domingo, 27 de janeiro de 2019

Brasil, USA e América do Sul





A primeira relevante incursão externa da diplomacia brasileira se dá sob a liderança do governo Trump. Este, seguindo os passos de Michael Pompeu e John Bolton, Chanceler e Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, optou, como é de sua índole, por formula confrontacional alheia à prudência diplomática no contencioso venezuelano.

Já, o Itamaraty, descartando seu reconhecido "know how" diplomático optou por seguir, em ação quase automática e impensada,  a orientação de Washington ao reconhecer como "adicional" presidente da Venezuela, o Sr. Juan Guaidó, desconsiderando a existència do presidente de fato, Nicolas Maduro. As razões para a decisão do governo Trump para intervir serão várias, porém embasadas na frase  abrangente de Bolton: "intervimos porque está em nosso hemisfério".

Cabe anotar que Maduro é um ditador execrável, desrespeitador dos direitos de seus cidadãos, destruidor da estrutura econômica do país, acusado por fontes críveis de banditismo eclético. Porém, apesar do inegável despreparo deste presidente, exerce ele, de fato,  o poder na Venezuela.

Porém, cabe reflexão sobre a política externa agressiva a ser seguída pelo Brasil, anêmico em sua infraestrutura, limitado em seu poder econômico, militarmente fraco face à sua extensão. Para tais países entre os quais o Brasil se insere, o uso da força militar será a última das opções. Sua segurança reside, entre outros elementos, naqueles precedentes que lhe oferece segurança quanto à inviolabilidade de sua soberania. A aceitação pela chancelaria brasileira  de iniciativas internacionais que atropelem os precedentes protetores de sua integridade  trazem no seu bojo a legitimação de formulas  indesejáveis à seus interêsses. Assim, aderir ao reconhecimento de um segundo presidente, simultâneo, na Venezuela significa permitir que, no futuro, tal precedente seja usado contra o próprio Brasil.

Perguntar-se-ia: havería outra forma de abordar o problema ! Sim, porém dando ao fator tempo maior peso, onde a pressão exercida por sanções diversas, políticas e econômicas, levassem Maduro à  ceder e negociar sua substituição.

E porque  o governo Trump não recorre à sua habitual política de sanções, conforme se observa  contra países como a Rússia e o Irã! Para Washington a interrupção da compra de petróleo venezuelano traria consequências inaceitáveis à economia norte-americana por ser a Venezuela o seu quarto fornecedor. Assim, a opção de pressão econômica fere seu interesse, ainda que fosse mais adequado aos interesses dos demais  países engajados no projeto. Por consequência, Washington optou pelo ultimato político, extremamente agressivo, tornando real a probabilidade de conflito armado, caso Guandó venha a sofrer violência ou o prazo derradeiro não seja cumprido.

Quanto aos interesses do Brasil, o desenrolar desta virtual armadilha não é do interesse nacional. Qualquer desdobramento militar fere, não só as tradições diplomáticas brasileira, onde o Brasil  gigante não deve ser visto como ameaça imediata à seus vizinhos sul-americanos, como, também, conflita com seus interesse presentes e futuros na formatação de suas relações de longo prazo com seus vizinhos.

As relações com países vizinhos são de natureza permanente, oscilam entre momentos de coincidência de propósitos com outros de ocasional discórdia. Em nenhuma destas circunstâncias o Brasil deve ser visto como ameaça. Assim sendo, atrelar nossa política externa à Norte-americana, cujo histórico tem sido de inúmeras intervenções no hemisfério, transformará nossa reputação de nação pacificadora para partícipe em iniciativas que possam ameaçar a soberania das demais nações sul-americanas.  Ao Brasil, caracterizado por extensas fronteiras de difícil defesa, qualquer conflagração no Continente é contrária a seus interêsses, uma vez que os desdobramentos da guerras serão sempre imprevisíveis, podendo extender-se geograficamente e em alianças a ponto de ameaçar a integridade nacional. Do mesmo modo, qualquer interferência de potência extra continental no ambiente político sul-americano, em busca de seu interesse pontual,  representa potencial perigo para a integridade do  Brasil.

No atual quadro, cabe considerar-se qual a  a reação brasileira caso o contencioso venezuelano imponha solução armada?  Deverá o Brasil, impossibilitado na opção armada,  limitar-se à apresentar protestos inócuos de intensidade variável, revelando às nações  sul americanas que nossa exigência ao governo Maduro não  poderá ter sucesso assim evidenciando a inconsequência de nossa diplomacia? Ou, inversamente, acompanhará os Estados Unidos em intervenção militar no país vizinho, assim rompendo a tradição de diálogo pacífico responsável pelo nosso relevante Soft Power?

Pelo visto, a decisão do irriquieto e imprudente Chanceler Ernesto Araujo, acaba de colocar o Brasil em situação incômoda, onde, em termos populares, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

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