domingo, 28 de novembro de 2021

Reflexões Semitas


Submetida a proposta de criação do Estado de Israel em Assembleia Geral das Nações Unidas presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, recebeu ela aprovação majoritária. Reconhecia, também, o direito aos Palestinos de criarem sua Nação. A moção recebeu contundente maioria, validando a proposta que atenderia as duas facções Semitas. 

Relevante, contudo, foi a abstenção da Grã Bretanha que recebera, ao derrotar o Império Otomano na guerra 1914/1918, o mandato para governar a então denominada  Palestina, incluindo tanto o Israel moderno quanto a hoje denominada  Cisjordânia. 

Profundo conhecedor da geopolítica da região, Whitehall previa com clareza as ondas centrifugas que se formariam a partir de um projeto que, pela artificial e impositiva repartição de terras já possuídas, estar-se-ia redistribuindo e confiscando direitos centenários já estabelecidos. Cumpria, então, buscar-se o reequilíbrio das até então irreconciliáveis  forças econômicas, políticas, religiosas, culturais e raciais.

E quem habitava, ao término do Século XIX, a região que hoje engloba Israel e Palestina?  A melhor fonte para conhecer-se a evolução demográfica da região então denominada Palestina, provém dos registros oficiais do "British Mandate", cuja administração lhe fora designada após a derrota da Turquia em 1918. 

Importante observar a distribuição Árabe-Judaica (ambos Semitas) na região, tendo por origem a Diaspora dos Judeus em 70 DC, imposta pelos Romanos.                          

            Árabes         Cristãos      Judeus          % (Judeus/Palestinos)

1800      246.000      22.000          7.000        2,8

1890      432.000      57.000        43.000        9,9                (início do movimento Sionista)

1931     760.000      89.000      175.000        23,0  

1947    1.181.000   143.000      630.000       53,3               (véspera da criação de Israel em 1948) 

2006    1.330.000                   5.670 000       326,3             (inversão: maioria Judaica)

2020    1.890.000                   6.884.053       264,2

Estes registros oficiais revelam que desde a Segunda Diaspora, que se seguiu à expulsão do povo Judeu das terras de Israel pelos Romanos, foi ele condenado à busca, mundo afora,  de novo lar. Esta dispersão  deu-se, sobretudo,  no Oriente Médio, no Norte da África e na peninsula Ibérica. 

Os recém chegados encontraram guarida e inserção, mediante imposto específico, nas regiões e sociedades dominadas pelos Árabes, onde, apesar da diferença de crença, obedeciam ao princípio monoteísta por fazer parte do "Povo do Livro" que Maomé venerava.  

Já, no continente Europeu, ao tempo da  Reconquista Cristã (a expulsão dos Árabes  da Península Ibérica) instalou-se o pleno domínio da Inquisição e a resultante perseguição de Judeus e Muçulmanos. 

Ainda, de relevância histórica, tem-se o início do Movimento Sionista ao longo do Século XIX, promovendo a imigratório em direção às Terras Bíblicas. Terminada a Segunda Guerra Mundial (1939-45), palco do bárbaro genocídio Judaico, tem-se, em maio de 1948, a criação do Estado de Israel. 

Acentua-se, assim, o processo de absorção e aquisição das terras Bíblicas dando início à reconfiguração geográfica e demográfica da então Palestina, resultando na queda proporcional de árabes na composição demográfica em Israel (vide acima). 

Por outro lado, as terras alocadas pelas Nações Unidas à população Palestina não merecem proteção.  Ultrapassando as décadas que medeiam a criação de Israel e os dias de hoje, constata-se o ininterrupto sequestro de terras árabes na Palestina, sem amparo na Lei Internacional que regula a integridade da Cisjordânia Palestina. (ver mapas abaixo).


