domingo, 27 de setembro de 2020

Show na ONU



Há tempos, se algum, as Nações Unidas não assistem a tal espetáculo. Não era "Mutt & Jeff", nem "Tom & Jerry", nem "Abbot & Costello", era coisa bem mais preocupante. Mais chegado, talvez, à um "Bonnie & Clyde", onde dois protagonistas se unem na penumbra dos enganos. 

Assim, temos "Trump & Bolso". Vale notar que, em todas estas narrativas, existe o esperto e o bobo. Ao leitor cabe concluir  quem é quem.

É bem óbvio que ambos os discursos, supostamente dirigidos à comunidade das nações,  nada tinham de internacional, mas, na sua essência revelavam objetivos eleitorais. Na sua alocução Trump enfatiza o contencioso chinês, buscando na "pátria ultrajada" o voto patriótico. De seu lado, Bolsonaro dispara um rosário de afirmações duvidosas para municiar sua próxima eleição.    Ao observado cabe presumir que trata-sede diplomacia negativa, como desagradar países amigos.

Vale comentar alguns pontos do discurso do presidente norte-americano:

... com o olhar crispado e semblante belicoso, o Imperador Trump (pois não é do Império Americana que se trata?), ameaça a China por crimes cometidos e por cometer. A primeira afronta será a de ultrapassar, para futuro breve (cetibus paribus), a atual liderança econômica dos Estados Unidos. Pretende assim eliminar o "paribus". .Outros crimes são assacados contra Pequim, tal qual a intencional criação do Coronavírus com o fito de disseminá-lo nos Estados Unidos e sus aliados. 

- auto-elogiando seu desempenho, escamoteia seu declarado desprezo pelas medidas anti-pandêmicas, que rejeitando públicamente a necessária máscara e o distanciamento social.Com imprudência,  recomendava a seus cidadãos o uso de "remédios milagrosos", no caso inócuos quando não perigosos. 

- ainda, fingindo respeito á luta pro-ambiental, apesar de sua retirada do Acordo de Paris, Trump castiga a China por poluir o planeta. Segundo a imprensa, enquanto Pequim busca reduzir sua dependência no carvão como fonte energética e aumentar a incidência de automóveis elétricos, Donald estimula sua utilização em busca do voto "white trash" em West Virginia. Ainda, insiste em autorizar a expansão da prospecção e produção  de petróleo "in-shore" e no "fracking".

- proclamando ter causado a paz entre Israel, de um lado, e Árabes e Palestinos do outro, omite a  não participação da Palestina por persistir Israel na decisão de anexar as suas terras à nação judaica. Na realidade, as declarações dos participantes obscuram seu real objetivo, qual seja, uma aliança entre Israel e países Muçulmano-Sunitas do golfo Pérsico com o objetivo bélico contra o Irã.   

- encerra Trump propondo o esvaziamento da Organização das Nações Unidas, propondo a seus associados o caminho da exacerbação nacionalista, bem ilustrado pelo "America First". Aconselha o presidente norte-americano o retôrno aos tempos da rivalidade incontida, fonte histórica de inúmeras guerras e mortandade. Ou seja, mina o objetivo consensual que embasa as Nações Unidas, cuja criação hoje se celebra. 

Já, Jair Bolsonaro, contido por escopo mais modesto, deteve-se, sobretudo a questões internas brasileiras, tendo por objetivo aplacar oposição e fomentar apoio eleitoral. 

Dentre as mais relevantes afirmações, pode-se observar:

- imitando seu parceiro "senior", exaltou, com o mesmo desrespeito à verdade, seu bom desempenho face a pandemia. Diz lamentar a cada morte brasileira, esquecndo-se de suas antológicas frases: e daí! todos nós vamos morrer; trata-se de uma gripezinha; não usar máscar; distanciamento desnecessário, etc...Ainda, mesmo para a comunidade internacional, não deixou de lembrar a contestada excelência da ubíqua hidroxicloroquina!

- confrontado pelo insucesso trágico, o presidente culpa os governadores de incúria  como se o primeiro mandatário pouca responsabilidade tivesse no combate ao Covid-19, enquanto mostrava-se incapaz de respeitar os conselhos de seus ministros da Saúde. 

- já no campo internacional Bolsonaro manda o recado à China que não comprará o seu G5, por dizer negociar sómente com "países que prezem pela liberdade (sic.)" Ainda, acusa  a imprensa internacional bem como alguns países da União Europeia, apoiados pela imprensa internacional, de divulgar inverdades sbre o Brasil. 

- declara desejar a consumação do acordo Mercosul-União Europeia enquanto gera e estimula  o perigoso contencioso ambiental com os desejados parceiros.

- quanto à Venezuela observa-se uma ameaça velada, ao acusá-la de solertemente derramar petróleo em águas brasileiras. Neste contexto,  o presidente afirma que a "Paz não pode estar dissociada à Segurança." 

- elogia a paz promovida pelo parceiro Trump pela "retomada da solução do conflito israelense-palestino", referido-se a tratado recém celebrado entre árabes e israelenses sem que houvesse, sequer, a participação palestina.

