Em outubro de 2016 os Estados Unidos contemplaram, boquiabertos, a eleição de Donald Trump para presidente da nação. Mesmo o seu partido, o Republicano, foi surpreendido. Sem qualquer experiência político-administrativa, sem qualquer suporte partidário, o businessman foi eleito pelo princípio "Cacareco", ou seja pelo voto de protesto da base eleitoral branca e republicana.
É verdade que a eleição de Barack Obama também demonstrou uma rejeição às estruturas enrijecidas do Partido Democrata. A eleição de um presidente negro nos Estados Unidos só foi possível na esteira de profunda insatisfação, não apena com o seu antecessor, mas, muito, também, com o seu partido.
Seguindo-se ao governo Obama, este exaurido no campo fiscal pelo hercúleo esforço de reequilibrar as finanças do país após o desastre que lhe foi legado por George W. Bush, o novo mandatário Republicano encontra as finanças estabilizadas, porém herda enorme dívida externa, próxima à 100% do seu PIB.
Encontra, também, um país traumatizado por mudanças tectônicas resultantes de políticas internas passadas e um cenário internacional em mutação:
- inversão da solidariedade fiscal a partir do governo Reagan, criando uma crescente concentração de renda, através da redução do imposto de renda, da desregulamentação do setor financeiro e do crescente déficit público, reduzindo o acesso das classes menos favorecidas ao "american dream".
- distanciamento do partido democrático sob Bill Clinton (vide revogação do Glass Steagal Act) da base da pirâmide social. O surpreendente desempenho do Senador socialista Bernard Sanders no pleito de 2016 demonstrou a insatisfação prevalente na base partidária.
- redução da preponderância da raça branca, que exclui negros, hispânicos e asiáticos, na composição demográfica norte americana, sendo a eleição de Barack Obama um alerta aos "supremacistas". Maioria demográfica das hoje minorias projetada para 2060
- término da invencibilidade militar estadounidense a partir da derrota na guerra do Viet Nam e do pantanal afegão.
- a constatação da vulnerabilidade da Homeland após os atentados de 11 de setembro e posteriores ações terroristas em território americano.
- redução da homogenia econômica no campo internacional causada pela formação do bloco europeu e a ascensão da China
Vê-se que o desdobramento político pós eleitoral revela um Trump que parece compartilhar com as angustias e anseios de seus eleitores. O mal estar e a divisão que impera na sociedade americana leva à novos caminhos, certos ou errados. Busca no America First a linha mestra de seu governo, sem entender que poderá encontrar, ao término de sua jornada, uma America Alone.
Compartilha, também, do simplismo desta base eleitoral que o leva a adotar políticas como se não houvesse desdobramentos, tanto no campo interno como internacional, os quais podem anular os benefícios pretendidos. Sua rejeição aos tratados assinados ou contemplados, e, ainda, à práticas passadas, sejam econômicos (vide NAFTA¹, TPP² e TTIP³) sejam políticos (Irã desnuclearizado) revela uma personalidade reativa próxima à paranoia. Iniciando uma guerra tarifária, despreza, se não ignora, a reação de seus aliados e as nefastas consequências econômicas desta iniciativa.
Tempos difíceis.
Tempos difíceis.
(1) USA Canada e Mexico
(2) Países da Asia
(3) União Europeia
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