domingo, 7 de julho de 2019
Irã, a bola da vez?
Estar entre a Ásia e a Europa significa situar-se entre duas imensas forças em permanente fluxo, constante desafio. Há séculos o Oriente Médio e suas imediações é palco do conflito Leste-Oeste. Os gregos antigos, precursores da civilização Ocidental, enfrentavam o Império Persa nos anos 400 A.C. No Século XIII os mongóis devastavam a civilização árabe/muçulmana, causando calafrios nas capitais europeias. A partir do Século XV, com o surgimento dos Turcos, são derrubadas as muralhas de Constantinopla; e, em luta contínua durante dois Séculos, chegam às portas de Viena onde são derrotados.
Já, a partir do Século XIX o Oriente Médio, palco das ambições Ocidentais sobre os restos do Império Otomano, torna-se uma fértil incubadora de guerras, derivando, a seguir, para peças de um xadrez em moto contínuo
E no Século XX, a criação do Estado de Israel, com o resultante êxodo das populações árabes, tornou-se nova fonte de conflito, onde as grandes potências escolheram seus protegidos, estimulando as aventuras guerreiras de parte à parte.
Hoje, Israel, a Arábia Saudita e os reinos do Golfo Pérsico, com integral suporte de Washington, tem por prioridade a derrubada do regime iraniano, este embasado na facção Xiita do Islamismo (1) o que lhe dá influência no Iraque e na Síria.
Como parte desta política Donald Trump decidiu abandonar o Acordo Anti-nuclear celebrado com o Irã, apesar dos demais signatários, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia a China nele permanecerem. Ainda, apesar de ter o Irã respeitado os termos de tal acordo, os Estados Unidos impuseram sanções econômicas de tal ordem que impede a sobrevivência de sua economia, onde o petróleo representa a parte mais relevante.
Cria-se, assim, uma nova e intensa instabilidade na região. Revelando-se a União Europeia incapaz de manter seu lado do tratado Anti-Nuclear, permitindo um fluxo de negócios que sustente a sobrevivência econômica do país, pode-se esperar o agravamento das tensões politico-militares.
Contudo, o Irã, herdeiro do Império Persa, revela uma forte estrutura institucional. São 77 milhões, tornando-se o 17° país mais populoso do planeta. Já, a monarquia constitucional vigente se viu derrubada em 1953 pelo Shah Reza Pahlevi, com o suporte dos Estados Unidos e a Grã Bretanha. Instalou-se uma ditadura cujo resultado, poucos anos depois, foi a conquista do poder absoluto pelas facções religiosas, assim rompendo uma tendência de ocidentalização social e cultural.
No entanto, o seu desenvolvimento tecnológico acelerou-se, o que lhe permite avanços na ciência nuclear e na construção de um arsenal de mísseis modernos (2) capazes de atingir as capitais e outros pontos estratégicos de seus adversários. Esta realidade amplia a dimensão do conflito latente.
Nos últimos dias, ao abater um sofisticado "drone" americano, cujo custo de mais de cem milhões de dólares asseguraria sua incolumidade, a insuspeita capacidade defensiva de Teerã cria dúvida e desconforto ao Pentágono. Terá o Irã adquirido os foguetes russos S400?
Sem resposta tranquilizadora, um ataque aéreo norte-americano estaria subordinado à uma melhor e mais prudente avaliação por Washington. (3)
Já, a recente apreensão por tropa britânica de um navio tanque iraniano, no mar Mediterrâneo, ou seja, em águas internacionais, vem dar à este perigoso jogo uma nova dimensão. Haverá retaliação? De que forma? Quais as reações jurídicas nos foros apropriados?
Parece que se repete a geração de crescente tensão com graves consequências, não só para as partes envolvidas, pois seus efeitos políticos, econômicos e, talvez militares, se farão sentir em todo o planeta. Se guerra houver, será ela ilegal conforme a Lei Internacional. Pode-se esperar o repúdio das Nações Unidas, só limitado pelo poder de veto norte-americano (e, talvez, inglês).
No território mais imediato, ter-se-á um Iraque e uma Síria xiita pressionados por forças internas à solidariedade, ostensiva ou sub-reptícia, com o Irã. Ainda, o Hesbolah libanês, subordinado em boa parte à Teerã, seu supridor de armas sofisticadas, poderá abrir uma "segunda frente" contra Israel, com seríssimas consequências. Ainda, difícil será a posição da Turquia compartilhando extensa fronteira com o Irã, e, sendo, por um lado, aliada dos Estados Unidos através da OTAN, e, por outro, hostil à Israel e à Arábia Saudita.
Já mais afastados, razoável supor-se que tal guerra seria contraria aos interesses da Rússia, cujas relações com os países da Asia central, vizinhas do Irã, são importantes para a sua segurança. Já, a China tem no Irã um importante supridor de petróleo. Dificilmente Pequim abrirá mão deste suprimento, o que envolveria risco de confronto com os Estados Unidos..
E, finalmente, que posição tomará a União Europeia face à uma guerra que contraria seu posicionamento político?
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