- por fim, encerra sua mensagem ao mundo instando ao combate à "Cristofobia". Após longas consultas à teólogos próximos a este colunista, ainda não foi possível chegar-se à plena compreensão de qual o objetivo desta mensagem. 

Até onde irá esta parceria trági-cômica?




sábado, 12 de setembro de 2020

Leviatã ferido

 


Se alguma coisa de bom Donald Trump fez terá sido a decisão de retirar os Estados Unidos da guerra no Afeganistão. A reunião que ocorre hoje, entre Talibãs e membros do atual governo afegão sugere, não necessariamente uma paz duradoura (pouco provável), mas sim o pretexto para Washington desvencilhar-se de uma aventura mal sucedida.

Observa-se que a maior potência militar do planeta parece ter sido derrotada por um país próximo à Idade da Pedra. Depois de quinze anos de combate diário, após atingir um contingente de 200.000 soldados nos campos afegãos, Washington joga a toalha.

Após uma sequência de conflitos em terras Orientais, desde o Oriente Médio à longínqua Ásia, o colosso norte-americano parece chegar à conclusão que a imposição armada de sua vontade não mais se justifica; nem a perda de imagem, nem o custo financeiro e, menos ainda, as perdas de vidas humanas.

Enquanto a guerra do Vietnam em boa parte encontrava sua justificativa na “teoria do dominó”, onde a queda de um pais no Sudeste asiático sob o jugo comunista levaria os países  próximos ao mesmo destino, verificou-se, a posteriori, que a tese não se sustentava nos fatos. A intervenção militar norte americana no Vietnam do Sul iniciada em 1955 e, posteriormente tornando-se guerra contra o Vietnam do Norte, só terminou em abril de 1975 quando Saigon caia sob as catracas dos tanques comunistas. (¹)

Veio o Século XXI trazendo consigo um novo formato militar. Abandonando o recurso à conscrição impositiva, o Pentágono reformulou os seus exércitos, passando do exército-cidadão para o exército profissional. De fato, novo processo inicialmente  atenuou a oposição popular às guerras mas a insuspeita duração dos conflitos e seu peso fiscal  esgotou a paciência da sociedade. 

Hoje, o gosto amargo do insucesso ensina que, na guerra, nem o capital nem a tecnologia bastam para vencer um inimigo determinado, impelido por ideologia e resiliência cultural, seja ela política ou religiosa. A resistência inesperada alonga o tempo e o custo do conflito tornando-se chaga aberta no psique do povo americano.

Ignorando os ensinamentos do sábio estrategista Sun Tzu, o Pentágono parece ter desprezado o compendio que deveria ser leitura obrigatória para os generais do Pentágono: “conheça seu inimigo, conheça a terra, conheça a chuva, o vento...” Mergulhando em piscina desconhecida descobriu nela não a água transparente que esperavam, mas, sim, um caldo cultural insuspeito, grosso, resistente, pegajoso e tóxico.

Nesta guerra assimétrica pouco valeram as super bombas, os super aviões, os super tanques, os super homens (cuja estatura média seja, talvez, o dobro do escorregadio inimigo). Nas três guerras em que os Estados Unido não atingiram seus objetivos, a Vontade das “raças inferiores” superou a Tecnologia, a Riqueza. Pecaram, ainda, pela insensibilidade política ao jogar fora, ano após ano, as jovens vidas de seus soldados-cidadãos, perdidos em campo de batalha incompreensível, exótico, misterioso. Os “casus belli” não justificavam as enormes perdas. Nem no Vietnã (²), nem no Iraque (³), nem no Afeganistão (4).

Por consequência da paz que agora busca a Casa Branca, finalmente constatando o desastre repetido, ter-se-á uma indagação: para que serviu a delapidação financeira próxima ao trilhão de dólares quando o uso judicioso de tais recursos, mediante programas de aproximação econômica e política, trariam por prêmio a convergência com os governos anteriormente tidos por inimigo?

Foram “wars of choice” e não “wars of need”, onde o Leviatã, dominado pelo húbris, hoje depara-se com o retrato de Dorian Grey (5), revelando a cruel realidade até então insuspeita.


                                                             OOOOOOO


1) Contrariando a justificativa para o envolvimento americano, após a vitória de Hanoi os demais países da região não sucumbiram ao comunismo  mas, sim, mantiveram sua identidade capitalista.

    1. Vietnam:     153.000 feridos e 58.000 mortos.

    2. Iraque:          22.700 feridos e 4.600 mortos 

          4. Afeganistão: 20.000 feridos e 2.400 mortos

          5. livro de Oscar Wilde,  escritor irlandês.









sábado, 5 de setembro de 2020

Reescrevendo a história

 


Reescrever a história tem sido, no passado atividade preferida de governos totalitários. Por um longo período do Século XX, o exemplo cabe à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.  Seus livros de história recebiam novas versões dos acontecimentos passados de acordo com interesse  dos donos do poder. Não foram poucos os casos que as fotos de pessoas caídas em desgraça eram recortados e reimpressas sem constar das atualizadas  fotografias oficiais. Não existiram.   

