sábado, 30 de março de 2019

Curtas - Russos e Caminhões

Dois tópicos abordados pela imprensa parecem merecer importância, assim, este Blog abordará, de forma suscinta, cada um deles.

O BRASIL ENTRE DUAS POTÊNCIAS

Tropas Russas desembarcam na Venezuela! Este foi o clamor estampado nos jornais. Mas parece importante ressaltar que se trata da entrega de mísseis anti aéreos S300 e S400 acompanhados pelos técnicos militares encarregados da instalação do equipamento. Trata-se de um alerta aos eventuais raides aéreos empreendidos pelos inimigos do regime Maduro  Ou será apenas isto?

Esta intromissão indesejável da Rússia, frontalmente contra os interêsses do Brasil,  no cenário sul americano demonstra claramente os perigos que envolve abrir as portas do continente para as disputas dos poderosos, no caso Rússia e Estados Unidos.

Neste caso, Wladimir Putin, mestre exadregista, está dando o troco da participação de Washington, ora em curso, de instalar a OTAN na Georgia. A permanência deste país na condição de "estado tampão" não alinhado é crucial para a segurança da Rússia. Daí o "xeque" (não mate) na Venezuela ser um desdobramento esperado.

Este episódio acentua a necessidade do governo Bolsonaro de cuidadosamente avaliar os riscos envolvidos em alianças, onde as consequências podem causar grave danos à segurança nacional. Necessário separar os nossos interesses vitais daqueles dos Estados Unidos e de seu presidente.

CAMINHONEIRO E SEGURANÇA NACIONAL

Observa-se que os caminhoneiros, privados e empresas, cogitam deflagar nova greve geral. Se tal ocorrer, o dano ao Brasil e o novo governo abrangerá o econômico e, em seguida, o político.

No episódio anterior, o PIB brasileiro sofreu queda expressiva e a incapacidade do governo em, seja evitá-la ou combatê-la, o enfraqueceu a ponto de interromper as reformas  em andamento.

Conforme observado na occorrência anterior esta greve atenta contra a segurança nacional, merecendo tratamento legal compatível com a ameaça.

Cabe, assim, ao presidente Bolsonaro e aos setores de segurança  identificar as medidas preventivas e corretivas caso eclôda a greve. Contrariamente ao anteriormente ocorrido, convêm o urgente posicionamento de forças dissuasórias nos pontos estratégicos da malha rodoviária, intensificando o seu patrulhamento. Especial proteção deverá ser dada aos pontos de escoamento de combustível e outros bens estratégicos.

Quando impositivo, a malha ferroviária deve ser acionada para evitar estrangulamento estratégico, o mesmo se aplicando à malha aéroviaria. Ainda, o acompanhamento dos movimentos grevistas por elementos da inteligência  policial e militar é necessário.

Esperar pelo melhor, preparar-se para o pior.


terça-feira, 26 de março de 2019

Uma nova aliança?



Resultado de imagem para fotos trump bolsonaro


O Presidente Bolsonaro iniciou notável aproximação com os Estados Unidos quando de sua recém viagem à Washington.

A reunião com Donald Trump revelou a empatia pessoal esperada entre os dois dirigentes; não escondeu, contudo, a abissal diferença de poder político que cada qual comanda. Ostensivamente assessorado por seu Chanceler, Ernesto Araújo e, obliquamente influenciado por seu filho Eduardo, Jair Bolsonaro revelou sua admiração pelo dono da casa e, de imediato, ofereceu-lhe suas cartas, sem que conhecesse as de seu parceiro.

Ofereceu, de pronto, a liberação de visto para o cidadão norte-americano, sem que demandasse, como contrapartida, por exemplo, isenção similar para brasileiros com histórico positivo em suas viagens para o Norte. Pelo contrário, submeteu seus cidadãos em posição de nítida inferioridade.

Já, em resposta ao pedido brasileiro de apoio norte-americano à sua pretensão de juntar-se à OCDE, Jair Bolsonaro acedeu à condição formulada por Trump para que o Brasil abandonasse sua participação na Organização Mundial do Comércio*, responsável pelas vantagens compensatórias em seu comércio internacional por ser, ainda, país emergente.

