vividas nos séculos passados. 

A derrubada de estátuas, a eliminação de peças de museus, a censura de livros tidos como racistas ferem o que é mais importante, o conhecimento do passado, da história, que nos serve de base para entender tanto o presente quanto o futuro. O repúdio, ou não, cabe à mente soberana do cidadão. A atitude niilista, de censura à outrance, torna-se instrumento totalitário, onde a imposição do pensamento "apropriado" aprisiona o livre voo da liberdade   

Há muito o que combater nos dias de hoje. Que deixem o passado ser como foi criado pelos seus contemporâneos, com seus acertos, com seus erros.  Como aprender com a história se não mais a conhecermos? 

Às admiráveis mentes e forças de mudança que tenham por objetivo a melhora dos vivos e daqueles  por vir; deixem os mortos com seus erros. Existem, ainda nos dias de hoje, formas de semiescravidão, que persistem, não mais de forma explícita, mas através de castas informais e pela insensibilidade social de algumas práticas econômicas.. 

Alguma coisa parece errada quando persistem instituições republicanas contaminadas pelo abuso endêmico de suas vantagens subterrâneas.  Quando se fala em aumentar impostos sem, preliminarmente, eliminar os meandros fiscais que permitem a isenção virtual...   Nem sempre se observa o repúdio geral contra estas condições inaceitáveis. É um escárnio quando se fala em abolir a dedução dos gastos dos remediados em saúde quando práticas vigentes, aceitas e nocivas superam exponencialmente sua relevância fiscal? 

Não queridos e sinceros rebeldes e inconformados, lutem por melhorar o presente; não gastem sua energia com o passado.



2 comentários:

Isabel Boavista disse...

Nós somos a síntese desse passado. Não podemos negar o que nos torna indivíduos de uma épocas. Zerar a nossa própria história sob pena de matar o nosso Eu por meio da negação do Me. Pessoas que assim pensam e agem se auto implodem como humanos que são. Somos mil, nenhum, cem mil nos conta Pirandello.

Isabel Boavista disse...

Nós somos a síntese desse passado. Não podemos negar o que nos torna indivíduos de uma épocas. Zerar a nossa própria história sob pena de matar o nosso Eu por meio da negação do Me. Pessoas que assim pensam e agem se auto implodem como humanos que são. Somos mil, nenhum, cem mil nos conta Pirandello.