sábado, 10 de agosto de 2019
Um grande desafio
O mundo está cheio de novidades, a maioria delas negativas, e o Brasil parece preso à esta corrente incontida de boas e más surpresas.
No campo interno, tem-se a regozijar a passagem praticamente assegurada da reforma da previdência. Parabéns presidente!
Porém, no combate à corrupção, a direção parece inverter-se. O projeto anti crime de Moro parece engasgado no Congresso sem que a base governista venha em seu socorro. Ainda, na esteira das revelações de dados capturados pelo COAF, até então subordinada à Receita Federal, onde o filho do presidente se vê envolvido, porém recusando-se a prestar esclarecimento à Justiça. Em decorrência, observa-se movimentação política nos mais altos escalões da República visando deslocar o comando do orgão para setores menos eficazes e visíveis.
A fritura do paladino da Lava Jato parece ter começado. Será o adeus às "mani pulite", imitando-se a triste trajetória italiana? A fisionomia do ministro Moro está cada vez mais sombria.
No campo do Meio Ambiente e preservação do Planeta e do Brasil, o governo parece retroceder, onde rejeita-se as observações apolíticas dos orgãos técnicos. Cabeças rolam. Já, segundo segmentos importantes do governo liderados pelo Ministro Salles, os satélites parecem tomaram partido contra a exploração econômica da Amazônia. Em suma, defende-se o benefício imediato, desprezando-se a consequências devastadoras para filhos e netos.
Já no cenário externo, não são poucas as preocupações. A primeira delas diz respeito à aparente ausência do Ministro das Relações Exteriores no debate que aborda o nosso trato com as demais nações. O Itamaraty parece estar sendo levado de roldão pelas iniciativas que emanam do primeiro mandatário.
A julgar pelas notícias que nos chegam, o Brasil vem abandonando sua postura que até o presente favorecia o multilateralismo. Este, lhe abre mercados e influencia politica através do planeta. Ora, a política tradicional acima descrita tem na diversidade de suas exportações e dos investimentos multinacionais recebidos os benefícios da diversificação e redução de risco. Também relevante tem sido seu excelente trânsito e atuação nos vários orgãos que compõem as Nações Unidas e outros internacionais como a FAO, a OMC, o Acordo de Paris.
Encontra-se, agora, o Brasil redirecionando sua política para a órbita norte americana. A recém aliança "extra-OTAN" com os Estados Unidos da América do Norte revela o abandono de uma neutralidade, iniciada após o colapso da Guerra Fria. Resta saber quais são as obrigações mútuas assumidas pelos dois contratantes.
Foi revelado que o governo brasileiro terá acesso à compra de armas norte-americanas e o financiamento para tal. Ainda, terá acesso à tecnologia militar e manobras conjuntas das duas forças armadas. Necessário será adequar-se tal comercio de armas face à penúria orçamentária e o excessivo endividamento que pesa sobre o erário nacional.
Quatro outros aspectos devem ser levados em consideração:
1. O uso de material bélico vendido pelos Estados Unidos está sujeito ao veto no seu uso, conforme objetivos da política externa norte-americana.
2. O custo de tal material é bem superior aos outros competidores internacionais.
3. O passado tem revelado que nestas transações não existe transferência de tecnologia. A última concorrência para a compra de caças para a Força Aérea Brasileira revelou a negativa de Washington para esta transferência.
4. Pelo contrário, Washington pressiona Brasilia a abandonar tecnologia brasileira no enriquecimento de urânio, tentando impor cláusula adicional ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Para o Brasil tal enriquecimento é importante para fins pacíficos e para limitados fins militares tais como motores de propulsão naval.
Ora, sendo o tratado de cunho militar, e estando os Estados Unidos envolvidos em inúmeros conflitos internacionais, torna-se relevante avaliar-se qual o potencial envolvimento do Brasil. Os confrontos no Oriente Médio geram alianças e relações que não são replicadas nas duas chancelarias. Tanto na questão do Irã quanto na questão Israel-Palestina a posição brasileira é de pleno diálogo, tanto político quanto comercial. Esta posição neutra protege nossas relações na região. Distanciado dos conflitos que engendram o terrorismo radical árabe, deverá Brasilia evitar ver-se envolvida nestas questões cujo desdobramento poderá ser contra seus interesses de segurança.