O histórico desta longa participação oferece alguns episódios emblemáticos onde o Brasil se viu protegido. O primeiro se refere aos benefícios compensatórios outorgados ao Brasil para compensar subsídios irregularmente  oferecidos por Washington ao  algodão norte americano.

Já noutro exemplo, O Brasil teve ganho de causa no uso de patentes farmacêuticas americanas quando de  ocorrência emergencial na saúde pública.

Também, a associação à OMC beneficiou a produção e venda de aviões da Embraer, punindo a concorrente canadense por práticas anticompetitivas.

Em resumo, o abandono do Brasil da Organização Mundial do Comércio contraria seus interesses. Enquanto os benefícios (vide acima) oferecidos pela  participação na  OMC são diretos e atuais. Já a a participação brasileira na OCDE ofereceria benefícios no que tange a credibilidade internacional de seus associados, assim  fortalecendo imagem do país. São, contudo vantagens indiretas que não tem porque substituir as compensações diretas oferecidas à país emergente.

Já, no campo tecnológico, o Brasil outorgou o direito de utilização da Base de Alcântara para o lançamento de foguetes norte americanos. Esta base será guarnecida por segurança daquele país e terá salvaguardas quanto à tecnologia dela resultante. Os termos exatos não são conhecidos. O valor de tal concessão não pode ser minimizado, pois oferece aos Estados Unidos condições operacionais excepcionais, resultando em economia bilionária ao arrendatário da base, quando se leva em conta o valor econômico do ganho de eficiência operacional e dos exclusivos benefícios decorrente, nos campos operacional e tecnológico.

Como contrapartida deveria ser exigida o compartilhamento de know how para o desenvolvimento de foguetes brasileiros para fins pacíficos, tal como o lançamento de satélites. Porém, um exame do histórico neste setor revela os Estados Unidos ativamente impedindo o acesso brasileiro à tal "know how", interferindo, inclusive, junto à fornecedores internacionais de equipamento e tecnologia para este fim.

Apesar de não ter sido formalizada, a Aliança militar proposta por Donald Trump, "elevando" o Brasil à condição de Aliado Especial encerra consequências reais e potenciais que devem ser cuidadosamente analisadas pelo Brasil. Sendo uma aliança, terá ela duas mãos. Dada a enorme disparidade de força nacional e prestígio internacional entre as partes, tal aliança teria, por necessária, a submissão do Brasil à política externa norte-americana, incluindo a tomada vigorosa de partido nos contenciosos internacionais. Estes  envolveriam tanto China quanto Russia, ambos parceiros comerciais e financeiro no âmbito dos BRICS. Não seria demais lembrar que sem o comércio e os investimentos provenientes da China, a estabilidade econômica do país brasileiro seria seriamente afetada.

Outro ponto que recomenda atenção será a posição anti-multilateralismo do governo Trump, condição essencial para a evolução política e brasileira no planeta, cuja proteção mais reside no respeito à  Lei Internacional do que na relevância de suas forças armadas. O recente reconhecimento pelo presidente americano das Colinas do Golan como parte integrante do território israelense, apesar da unânime oposição (sim,incluindo Washington) do Conselho de Segurança da ONU é mais um exemplo do seu descaso quanto ao consenso dos organismos internacionais.

Parece ser o momento de reflexão e avaliação. Sob Bolsonaro, a política externa mostra-se seduzida, tal qual os índios no encontro com Cabral, pelas vantagens brilhantes e imediatas. Por elas corre-se o risco de vender-se o futuro da Nação..



*World Trade Organization

domingo, 17 de março de 2019

Redesenhando o Mundo?



Resultado de imagem para photos of planet earth


Será difícil encontrar na história moderna um momento que rivalize com a confusão e indefinição que ora afeta os países líderes do planeta.

