sábado, 23 de junho de 2018

Juros e crescimento

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Inegavelmente, são muitos os fatores que impedem a melhoria da economia brasileira. Contudo, um deles, o custo bancário, não vem merecendo a atenção devida, seja pela complexidade que o envolve, seja pelo poder que o setor bancário exerce sobre os meios de divulgação.

Ora, é indiscutível a influencia que os Gastos de Família exercem sobre o comportamento do PIB. Estes, a partir dos anos 2014/1025 vem demonstrando forte queda, acumulando aproximadamente 7%, estabilizando-se, hoje em patamar muito abaixo daquela vigente no período pre-recessão. Reflete-se, assim,  negativamente sobre o desempenho econômico e tem, por consequência o aumento do desemprego.

Este. por sua vez, vem se mantendo teimosamente estável no nível de 13 milhões de cidadãos que, ao representar mais de 9% do eleitorado, exercem influência deletéria sobre o quadro político. Tendo em conta a fragilidade que ora atravessa este segmento social, bem como as tensões e angústias que o cercam, tenderá ele a tornar-se presa fácil do populismo. Daí a favorecer candidaturas contrárias à ortodoxia econômica, será um pequeno passo.

Neste cenário de desalento, observa-se que os juros para o parcelamento de cartões de crédito nos maiores bancos, inclusive os estatais, oscilam entre 100 e 150% ao ano. Já no cheque especial, as taxas sobem ainda mais para entorno de 280% (¹). Dai explicar-se os excelentes resultados do sistema bancário, dominado por meia dúzia de bancos. Às vantagens dos altíssimos juros junta-se a realidade da baixa inflação, aumentando substancialmente  o "spread"  operacional.

Perguntar-se-a porque tais taxas são legais e não extorsivas e ilegais? A resposta vêm do Supremo Tribunal Federal tendo decidido que a taxa de juro seja aquela que o mercado livre determina. Parece ter escapado aos Ministros, contudo, que o citado mercado livre bancário, no contexto brasileiro, não parece existir.

Neste mercado forma-se um oligopólio de fato, a concorrência entre eles é limitada, deixando seus clientes individuais sem a proteção que ofereça um mercado verdadeiramente livre. Constata-se, também, que a luta dos bancos pelos depósitos populares se dá, sobretudo, na cooptação de clientes corporativos, os quais, por sua vez, impõem a seus funcionários o depósito de seus salários no banco que mais atende a seus interesses empresariais. Ou seja, os benefícios da concorrência vão para as empresas e não para seus empregados.  Desta forma, o depositante individual se vê, na prática, obrigado à uma fidelidade bancária muitas vezes contrária a seus interesses, assim aviltando sua mobilidade, essencial à formação de um mercado livre.

Ainda, alegam os bancos, os elevados juros decorrem da enorme inadimplência em suas carteiras.  Ora, em ambiente de livre e plena concorrência, onde a experiência creditícia deste ou daquele banco seria variável, também variável seriam os juros cobrados do depositante. Porém, o que se observa, é a esmagadora concentração de depósitos em um meia dúzia de bancos. Fosse o mercado realmente competitivo,  não haveria a atual conformidade dos custos astronômicos de empréstimos, tornando mais difícil descarregar o onus da inadimplência no aumento da taxa de juros sobre os adimplentes.

A prevalecer o status quo, tão mais difícil será a recuperação do consumo, numa economia  manietada por um nível de juros desconhecido nos demais países do planeta. Cabe ao Banco Central do Brasil enfrentar e resolver este grave problema.

(1)  Dados do relatório do Banco Central

domingo, 17 de junho de 2018

Porque Trump?


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Em outubro de 2016 os Estados Unidos contemplaram, boquiabertos, a eleição de Donald Trump para presidente da nação. Mesmo o seu partido, o Republicano, foi surpreendido.  Sem qualquer experiência político-administrativa, sem qualquer suporte partidário, o businessman foi eleito pelo princípio "Cacareco", ou seja pelo voto de protesto da base eleitoral branca e republicana.

É verdade que a eleição de Barack Obama também demonstrou uma rejeição às estruturas enrijecidas do Partido Democrata. A eleição de um presidente negro nos Estados Unidos só foi possível na esteira de profunda insatisfação, não apena com o seu antecessor, mas, muito, também, com o seu partido.

Seguindo-se ao governo Obama, este exaurido no campo fiscal pelo hercúleo esforço de reequilibrar as finanças do país após o desastre que lhe foi legado por George W. Bush, o novo mandatário Republicano encontra as finanças estabilizadas, porém  herda enorme dívida externa, próxima à 100% do seu PIB.

Encontra, também, um país traumatizado por mudanças tectônicas  resultantes de políticas internas passadas e um cenário internacional em mutação:


  1. inversão da solidariedade fiscal a partir do governo Reagan, criando uma crescente concentração de renda, através da redução do imposto de renda, da desregulamentação do setor financeiro e do crescente déficit público,  reduzindo o acesso das classes menos favorecidas ao "american dream".
  2. distanciamento do partido democrático sob Bill Clinton (vide revogação do Glass Steagal Act) da base da pirâmide social. O surpreendente desempenho do Senador socialista Bernard Sanders no pleito de 2016 demonstrou a insatisfação prevalente na base partidária. 
  3. redução da preponderância da raça branca, que exclui negros, hispânicos e asiáticos, na composição demográfica norte americana, sendo a eleição de Barack Obama um alerta aos "supremacistas". Maioria demográfica das hoje minorias projetada para 2060
  4. término da invencibilidade militar estadounidense a partir da derrota na guerra do Viet Nam e do pantanal afegão.
  5. a constatação da vulnerabilidade da Homeland após os atentados de 11 de setembro e posteriores ações terroristas em território americano.
  6. redução da homogenia  econômica no campo internacional causada pela formação do bloco europeu e a ascensão da China

