domingo, 30 de agosto de 2020

Metamorfose





A história começa com um jovem tenente que ameaça colocar uma bomba em algum lugar como parte de um  plano para aumentar o soldo dos militares. Este capítulo terminou mal, mas não tão mal quanto poderia ter sido; um tempo em prisão. Pelo contrário, de tenente virou capitão, por força de ter sido excluído do Exército. Em última análise foi beneficiado com uma promoção, apesar de grave falta,  para a qual nenhum esforço fez. Vá entender....

Depois veio o período legislativo, eleito Deputado Federal que foi, por parte suficiente do estamento militar. Parabéns,  Capitão. Após quase uma dezena de anos, o jovem político foi fiel à sua base, sempre propondo aumentos para a sua classe. Ao longo do caminho nada fez de substância, a não ser reações impetuosas e ofensivas quando confrontado.

E eis que a Providência lhe envia o grande presente de sua vida: Luiz Ignácio Lula da Silva.

A nação, desgastada e ferida pelos governos da esquerda inepta e cleptônoma partiu em busca eleitoral por um candidato que fosse o oposto do inconfiável Lula e da caricata Dilma. Basta de PT e congêneres...

Qual conto de fada, adentra o cavaleiro em reluzente armadura, levantando o estandarte da probidade pública, da pureza fiscal e do equilíbrio administrativo. Proclamando a higidez política que seu eleitorado buscava, o presidente declarou-se infenso às ambições mesquinhas de seus antecessores, recusando buscar a reeleição em prol de um governo centrado na urgente redenção política e econômica da Nação.

Tiro e queda! Com larga margem, Jair Messias Bolsonaro é eleito presidente da República! A classe média jubila, a elite se extasia, e com razão, pois chegara a esperança de racionalidade.

Mas os deuses pouca atenção dão às vãs esperanças dos simples mortais. Qual o deus grego Taranis, lançaram seu dardo, não como trovão mas como Pandemia. O desafio, já considerável, tornou-se inédito em sua intensidade. A sociedade, acuada pelo vírus, vê a avalanche de desafios sanitários e econômicos, clamando por liderança, denodo e competência.

Já Jair Bolsonaro, confrontado com as negras nuvens ameaçando seu futuro político refletidas na queda de sua popularidade em pesquisas, mudou o rumo, tendo por Norte garantir sua reeleição.

Buscando retomar a atividade econômica contida pelo "lockdown", entrou em negação, proclamou  ser o flagelo mera gripezinha, receitou remédios inapropriados,  desprezou o distanciamento social e o uso da máscara. Buscou um milagre que não se realizou. Confuso, preferiu enganar a remediar. Não mobilizou todo o arsenal que a presidência lhe confere. Em mensagem pública embaralhou a ação profilática, não coordenou, dentro dos limites da ciência e experiência internacional, a ação dos governadores e prefeitos. Pelo contrario, acentuou a desorientação popular, demitindo em série Ministros da Saúde por contrariarem suas visões panglossianas.

Mas não esmoreceu em seu projeto eleitoral. Surfando a onda distributivista imposta pela necessária assistência às classes mais pobres, o presidente constata o dividendo eleitoral que dela decorre. O Tesouro, mobilizado, veio à socorro. Transformando a outrora vilipendiada Bolsa Família, cria-se a Renda Brasil, esta sem, sequer, o benefício do vínculo escolar. Determina novas distribuições porém se aproxima do limite orçamentário, levantando a bandeira do alerta. Cria o Pro-Brasil, segundo ele um novo Plano Marshall, sem encontrar os recursos para sua realização.

Muito, senão tudo, indica que se aproxima a etapa final do desmonte do ministério dos sonhos iniciais de Jair Bolsonaro e o início da já conhecida era populista.. O desgaste crescente de Paulo Guedes parece indicar sua próxima substituição, pois é incompatível com a visão imediatista da nova aliança com o  Centrão fisiológico.