Já no campo comercial, a questão é da mais alta relevância. O Brasil tem por principais parceiros comerciais e financeiros a China, a União Européia e os Estados Unidos. O interesse nacional é claro: manter e ampliar o status quo, sem sacrifício de quaisquer dos parceiros existentes.
Ocorre que, sob a presidência Trump, uma guerra comercial internacional foi deslanchada. Ainda, não deve ser ignorado que o atual governo americano tem revelado desrespeitar tratados assinados. Nada indica que tal comportamento não se repita; pelo contrário, tudo indica representar ele comportamento tático habitual, criando situação de risco relevante para o Brasil.
Qualquer desvio da posição brasileira, politica e comercialmente imparcial, poderá redundar em sério prejuízo tanto para o presente quanto para o futuro da Nação. O acordo comercial recém assinado com a União Européia, de alto interesse nacional, depende para sua implementação de convergência das chancelarias envolvidas.
Contudo, o aliado norte-americano, em resposta surpreendente e contrária à associação Mercosul-UE, instruiu a USTR (1), responsável pelas negociações internacionais dos Estados Unidos, para que alerte Brasilia para a existência de "armadilhas" no tratado em questão. Infere que um tratado comercial Brasil-Estados Unidos a ser proposto seria incompatível com aquele firmado com a Europa.
É um momento importante para a história, do país e da diplomacia brasileira. O mar revolto que neste momento define as relações internacionais em geral, e para o Brasil em particular, clama por um Itamaraty alerta, lastreado em sua centenária experiência. Tratar com o gigante americano requer habilidade, maturidade e conhecimento. Fazê-lo sem desconstruir o que já foi conquistado é essencial.
(1) United States Trade Representative
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
PREZADO,
Sua tese sobre nossa relações Internacionais me parece correta, sem reparos, não obstante, no que concerne à Contra-Reforma da Previdência está eivada de equívocos grosseiros, que vão desde o desmonte da repartição das contribuições dos inúmeros entes envolvidos na relação previdenciária entre empregados e patrões, assim como as oito fontes de receitas asseguradas pelo art,195 da CF/88 que conferem à Seguridade Social potência necessária para efetuar os pagamentos a todos os brasileiros chegados a idade não laboral, cumprindo o preceito cidadão do direito canônico da boa partilha e da comunhão cristã da qual o Brasil sempre fez parte tanto como aprendemos no Padre Antônio Vieira nas aulas de religião ministradas pela eminente Profa.Elza Wernwck da qual o ILmo. Sr deve ter assistido com atenção e regozijo, que nos ensinou os dogmas jesuíticos de Cristo Nosso Senhor. Não terei aqui tempo suficiente para explicar o quão danosa essa Contra-Reforma é-nos perniciosa, recomendo um vídeo da Maria Alice Fatorelli, que ela explica a Crise fabricada pelos Bancos Centrais para beneficiar o Mercado Financeiro Internacional. Cristo nos ensinou a não negociar a verdade por isso resolvi escrever estas mal traçadas linhas ao Ilmo. ex-colega de Colégio, como um amigo,um irmão, que costura alianças pelo mundo afora em externar o que realmente pregava aquele que a todos encanta, Jesus Cristo, na sua materialidade cidadã ecumênica telúrica prevista até o fim do mundo.
Um jesuíta na estrada.
Obrigado, Marcio, pelos comentários. Quanto à reforma da Previdência ela se torna necessária tendo em vista o desequilíbrio orçamentário, hoje estrutural, em boa parte graças ao excesso de distributivismo ao funcionalismo governamental pelos governos passados. Estamos quebrados, só nos resta tomar o remédio.
Postar um comentário