Vê-se que o desdobramento político pós eleitoral revela um Trump que parece compartilhar com as angustias e anseios de seus eleitores. O mal estar e a divisão que impera na sociedade americana leva à novos caminhos, certos ou errados. Busca no America First a linha mestra de seu governo, sem entender que poderá encontrar, ao término de sua jornada, uma America Alone

Compartilha, também, do simplismo desta base eleitoral que o leva a adotar políticas como se não houvesse desdobramentos, tanto no campo interno como internacional, os quais podem anular os benefícios pretendidos. Sua rejeição aos tratados assinados ou contemplados, e, ainda, à práticas passadas, sejam econômicos (vide NAFTA¹, TPP² e TTIP³) sejam políticos (Irã desnuclearizado) revela uma personalidade reativa próxima à paranoia. Iniciando uma guerra tarifária, despreza, se não ignora, a reação de seus aliados e as nefastas consequências econômicas desta iniciativa.

Tempos difíceis.

(1) USA Canada e Mexico
(2) Países da Asia
(3) União Europeia













terça-feira, 12 de junho de 2018

A pomba de Singapura




Kim e Trump se encontraram. Contrariando os que elogiam o presidente americano pela reunião em  Singapura, cabe ao ditador norte coreano o prêmio de habilidade estratégica ao colocar à mesa, à sua frente, o homem mais poderoso do planeta.

O que mais interessa, contudo, será avaliar qual o desdobramento de tão importante encontro. O comunicado conjunto fala em dois pontos cruciais: a desnuclearização de Pyongyang e a garantia de manter incólume e Republica (?)Democrática Coreana.

Mas com atingir tais objetivos sem que haja razões válidas para confiar nas palavras, escritas ou não, dos dois protagonistas? Kim Jung-un já negaceou, no passado, promessas de suspensão de seu projeto nuclear. Quanto à Donald Trump, o recente episódio de unilateralmente abandonar o tratado anti nuclear com o Irã, bem revela o desvalor que confere à assinatura do Império Americano.

Com tal cadastro, que faria erubecer qualquer negociador internacional, fácil será concluir-se que, sem um tertius que possa ser o fiel depositário das garantias oferecidas, difícil será finalizar o Tratado.

Eis que surge a China como possível "garantidor " da palavra coreana; mas quem garantira a fidelidade de Trump e de sucessores à assinatura aposta? Outra possibilidade seria  a assinatura unânime do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como avalista do tratado, no momento de sua conclusão, Certamente, outras fórmulas surgirão, cuja eficácia será sempre dúbia.

Restaria a incompreensão do porque da intolerância do presidente americano com o Irã e Cuba, que, se comparados à Coréia do Norte em nada ameaçam os Estados Unidos. Talvez melhor procurar em motivação de política interna, buscando o benefício eleitoral  do voto judeu anti´Teerã e o voto dos cubanos anti Castrista em  Miami

A ver...

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Ressaca e meditação

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Terminou a greve. Teve o apoio de empresários do setor, da  militância da esquerda e, surpreendentemente de boa parte da população. A notar-se, a jeunesse dorée das classes abastadas. A insatisfação com o governo Temer, que domina a maioria esmagadora do povo brasileiro, é tão grande que levou a opinião pública a apoiar uma das mais perigosas e nefastas ocorrências que já ameaçou o país.

A durar mais alguns dias o desabastecimento teria causado o caos econômico e social.

Foi um misto de ingenuidade, onde esperava-se em consequência da greve uma correção de rumo do governo, e ignorância, onde presumia-se que uma paralisação da atividade econômica pudesse levar à redução de impostos.

Pelo contrário, o governo, pressionado pelas próximas eleições, tudo fez para agradar os grevistas, com consequências negativas para a Nação. Assim, aumentos e novos impostos serão necessários para cobrir os 15 a 20 bilhões de reais de perdas causadas pela paralisação.

Ainda, a interferência política na determinação dos preços  de combustíveis torna-se um retrocesso aos tempos do governo Dilma. Foi relevante a perda de confiança de investimentos no Brasil em geral e na Petrobrás em particular, onde as ações despencaram prejudicando os fundos de pensão que garantem aposentadorias. Por resultado tem-se o aumento das taxas de juros em financiamentos externos para cá direcionados, trazendo relevante dano para o governo e empresas. Mais grave, ainda, é a perda de confiança externa na moeda brasileira, que se reflete nos mercados cambiais, trazendo o Brasil para a incômoda companhia da Argentina e a Turquia. A prevalecer a atual tendência, os efeitos inflacionário e creditícios far-se-ão sentir.

Prolonga-se, desta forma, a agonia dos 13 milhões de brasileiro desempregados em busca de seu lugar ao sol e, perversamente, oferece aos investidores, pescadores em águas turvas, as benesses dos enormes ganhos especulativos.

As Forças Armadas, também, saíram feridas neste episódio. Sua mobilização foi lenta e insuficiente. Ainda, os modestos contingentes mobilizados não impunham o respeito suficiente para conter, preventivamente, uma oposição agressiva, como se verificou em diversas ocorrências. Estariam o Exercito e  a Força aérea com estoques suficientes de combustível para debelar a crise face a uma possível escalada? O constrangimento em torno dos aeroportos e de refinarias parecem ter revelado insuficiência de planejamento e execução.

E fica importante alerta quanto à vulnerabilidade que decorre  da excessiva preponderância do transporte rodoviário. A alternativa ferroviária torna-se imprescindível, não apenas para fins de maior eficiência e menor custo no transporte de cargas como também o é no campo da segurança nacional.