Estaria em jogo uma re-arrumação da base eleitoral; onde o apoio da burguesia favorável à disciplina orçamentária seria subordinado à conquista do lumpen-proletariado? A ver...






   

domingo, 16 de agosto de 2020

A temperatura aumenta

New Middle East railways map released by RAME UIC

Todo acordo que possa desarmar espíritos e atenuar tensões no Oriente Médio será sempre bem vindo pela comunidade internacional. Sob pressão (ou estímulo?) de Bill Clinton, um tratado de Paz foi celebrado entre Israel, de uma lado, e Egito e Jordânia do outro.  De fato, não mais houve guerra entre estas nações.

Hoje, foi a vez de Donald Trump,, artífice de acordo celebrado entre  Israel e os Emirados Árabes. Estes últimos, com o objetivo de atenuar o repúdio da população árabe face à  vilipendiada aproximação, buscou garantir a integridade do estado Palestino contra a anexação de suas terras por Israel.   Tal iniciativa mereceria aplausos desde que, efetivamente, desarmasse este contencioso.

Mas não foi isto que ocorreu; apoiado por Donald Trump, o primeiro ministro de Israel usou tática conhecida. Deixe o interlocutor se aprofundar na negociação e acreditar na aceitação de sua proposta para, nos momentos finais, retroceder. Confrontado com a mudança de posição, o Sheik Mahomad bin Zayed já se encontrava por demais  engajado com o presidente americano; retroceder seria embaraçoso e desmoralizante, criando hostilidade antes não existente. A contragosto aceitou a declaração de Netanyahu de ser o compromisso de respeitar a integridade Palestina apenas temporário, mantendo vivo o germe da discórdia entre os Semitas árabes e judeus.

Porém, perante a imprensa mundial, cercado de seus assessores o Presidente Trump não hesitou em declarar:

“This historic diplomatic breakthrough will advance peace in the Middle East region and is a testament to the bold diplomacy and vision of the three leaders and the courage of the United Arab Emirates and Israel to chart a new path that will unlock the great potential in the region,” ¹

A hipérbole presidencial parece infundada, tendo por objetivo  se auto-valorizar  Faz crer que a região torna-se pacificada quando uma análise isenta demonstra que nada mudou. Assim revela-se um acordo onde as razões de insatisfação prevalecem. A Palestina sob ameaça perene de desaparecer. Não é uma perspectiva pacificadora.

Contudo, o quadro que ora se cria é muito mais grave. Pode estender-se muito além destas fronteiras. Uma visão mais abrangente revela uma nova configuração e perigosa configuração geopolítica, trazendo à tona os ódios confessionais que tanto afligem a região. Uma análise sob o explícito, em busca do implícito, permite estimar-se que o acordo firmado, longe de tratar da questão Palestina visa, de fato, a contenção do Irã no Oriente Médio.

Assim, a razão indica que o acordo ora celebrado terá, em breve, a participação da Arábia Saudita e do Bahrein para, em inédita causa comum, amalgamar-se árabes-sunitas  e judeus. Razoável supor-se que a contensão do Irã pela mudança de seu regime venha a tornar-se prioridade. 

Já, as consequências geopolítica e militar que  derivam deste novo bloco de poder terá, possivelmente,  efeito desestabilizador no Oriente Médio, uma vez que nações antagônicas à estes objetivos venham a se resguardar do novo perigo. Do lado persa e de seu aliados pode-se esperar contramedidas, acentuando a probabilidade de escalada em lances recíprocos.

A concretizar-se tal cenário, outros países serão envolvidos neste contencioso.  A Turquia  não veria com agrado a formação deste novo bloco. Apesar de também ser majoritariamente Sunita, sua visão mais se apoia nos conceitos da Irmandade Muçulmana, movimento menos radical e mais político.  Sua extensa fronteira oriental e meridional com o Irã, Iraque e Síria seria fonte de sério desconforto em caso de acirramento dos ânimos. Hoje, as relações entre Ancara e Teerã são cordiais.