Exercendo o Direito do Conquistador, as regras sobre toda a região Palestina  (em verde, no mapa acima) são estabelecidas e impostas, direta ou indiretamente, pelo governo Israelense. Ainda hoje, o Estado de Israel promove continua instalação de novas "colônias" judaicas em terras de propriedade Palestina, assim desmontando sua continuidade e conexão geográfica, cultural, econômica e política. 

Em Israel, a densidade demográfica se acentua, oscilando hoje em torno de 400 habitantes por Km² - (113 para a França), revelando forte concentração. Por outro lado, a densidade na Palestina ultrapassa 800 habitantes por Km². Torna-se evidente que, a prosseguir o atual ritmo  de transferência populacional de uma para outra área, sérios prejuízos sociais, culturais, religiosos, sanitários e políticos, servirão de estopim para crescente violência.   

Com base nos dados acima, o acréscimo da população no território palestino, seja ele endógeno (taxa liquida  de crescimento populacional), seja exógeno (imigração-colonização israelense), resulta na  inviabilidade da atual tendência, dado ao esgarçamento sócio-econômico que o acompanha. 

Naquela diminuta região, tem-se 2.600.000  Palestinos e 420.000 mil "colonos" Israelenses, estes em contínuo crescimento. A prosseguir a imigração Judaica em direção às terras Palestinas, conforme formalmente anunciado pelo atual governo de Naftali Bennett,  parece razoável prever-se para breve um ponto de ruptura humanitária.


Mapa da densidade demográfica na PALESTINA (ex Gaza)
 Áreas habitadas  por Palestinos (base amarela/vermelho), a Azul sob controle Israelense. Revela a descontinuidade das comunidades palestinas causando grave dano humano e administrativo. 


Nota da Redação; A faixa de Gaza é propositalmente ignorada neste artigo face às condições sócio-políticas radicalmente diferentes daquelas existentes na Cisjordânia.                                           
 


  

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Roupa suja



Há um centenário ditado que diz: Roupa suja se lava em casa. As invectivas lançadas a partir do exterior pelos dois candidatos à presidência do Brasil em nada enalteceu a Nação brasileira. Porém, a viagem empreendida por estes dois políticos revelou como os dirigentes das grandes nações percebem o Brasil de hoje e seus representantes. 

Por bom motivo, pois, como diz um outro ditado, este em inglês: familiarity breeds contempt. A divulgação das nódoas e manchas íntimas  reduz o respeito alheio. E Respeito é um bem inestimável, gera capital moral que indica credibilidade, sugere confiança, fatores básico à todo projeto político.  Abrem portas ao dialogo e parcerias e fecham as janelas contra a intrusão da malícia. Preserva a unidade íntima e coletiva, seja ela familiar, seja política, potencializando a probabilidade de sucesso.

O Brasil não ganhou com esta disputa vociferante além fronteiras. Fossem mais patriotas, os querelantes teriam sido mais contidos.

Porém algo se apreendeu neste episódio. Constatou-se que o atual Presidente abandonou a audiência Europeia, que representa a nata cultural, financeira e comercial do planeta, intimidado pela reação negativa com que lá poderia confrontar-se¹. 

Preferiu visitar os Sheiks das Arábias para "vender", ou pedir, não se sabe bem o que. Resguardados por implacáveis regimes feudais, onde o assassinato de inimigos é soterrado sob opaca censura, Jair demonstrou simpatia e empatia. O que de lá trouxe de volta não se sabe; acordo comercial, investimentos relevantes para nosso país? Ou boas memorias de um belo passeio de motocicleta?

Enquanto Jair se esforçava, Lula, em hábito austero, expressão cordial porém contida, visitava os salões do poder europeu. Escudado na Esquerda do Continente e valorizado pelo respeito à Democracia,  assegurou recepção cordial. Recebido pelo futuro Primeiro Ministro Olav Scholz e pelo presidente francês, Emanuel Macron, Lula transmite ser uma persona madura, equilibrada, respeitada nos corredores do Primeiro Mundo, alheios às falhas do seu grave comportamento ético. 