Na Europa encontramos a outrora magestatica Inglaterra(1) em busca de uma identidade perdida. Após sua vitória de Pirro contra o Nazismo, onde a vitória das armas custou-lhe todo um império, e constatando a inviabilidade de, solitária, manter-se em pé restrita à pequena ilha, buscou  redenção   ao juntar-se à  Comunidade Européia. Porém, o preço da solução trazida pela solidariedade econômica com a Europa continental  tornou-se, pela diluição de sua soberania,  preço político insustentável.

Hoje, dividida e perplexa, busca no retorno ao passado, ou seja, num post-nacionalismo, sua redenção na modesta grandeza que lhe trará o Brexit.

Já, na Alemanha parece esgotar-se a formula, até então vitoriosa,  na aliança dos partidos Democratas Cristão e Social, face ao ressurgimento da extrema direita e do ethos teutônico de anterior grandeza. Parece movimento pela  reconquista de seu auto-respeito, sufocado pelo tanto assumido quanto imposto complexo de culpa. A emergência da extrema direita  parece buscar o término de décadas de expiação.

Almeja, talvez, a reinserção da frase "Deutschland Uber Alles" em seu hino, prometendo uma herança dominadora às forças da Direita, e seu retorno ao protagonismo, não apenas econômico, mas, também, politico.

Na França, Macron parece ter perdido o magnífico dom que lhe concedeu uma vitória eleitoral apartidária, por ter prometido demais aos dois extremos do espectro político. Hoje parece enredar-se nas amargas vinhas da discórdia, por ter concedido menos do que esperado e exigido mais do que prometido. Seguindo a vocação francesa pelas barricadas, a violência empolga a insatisfação política, e ameaça a sobrevivência eficaz do governo. Cria-se um vácuo a ser preenchido por aventureirismo.

Em mimetismo inevitável, a Europa menor  reflete, ela também, os des-acertos e hesitações, contaminada pela diluição das lideranças tradicionais. Espanha, em suas dores de integridade territorial, Itália ferida pela aliança da esquerda irresponsável e a direita extremada. Já, a Europa oriental, sucumbindo ao canto da sereia da extrema direita, nelas incluidas a Hungria, a Polonia, a Austria, vê-se levada pelo caudal da discórdia que inunda uma União que ameaça  dissolver-se.

Será que a força centrífuga que ora parece afetar as nações do Velho Continente decorre da constatação que a união política e econômica imposta tem por efeito a mediocrização?  Quão possível será atingir-se um almejado "ponto fora da curva" em universo onde os componentes são contidos pelas mesmas regras?  E talvez mais grave, até que ponto a "grandeza nacional" é possível em quadro de solidariedade impositiva? Até onde as amarras da União Europeia, onde as fronteiras se diluem e as finanças se confundem,  tornam impossível  o caminho  nacional e excepcional?

Será que hoje, afastados pelo tempo da tragédia da guerra, esquecidos que estão de seus horrores, o europeu gaté  busca o frisson do diferente?

O mal estar das populações europeias, tanto no político quanto no econômico, parece claro. Os efeitos psicológicos sobre os povos que a compõem, causados , em parte, pela gradual perda de identidade nacional talvez não devam ser descartados como irrelevantes. A reação se faz mais evidente nos  países menos sofisticados que compõem a Europa oriental, sujeitos a reações mais primárias e grupais, donde o  nacionalismo acentuado.

E pairando sobre todos, eis a Águia norte americana pilotada por Donald Trump. Vitorioso graças ao apoio de "blue collars" e dos campos do Middle West, pela regra perversa do Colégio Eleitoral americano, e, apesar de rejeitado pela maioria  do eleitorado, o "business man" tornou-se presidente da maior potência planetária.

Egresso do feroz micro-cosmo dos negócios imobiliários de Nova York e jejuno nas disciplinas necessárias ao estadista, o novo presidente vem desequilibrando a cuidadosa estrutura que rege as  relações internacionais, e, por consequência, fragilizando as relações comerciais e políticas construídas desde a a vitória sobre o Eixo. Assim, altera-se, gradualmente, o equilíbrio econômico que deram substância às atuais, e talvez caducas, alianças políticas.