Quanto ao Iraque, país preponderantemente xiita, observa-se importante influência política e paramilitar iraniana disseminada através do país. Isto posto, Bagdá veria com preocupação a formação de tão poderoso bloco Sunita, potencialmente hostil, em suas fronteiras. A possível busca de proteção iraniana, irmãos de fé,  não deveria ser  descartada.

Porém os efeitos de tal conflito não se restringiriam, apenas, ao Oriente Médio. Tanto a Rússia quanto a China têm relevante interesse na atual integridade política do Irã. O primeiro, por situar-se o Irã no seu "under-belly"², fronteiriço aos "...estãos", membros da "área de colaboração" com a Rússia. A proximidade de forças hostis ao Kremlin às fronteiras de suas áreas de influência provavelmente provocaria sério desconforto.

Quanto aos interesses da China, o pleno acesso ao petróleo do Golfo Pérsico em geral, e ao Irã em particular, é essencial à sua sobrevivência, seja pela quantidade importada, seja pela diversificação de fontes de combustível. Qualquer tentativa de mudança de regime em Teerã, se colocado sob tutela norte americana, traria extrema preocupação a Pequim.

Toda atenção é pouca...


1) Entende-se que o um dos lideres homenageados seja ele próprio.
2) Parte vulnerável da Russia (o baixo estômago), composta pelos Afeganistão, Turquemenistão, Quirguistão, etc....

domingo, 9 de agosto de 2020

Esperanças e Temores

Um resumo dos 4 primeiros dias do governo Bolsonaro


O combate à corrupção  pela denominada Lava Jato, tomou conta da Nação. A cada processo, a cada inquirição, a cada julgamento, a cada condenação a grande maioria  do povo brasileiro se exaltava em júbilo. Até que em fim chegou a hora de acabar com a corrupção endêmica que afligia o Brasil. O combate ao rosário de crimes, a constelação de roubos dos cofres  públicos, o desfile dos poderosos até então impunes levava  o brasileiro à confiança no futuro e ao vislumbre de um novo país.

Um após o outro era encarcerado, não mais "fichinhas"  desimportantes;  as grades recebiam políticos orgulhosos por longo saque dos bens públicos, empresários endinheirados e acumpliciados com o poder se viam acompanhados pelo "japonês", inesperado símbolo asiático em terras tupiniquins.

E o reconhecimento, sim, o agradecimento àqueles jovens e corajosos procuradores e juízes, que contestando a tradição da criminosa tolerância,  decidiram derrubá-la.

Dentre eles, Sergio Moro, o juiz de imensa coragem, enfrentaram o até então invicto establishment, rompendo as barreiras jurídicas e políticas. Anteriormente protegida, a caterva  surpreendida, recuava, tergiversava, caluniava em busca desesperada por atenuantes. Porém o "Todo mundo faz" não mais tinha o peso de justificativa. O desnudar-se das Caixa 2 rompeu a opacidade que protegia o mal feito. O Brasil mudava, se iluminava pelo fim da impunidade, pela proteção ao erário, pela responsabilização do mal feitor.

Mas esse foi o primeiro Ato de uma peça de fim ainda desconhecido. Jair Bolsonaro, sustentado por  três colunas, Justiça sob Sérgio Moro, Economia sob Paulo Guedes e Política Externa sob Ernesto Araújo  deu início a seu governo com notável apoio eleitoral.

Passados 18 meses, sob o comando do Tenente², necessário se faz avaliar qual o estado da União? 

No que tange a Justiça, observa-se a tentativa de politizá-la e, por vezes,  subvertê-la.