Trinta anos após a queda do império comunista o mundo depara-se com novo movimento global, onde fatos e personagens do passado são excomungados no altar do "politicamente correto".

Somente àqueles desprovidos de sentimento humanitário teriam simpatia pelo instituto da escravidão. Sem medo de errar, somente sóciopatas veriam mérito em tal sistema. Ainda, cabe à todo ser humano possuidor  de princípios morais e empatia humana e social rejeitar e condenar tão abjeta condição.

Mas tais pensamentos e valores não refletem o que ocorreu no passado. pelo contrário, desde os primeiros passos do homem no planeta o mais forte dominava o mais fraco, seja pela força, seja pela persuasão. Nos primórdios, o derrotado na guerra era escravizado. Com o passar dos séculos cada sociedade lidava à sua maneira, com maior ou menor crueldade.  Seres de todas as raças, brancos, pretos, amarelos, bem como as demais cores do planeta, foram, a algum tempo, escravizadas.

Como disse, com acerto, um renomado filósofo Ortega y Gasset, "somos todos escravos de nossas circunstâncias". Assim o julgamento feito no Século XXI, não deve ignorar ou desprezar as circunstâncias vividas nos séculos passados. 

A derrubada de estátuas, a eliminação de peças de museus, a censura de livros tidos como racistas ferem o que é mais importante, o conhecimento do passado, da história, que nos serve de base para entender tanto o presente quanto o futuro. O repúdio, ou não, cabe à mente soberana do cidadão. A atitude niilista, de censura à outrance, torna-se instrumento totalitário, onde a imposição do pensamento "apropriado" aprisiona o livre voo da liberdade   

Há muito o que combater nos dias de hoje. Que deixem o passado ser como foi criado pelos seus contemporâneos, com seus acertos, com seus erros.  Como aprender com a história se não mais a conhecermos? 

Às admiráveis mentes e forças de mudança que tenham por objetivo a melhora dos vivos e daqueles  por vir; deixem os mortos com seus erros. Existem, ainda nos dias de hoje, formas de semiescravidão, que persistem, não mais de forma explícita, mas através de castas informais e pela insensibilidade social de algumas práticas econômicas.. 

Alguma coisa parece errada quando persistem instituições republicanas contaminadas pelo abuso endêmico de suas vantagens subterrâneas.  Quando se fala em aumentar impostos sem, preliminarmente, eliminar os meandros fiscais que permitem a isenção virtual...   Nem sempre se observa o repúdio geral contra estas condições inaceitáveis. É um escárnio quando se fala em abolir a dedução dos gastos dos remediados em saúde quando práticas vigentes, aceitas e nocivas superam exponencialmente sua relevância fiscal? 

Não queridos e sinceros rebeldes e inconformados, lutem por melhorar o presente; não gastem sua energia com o passado.



quarta-feira, 2 de setembro de 2020

VÁRIAS


Nesta semana algumas notícias merecem destaque por serem de conteúdo atípico:

1.  Publicado em 02/09/2020 por Boolmberg,  importante publicação americana:

Coins on Brown Wood

"Trickle up economy"

"One of the big things we've seen this year is that putting cash into the hands of middle and lower-income households is an incredibly effective policy that has all kinds of positive overall benefits. Trickle-up economics works. So there's a lot of talk about tax and trade policies that we might implement on a permanent basis to shift buying power to people who are more inclined to spend that money, as opposed to rich households, who will just save it and bid up the price of financial assets."

N.R: Parece inverter a verdade convencional. O conceito merece reflexão


2. Digno de nota trecho a entrevista de respeitado empresário nacional: para o jornal "Valor":



"Para o empresário, o maior acionista individual da Lojas Americanas e sócio de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles no 3G Capital, “o Brasil está permanentemente de cinco a dez anos atrás dos países mais avançados”, disse. “E isso é uma vantagem colossal, porque você pode aprender. O que mais fiz a minha vida toda foi copiar. E é copiar, melhorar...

Segundo ele, (diz o "Valor")  o Brasil tem vantagens em relação aos países mais desenvolvidos. “Temos questões tributárias, mas não temos concorrência como nos Estados Unidos, o que é mais fácil para operar. Lá, qualquer coisa que se faça tem 50 caras pensando e fazendo o mesmo mais barato”, disse.

N.R.  Não são muitas as interpretações cabíveis...


3. Ainda notícia do excelente jornal "Valor" de 01/09/2020

Photography of One US Dollar Banknotes

"O Banco Central (BC) teve perda de R$ 23,519 bilhões nas operações de swaps em agosto, até o dia 28, conforme divulgado nesta quarta-feira pela autoridade monetária. No acumulado desde o início do ano, houve perda de R$ 63,374 bilhões.
.   
N.R.  Não sai barato manter o mercado de cambio sobressaltado graças aos petardos presidenciais.