A crescente alteração das "regras do jogo" favorece um remanejamento das vantagens comparativas dentre as nações "aliadas", causando tensões e reposicionamentos até então administráveis. Altera-se, assim, o quadro politico, aumentando a geração do contencioso.

Onde o perigo torna-se mais agudo será na mudança abrupta nas relações dos Estados Unidos com a China, podendo causar efeitos negativos no Ocidente. Aflito pela meteórica evolução da potência econômica Oriental, e, pari passu, com a sua expansão e modernização militar, Washington exerce seu poder para conter esta tendência, usando para tal instrumentos políticos e econômicos tradicionais e, até mesmo, impedimentos leoninos.

As severas sanções econômicas, por diversas vezes aplicadas,  além de inviabilizar, em certas circunstâncias, o uso da moeda reserva internacional, o dólar, causam, também,  efeitos devastadores nas economias do eventual adversário. Ainda, a proibição de acesso ao mercado norte americano, como ocorre no "caso Huawey", compõe um novo cenário de desestabilização nas finanças e comércio  internacionais.

Já se observa que o surgimento de um protagonista internacional da dimensão chinesa, que torna-se a segunda economia mundial, cria crescente tensão face ao reordenamento da  ordem política mundial.

Nestas circunstâncias, a confrontação das duas grandes potências, aumenta a insegurança que à todas nações afeta. Neste novo quadro as alianças se fortalecem ou se diluem, face à cada vez mais presente opção militar.

A crescente intensidade de tais procedimentos, que ora se observa,  lembram o infausto precedente onde  o embargo de petróleo ordenado pelo governo americano em 1940, levou o Japão à guerra face à sua iminente paralisação econômica.



(1) Sem incluir Escócia e Galles
































domingo, 3 de março de 2019

Redes sociais e sombras


Artificial Intelligence, Brain, Think


A revolução digital já se instalou no planeta.Trouxe consigo maravilhas antes inexistentes. A possibilidade da comunicação instantânea e livre. O acesso à informação quase ilimitada através dos sites de busca. A organização de dados e a consequente eficiência, e inúmeros outros benefícios.

Mas dentre às dádivas insinuam-se as  distorções e imposições que passam a dominar os internautas. As redes sociais surgiram e expandiram qual virus incontrolável, arrastando idéias e opiniões em enxurrada incontida, expressas numa sub realidade digital onde a responsabilidade pelo dito se dilui pela imensidão da interlocução.

Apesar do autor exposto,  a tela torna a palavra autônoma em impessoal instrumento, desligando-se de sua origem, como se ajustada ao nível imposto pelo cadente denominador comum, pelo gradual abandono da qualidade pelo magnetismo da quantidade.

Pessoas que em condições normais de diálogo mantêm a racionalidade educada transformam-se, diante da tela acesa,  em radicais impacientes e, não raro, profanos. O radicalismo se exacerba, vítima da penúria léxica e de ambiente que favoreça a argumentação lógica.

Se, outrora, a carta escrita submetia o autor à perenidade do pensamento exposto, já o texto submerso nas redes sociais sugere instantânea degradação  por ser ele levado na torrente de milhares  d'outras expressões  e opiniões.

Noutra dimensão, as redes estimulam, exponencialmente, a vaidade, a qual, de mero defeito de personalidade, torna-se ímpeto comportamental, envolvido numa incontida competição com próximos e distantes, conhecidos e desconhecidos em busca de uma supremacia que diminui, de uma auto-estima que se avilta pela inconsequência do prêmio que deseja.

A rede social torna-se irmã bastarda do consumismo, subordinada à Inteligência Artificial que tem por missão a extensa colheita dos mais recônditos estímulos, assim  obtendo o domínio, não da vontade, mas dos impulsos que dominam seus seguidores.

Trata-se da degradação do livre arbítrio consciente, substituído pelo desejo inconsciente, manipulado pelos algoritmos do milagre digital.