- Demissão do Juiz Sérgio Moro, peça chave quando da eleição do Presidente;
- Dossiers sobre cidadãos opositores elaborados em sigilo;
- Politização da Polícia Federal e da ABIN;
- Escolha de Procurador Geral da União, ignorando a tradicional lista tríplice que busca isenção;
- Devassa nos processos da Lava Jato em busca de imperfeições jurídicas, assim favorecendo a      anulação das sentenças contra o ex-presidente Lula;
- Ocultação de suspeito de crime, procurado pela polícia;
- Aliança com o Centrão e o retorno às práticas políticas anteriormente criticadas, com abertura de    cargos administrativos em troca de apoio parlamentar.
- Acumpliciamento com a produção de Fake News.

Quanto à Economia, justo dizer-se que a ocorrência da Pandemia impede uma avaliação clara de sua condução. Contudo, a decisão estratégica de adiar-se a votação das reformas Tributárias e Administrativas ainda em 2019, quando o poder político do Presidente encontrava-se no ápice, não tem explicação convincente, a não ser a própria indecisão do Presidente.

Divergindo de suas iniciais  afirmações contrárias à Bolsa Família, Bolsonaro revela o pendor populista ao inverter sua posição, propondo o Renda Brasil, ainda mais generoso que o antecessor. Suas invectivas repetidas contra os "vagabundos", leia-se "pobres",  parecem esquecidas, tendo em vista o objetivo de captura maciça de eleitores.

Já na Política Externa, desfaz-se a secular construção de nossa respeitada imagem no exterior. O chanceler, Ernesto Araújo, discípulo do "filósofo" Olavo de Carvalho, teve seu nome secundado pelos filhos Bolsonaro. Dentre os diplomatas, a sua visão terra-planista mereceu o desprezo e antipatia das grandes nações Ocidentais.

O novo Itamaraty, sob novo comando, tornou-se fonte de constrangimento dentro e além fronteiras:

- Como represália às críticas francesas à política brasileira do meio ambiente, optou-se por insultar a Primeira Dama da República Francesa, cuja nação é berço da cultura Ocidental e grande investidora no Brasil.
- Perder importante contribuição financeira apoio da Noruega e da Alemanha ligada à preservação da Amazônia.
- Intervir nas eleições argentinas ao apoiar, ostensivamente, o candidato perdedor; não alertado pela derrota, acentuou sua intervenção criticando o presidente da Argentina (como coadjuvante, o ministro Paulo Guedes, ignorando o nosso importante comércio com aquele país, declarou "não precisamos da Argentina!".
- Emitir declarações ofensivas à China.
- Contrariar a clara posição da Organização das Nações Unidos, da qual o Brasil participa desde sua criação, ao defender o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel assim prejudicando as importantes  relações comerciais com os países árabes da região.
- Aceitou acumpliciar-se aos Estados Unidos no boicote à OMS, organismo crucial para as exportações brasileiras, abandonando sua participação em troca do apoio norte americano no ingresso à OECD não efetivado.
- Autorizou a importação isenta de tarifa sobre o Etanol norte-americano enquanto o governo Trump acabara de impor novas tarifas sobre a exportação de aço e alumínio brasileiro.
- Abriu mão de sua soberania ao permitir instalação de base de foguetes americana em Alcântara, aumentando sua vulnerabilidade externa.
- Designou e subordinou Oficial General brasileiro ao Comando Militar Sul do Exército norte-americano, onde o Brasil não participa das decisões.
- Apoia a decisão de Washington em vetar tradicional indicação de presidente latino-americano para  o Banco Interamericano.
- Celebra tratado militar com os Estados Unidos sem que sejam conhecidos seus termos.

A política externa deve cuidar dos interesses permanentes da Nação, evitando compromissos visando  benefícios pontuais e imediatos, porém contrários à conveniência de prazo mais longo. A aliança celebrada com o governo de Donald Trump bem exemplifica os perigos que encerram  esta opção. Atrelar o Brasil aos interesses inconstantes, temporários e voluntariosos de um mandatário externo pode representar sério risco à continuidade diplomática brasileira.

Quanto ao campo da saúde pública, tem-se a trágica anomia do governo ao enfrentar a pandemia. Não soube avaliar o perigo, nem soube coordenar os governadores em busca de comportamento uniforme.