Nada podia oferecer, nada prometer, mas sua presença relembrou a simpatia ao Brasil que sempre inspirou a Europa². A ovação recebida no Parlamento Europeu seria um mélange de apreço à um e desapreço à outro.

E a viagem terminou, ambos estão de volta. O que terá Jair Bolsonaro obtido para o país?  O que ganhou? O que perdeu? Fechou bons negócios, algum tratado, alguma promessa, algum acordo? Ou terá sido mero engodo para não submeter-se às criticas e antipatias europeias?


1) Interessante seria conhecer-se os memorandos do Itamaraty, preparatórios para a visita do Primeiro Mandatário às capitais Europeias.

2) O Brasil foi o único pais Latino Americano que enviou tropas para combater o Nazismo.


   

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

O Golpe já aconteceu

                                                                    


                                                               

Muito se ouve sobre a ameaça de Golpe de Estado que ronda a República. Bolsonaro, em inúmeras ocasiões, acena com ameaças à integridade democrática. Frases como "o meu exército", "não haverá eleição", "assim não dá" e outras exibem o animo totalitário do capitão que já tentou, no passado,  lançar bombas.

E, enquanto a atenção da sociedade é distraída pelas veladas ameaças, o Golpe já vem sendo desferido em ambiente aveludado, atrás das cortinas espessas da baixa-politica.. Em vez de recorrer aos Panzer e canhões de grosso calibre, a nova tática determina o "comer-se pelas beiradas". Os  Partidos esfomeados  por benesses encontram alimento na troca de votos, banqueteando-se na meia luz de emendas secretas.

Michel Temer, até então ator menor na cena política, revelou-se eficaz na correção do rumo estapafúrdio deixado por Dilma. No rescaldo das Pedaladas e do consequente Impedimento buscou em audaciosa PEC conter o insaciável apetite orçamentário dos governantes e resguardar o erário das aventuras inflacionárias.

Mas o Tenente, travestido em Capitão, cavalgando o lombo indócil da competição eleitoral, abocanhou o Poder mediante promessas não cumpridas. Da acenada Economia Liberal nada mais resta; Guedes, transformado em Sancho Panza de um Quixote aloprado, joga fora a chave do cofre após desmontar a fechadura.   

Para abrir mais espaços eleitorais, promove o calote "precatorial" sobre aqueles que tem, legitimamente a receber do governo. Abre, assim, o espaço pelo qual infiltra mais cem reais para o povão, àquele que desprezava quando vilipendiava o outrora Bolsa Família. Tudo pela reeleição. 

E surge nova figura, que toda a malícia anterior, tão presente no Brasil, não tinha, ainda, vislumbrado. Cria-sa, em aliança urdida pela dupla Lira-Bolsonaro, o Orçamento Secreto, onde emendas feitas à socapa, fazem a festa de poucos às expensas da República. Quem recebe? Não se sabe. Para que? Não se sabe. Quanto? Não se sabe.

Já já a balança da Justiça sentirá o peso de sua mão, ao substituir os Ministros do Supremo que se aposentam em futuro breve por seus "minions". Seguirão eles os passos firmes do Ministro Cassio com K.? Como atuará a Justiça com sua Venda e Espada nas mãos de Jair Bolsonaro?  Beware of Cassius, he is a lean and hungry man..."¹

E o golpe de misericórdia é desferido ao ingressar nas fileiras de um partido decadente, antes respeitado, que chafurda na iniquidade moral, arrastado pelo enlameado Waldemar.

Será um retrato ou um Meme que será pendurado nas paredes institucionais da Nação, quando em 2023 será entronizado Jair Mito? Dono das esperanças, não apenas daqueles mais primários que lhe dedicam devoção cega, mas daquela parte da elite que, para proteger seus anéis, perderão os dedos, e, talvez, o pescoço. 

¹) William Shakespeare - Julius César