Já faz mais de mês que Joe Biden assumiu as rédeas da mais poderosa nação do planeta.. Internamente, trouxe tranquilidade, colocando nos trilhos a política anti-pandêmica, reduzindo o nível da hostilidade político-ideológica, distribuindo substanciais recursos para a sofrida população, reduzindo o fosso e dialogando em tom bi-partidário.
Porém, na política externa, o Presidente foi buscar nas tradições do Partido Democrático o hábito moralista e, não raro, intervencionista, se auto-concedendo o direito de determinar o Certo e o Errado, porém, sob a ótica de seus interesses. Vale lembrar que ainda no Século XX vê-se o "partido do asno laborioso"¹ liderando a participação americana em ambas as guerras mundiais bem como das guerras da Coréia, do Vietnam, do Kosovo, e várias intervenções no Oriente Médio. Não se trata de um partido pacifista. Tanto Biden quanto Obama votaram pela invasão do Iraque.
Ainda hoje, o Partido é propenso à impor seus Valores às outras nações.
Na retomada do diálogo com o Irã, onde a retirada unilateral dos Estados Unidos recebe acerbas críticas de seus aliados, Joe Biden recusa reconhecer o erro e mantêm as sanções draconianas trazidas por Donald Trump. Contrariando o princípio de retorno ao status-quo-ante, impõe novas condições à Teerã, dentre as quais o desmantelamento de seu arsenal de misseis, para que retorne ao pacto anti-nuclear. Só então, suspenderia as sanções hoje vigentes. Olhando sob o prisma iraniano, dificilmente Teerã irá despir-se de sua única capacidade de defesa retaliatória, assim criando um impasse que prolongará o potencial de conflito na região.
Ainda, a dualidade de comportamento com Estados "amigos " e "inimigos", a ambivalência é claramente visível no contraste entre tratamento entre Estados impositivos tais como a Arábia Saudita, Egito, Israel, Vietnam, por um lado e Rússia e China por outro. Os primeiros são premiados enquanto o segundo grupo sofrem os rigores moralistas. Na verdade, ambos os grupos acima mencionados mereceram, por razões variadas, o opróbio da Lei Internacional e das Nações Unidas.
Já, a relação Washington - China merece especial atenção, Assim como nas relações pessoais, a história, seja do individuo, seja a de países tem crucial importância na disciplina de Entender para melhor negociar. Só é possível "entender" um país conhecendo-se sua história que, em última análise, forma a personalidade do seu povo e de sua elite. Sem tal exercício, o um dialogo de surdos resulta.
A compreensão do que move o interlocutor não significa subordinar-se à sua vontade; pelo contrario, facilita encontrar os canais de convergência, permitindo o "give and take" que precede o acordo desejado. Se o objetivo não é a guerra, então a paz resulta, onde, para mantê-la, as duas partes se beneficiam.
Negociar com a China sem conhecer as décadas de dominação que sofreu pelas forças europeias, japonesas e americanas, sem realizar o domínio absoluto inglês sobre Hong Kong até sua transferência para a China, sem levar em conta a subjugação pelo Japão de grande parte de seu território por décadas, torna-se fácil de entender porque a Nova China prioriza o poder militar e a extensão de suas fronteiras defensivas. Não é questão de Certo ou Errado, a questão é entender o interlocutor.
Surpreende, assim, que a virulência verbal contra a China se mantenha, mesmo após a demise de Donald Trump. O recém empossado chanceler, Antony Blinken, expôs uma visão agressiva face à concorrência crescente que lhes move a China, dando à sua elocução vocabulário de conflito, alegando que seu crescimento econômico-militar ameaça a segurança dos Estados Unidos. O discurso revela continuidade da política anterior na direção do conflito, armado ou não.
Ao observador cabe crescente preocupação, onde fica dito que o êxito de nação concorrente aos Estados Unidos traduz-se em ameaça à sua soberania. Ora, o Capitalismo tem na Livre Concorrência a sua essência; como pode ela embasar alegação de ameaça internacional? Será que este conceito só seria válido para Washington enquanto o concorrente lhe seja inferior?
E eis que mais um atrito internacional emerge, onde Joe Biden se deixa levar por ancora de televisão à aquiescer ao opróbrio de "Assassino" para Wladimir Putin, em diálogo referente as eleições americanas.
Tal escolha de palavras pela chancelaria americana perante a comunidade internacional, é de especial relevância como formulação de política internacional por um governo que dá os primeiros passos. Mais construtivo e tranquilizador para a comunidade internacional seria iniciar, de pronto, o esforço conciliatório, proponente de um "reset" onde as semelhanças seriam consolidadas e diferenças negociadas.
A manter os Estados Unidos uma atuação agressiva, usando ameaça de sanção econômica como ponta de lança, menosprezando a necessidade de diálogo entre iguais, acentua-se um clima de insegurança internacional, fragilizando países e instituições.
Relevante notar-se que, ao Brasil, os conflitos acima relatados contrariam seus interesses, políticos e econômicos, os quais recomendam uma politica externa de portas abertas, enquanto preservada a soberania nacional. A neutralidade nas suas relações é necessária ao desenvolvimento econômico e social da Nação.
Cabe ao Brasil ter com os Estados Unidos relação preferencial, não só por ser vizinho poderoso mas, também, pela convergência cultural. Mas sem automatismos, seja com que for. Pela sua extensão e conformação, o Brasil é relevante e insubjugável, o que leva países, amigos ou não, à respeitar suas posições pacíficas, no xadrez internacional.
A Nação enfrenta gigantesco desafio com 210.000.000 milhões de cidadãos, pobres e remediados em sua maioria, espalhados através de 8.000.000 km² com insuficiente infraestrutura. A tarefa de soerguimento é hercúlea. Conhecimento e capital são fatores primordiais para o projeto Brasil, ultimamente sujeito ao continuo rebaixamento no rol das nações. Assim, torna-se prioritário rever, em profundidade a Política Externa brasileira para que complemente a energia internacional ao esforço nacional.
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