Já, no Ministério da Saúde, a demissão sequencial de ministros, homens com preparo profissional para o cumprimento da tarefa, hoje substituídos por militar afeito à logística e não à saúde pública, fragilizou, em momento critico, a contenção do flagelo.

A intromissão pública do Presidente, alheio à ciência,  na seleção e recomendação de medicamento para enfrentar a pandemia reflete a irresponsabilidade no enfrentamento de tão dramático perigo sanitário.

A população, incentivada pelo exemplo presidencial descrevendo os efeitos do Covid19 como mera "gripizinha" (registram-se, hoje, cem mil mortes),  explicitamente desprezando as medidas preventivas de isolamento e o uso de máscara, favoreceu a aceleração na disseminação do vírus

São muitas outras áreas que merecem observação e preocupação. A desproteção ao Meio Ambiente merece repúdio nacional e internacional. A integridade da Amazônia está indissoluvelmente ligada ao futuro da nação. Nação agrícola por excelência, o favorável regime de chuvas  e a fertilidade de seu solo são essenciais ao seu bem estar econômico  .

A pasta da Educação já sofre o seu terceiro ministro sem demonstrar, até o momento, a que veio. Tentativas de ideologizar a estrutura do ensino e o currículo repete o erro, com sinal trocado, a nefasta experiência da esquerda.

A responsável pelo Ministério dos Direitos Humanos, Damares Alves, evangélica, prisioneira na estreita  e ultrapassada realidade puritana, tem por principio a intolerância à diversidade de gênero, realidade inconteste no quadro social e político. A adaptação aos padrões internacionais nesta matéria será inevitável face a inter-relação e interdependência hoje imposta pela realidade.

Apesar das insuficiências acima relatadas, restam ainda longo tempo para o governo Bolsonaro repensar seus erros e acertos, assim corrigindo o seu rumo.

A ameaça de retorno das lideranças de esquerda corrupta,  hoje encarceradas, ao pleno exercício político deve servir de alerta para a manutenção de severa postura do Judiciário face à criminalidade.
Colocar em dúvida a integridade jurídica de processos recém passados abre as portas à revisão e anulação de condenações passadas.

No campo econômico, conquanto auxílio às camadas mais pobres seja essencial face à pandemia, também importante ater-se à dosagem cuidadosa para que não se torne distributívísmo demagógico.

Quant à política externa brasileira, mais difícil será a correção de rumo, pois os fatores não são apenas endógenos, mas, sobretudo exógenos. Depende-se da percepção das demais nações sobre o Brasil, sobre o país que deverá agir segundo as convenções que regem as boas relações internacionais, negociando divergências e acentuando convergências estratégicas da Nação..

Pelo que vai acima, o Brasil enfrenta sérios problemas. Somente seus cidadãos poderão protegê-lo.

                                                             


sábado, 1 de agosto de 2020

Leapfrogging

La red 5G ofrece un futuro prometedor para las compañías


Theodore Roosevldt, no início do Século XX, deu grande impulso à presença global norte-americana. Seu lema era "Speak softly and carry a big stick". Hoje, Donald Trump alterou o lema: "Speak loudly and carry a limp stick."

No ocaso do Século XIX e início do XX, os Estados Unidos marcavam o novo Século com sua vitória sobre a Espanha, assim conquistou as Filipinas no longínquo Oriente, ainda colocando Cuba e Porto Rico sob sua tutela. Eram tempos gloriosos onde a Doutrina Monroe  validavam a interferência nos assuntos Latino Americanos mas vedando a presença extracontinental.

Já, Donald Trump, guindado ao poder apesar do voto popular minoritário, transformado em vitória pela alquimia do Electoral College¹, assume o poder em condições bem diferentes de seu longínquo antecessor. Após décadas de insucessos militares e guerras inconclusas², não mais podendo o Presidente acenar com o "Big Stick", resta-lhe  a opção, não mais do "speak softly", mas sim do grito e ameaças, traduzidas em sanções econômicas. 

Restabelecendo em seu governo a anteriormente abandonada intervenção explícita em assuntos pan-americanos, o embaixador norte-americano, desembarca no Brasil com singular mensagem. 

Em entrevista concedida ao O Globo, em 28 de julho, Todd Chapmen, abandonando a linguagem diplomática que deveria sugerir mas nunca impor, recorreu à uma frase impositiva, neo-colonialista e imprópria quando envolve dois países soberanos: "Se o Brasil escolher o sistema 5G da chinesa Huawey, haverá consequências".

Ainda, como justificativa do veto alegou tal opção "permitiria o roubo de propriedade intelectual de empresas americanas" assim fragilizando a segurança dos Estados Unidos. Ora, as comunicações de matriz e filial  não abrangem segredos de propriedade intelectual, estes sempre resguardados com o maior empenho nos labirintos jurídicos das Matrizes. 

O bom senso indica que a real razão por detrás deste pretexto é a política norte-americana de cercear, por todos modos possíveis, o desenvolvimento da China que vê como ameaça à sua hegemonia, seja, ou não, do interesse  dos países hóspedes. 

O Embaixador ainda apela pelos sentimentos "democráticos" da opinião pública brasileira, lembrando  o regime ditatorial chinês. Contudo, tais pruridos não impedem, nem ao Brasil nem aos Estados Unidos negociarem ativamente com países ditatoriais. A proximidade de Washington a Riad é bem conhecida, seja como peão importante no jogo géo-político do Oriente Médio, como o principal produtor de petróleo bem como o mais importante comprador de armas norte-americanas. 

A política externa brasileira tem por finalidade  zelar pelo interesse tanto econômico quanto político do Brasil. 

Se uma Venezuela, vizinha geográfica do Brasil, despreza suas obrigações democráticas, o Itamaraty levará em conta os perigos de tal proximidade e tomará medidas para sua proteção.  O mesmo não acontece, como é o caso da China separada do Brasil por oceanos, onde as relações comerciais não interferem na política interna das partes nem representam perigo para os interesses brasileiros. E assim ocorre com os demais países. 

Esta mesma visão política é compartilhada pela política externa norte-americana onde, na relação econômico-política, também segue seus interesse. Recorre, contudo,  à expressões "moralistas" quando lhe convém potencializar seus objetivos e não como elemento limitador.   Mr. Todd Chapman o faz neste momento.

Sob o ponto de vista do interesse brasileiro, necessário é enfatizar que Brasil constata queda abrupta em seu PIB nos últimos três anos, e, ainda,  vê ameaçado seu desempenho econômico nos próximos dois anos devido à epidemia.

Este acumulo de fatores negativos terão consequências indesejáveis no campo social e político, tendentes a favorecer a Esquerda. Neste cenário que se desenha, o Brasil não pode perder tempo. Não pode apenas depender de sua agricultura. Deve se aproveitar da geração de divisas que o campo nos traz para potencializar investimento em tecnologia de última geração, antes  que a concorrência o faça.  

Abrir mão, do hoje disponível 5G.  é perder tempo e substância econômica, é subordinar o crescimento e sofisticação na "indústria virtual" por razões que não nos dizem respeito. É curvar-se aos  interesses de outro país. Qual será o custo para a Nação por atrasar por uma ano ou mais o salto tecnológico de comunicação e computação?
          
Para recuperar o tempo perdido e para acelerar o tempo a ser ganho ao Brasil se impõe o "leapfrogging"³. O pulo por cima do atraso tecnológico para assim atingir-se o a última geração às nossas portas. O 5G, neste momento,  nos proporciona exatamente isto.



1) Sentido diferente do conceito de colégio eleitoral brasileiro 
2) Coréia, empate; Vietnam, derrota; Iraque, inconclusa; Afeganistão, inconclusa; Granada, vitória.
3) Leapfrogging é Pula Carniça em inglês.