quarta-feira, 17 de julho de 2019
Representar o Brasil
Muito tem se falado sobre a indicação do jovem Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, como representante do Brasil junto ao governo norte-americano.
A ser aprovado pelo Senado nacional e obtido o agrément norte-americano, o embaixador terá por interface não apenas o presidente da nação à qual estará acreditado, mas, sobretudo, com todas as demais entidades que possam influir na operacionalidade de sua missão e nas boas relações com aquele país.
Para tal, o Embaixador dará a orientação à, e terá a colaboração de um staff de diplomatas profissionais de qualidade, cuja ação convergente trará sucesso à sua missão.
O jovem Bolsonaro deverá se relacionar, não primordialmente com os filhos de Donald Trump, mas sim com o Secretário de Estado e o responsável pelo Brazil Desk e, ocasionalmente, ministros e técnicos que porventura ligados à concessão de revindicações do interesse do governo brasileiro. Muito episodicamente se reunirá com Donald Trump. Ainda, terá por responsabilidade manter boas relações com os senadores e deputados influentes on the Hill, sejam eles deste ou daquele partido. Para ampliar sua capacidade de influir para o sucesso de sua missão, deverá, também, lidar com banqueiros e líderes empresariais e da imprensa.
Serão contatos diretos de intensa frequência bem como servirá como anfitrião em recepções sociais oferecidas pela nossa embaixada em Massachussets Avenue e, eventualmente, em outras cidades, reunindo colegas de outros países e outras pessoas influentes formadoras de opinião favorável ao Brasil.
É claro para que para o bom desempenho de tal tarefa, ou seja o natural envolvimento que decorra de uma conversa, em inglês, é claro, que se valha de graça e cultura, complementada por familiaridade com a história política do país ao qual está acreditado.
É só isso, senhor Embaixador Bolsonaro. Nada para se preocupar, vai ser fácil. Em caso de dificuldade, convoque uma boa chapa e um saboroso hamburger.
domingo, 7 de julho de 2019
Irã, a bola da vez?
Estar entre a Ásia e a Europa significa situar-se entre duas imensas forças em permanente fluxo, constante desafio. Há séculos o Oriente Médio e suas imediações é palco do conflito Leste-Oeste. Os gregos antigos, precursores da civilização Ocidental, enfrentavam o Império Persa nos anos 400 A.C. No Século XIII os mongóis devastavam a civilização árabe/muçulmana, causando calafrios nas capitais europeias. A partir do Século XV, com o surgimento dos Turcos, são derrubadas as muralhas de Constantinopla; e, em luta contínua durante dois Séculos, chegam às portas de Viena onde são derrotados.
Já, a partir do Século XIX o Oriente Médio, palco das ambições Ocidentais sobre os restos do Império Otomano, torna-se uma fértil incubadora de guerras, derivando, a seguir, para peças de um xadrez em moto contínuo
E no Século XX, a criação do Estado de Israel, com o resultante êxodo das populações árabes, tornou-se nova fonte de conflito, onde as grandes potências escolheram seus protegidos, estimulando as aventuras guerreiras de parte à parte.
Hoje, Israel, a Arábia Saudita e os reinos do Golfo Pérsico, com integral suporte de Washington, tem por prioridade a derrubada do regime iraniano, este embasado na facção Xiita do Islamismo (1) o que lhe dá influência no Iraque e na Síria.
Como parte desta política Donald Trump decidiu abandonar o Acordo Anti-nuclear celebrado com o Irã, apesar dos demais signatários, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia a China nele permanecerem. Ainda, apesar de ter o Irã respeitado os termos de tal acordo, os Estados Unidos impuseram sanções econômicas de tal ordem que impede a sobrevivência de sua economia, onde o petróleo representa a parte mais relevante.
Cria-se, assim, uma nova e intensa instabilidade na região. Revelando-se a União Europeia incapaz de manter seu lado do tratado Anti-Nuclear, permitindo um fluxo de negócios que sustente a sobrevivência econômica do país, pode-se esperar o agravamento das tensões politico-militares.
Contudo, o Irã, herdeiro do Império Persa, revela uma forte estrutura institucional. São 77 milhões, tornando-se o 17° país mais populoso do planeta. Já, a monarquia constitucional vigente se viu derrubada em 1953 pelo Shah Reza Pahlevi, com o suporte dos Estados Unidos e a Grã Bretanha. Instalou-se uma ditadura cujo resultado, poucos anos depois, foi a conquista do poder absoluto pelas facções religiosas, assim rompendo uma tendência de ocidentalização social e cultural.
No entanto, o seu desenvolvimento tecnológico acelerou-se, o que lhe permite avanços na ciência nuclear e na construção de um arsenal de mísseis modernos (2) capazes de atingir as capitais e outros pontos estratégicos de seus adversários. Esta realidade amplia a dimensão do conflito latente.
Nos últimos dias, ao abater um sofisticado "drone" americano, cujo custo de mais de cem milhões de dólares asseguraria sua incolumidade, a insuspeita capacidade defensiva de Teerã cria dúvida e desconforto ao Pentágono. Terá o Irã adquirido os foguetes russos S400?
Sem resposta tranquilizadora, um ataque aéreo norte-americano estaria subordinado à uma melhor e mais prudente avaliação por Washington. (3)
Já, a recente apreensão por tropa britânica de um navio tanque iraniano, no mar Mediterrâneo, ou seja, em águas internacionais, vem dar à este perigoso jogo uma nova dimensão. Haverá retaliação? De que forma? Quais as reações jurídicas nos foros apropriados?
Parece que se repete a geração de crescente tensão com graves consequências, não só para as partes envolvidas, pois seus efeitos políticos, econômicos e, talvez militares, se farão sentir em todo o planeta. Se guerra houver, será ela ilegal conforme a Lei Internacional. Pode-se esperar o repúdio das Nações Unidas, só limitado pelo poder de veto norte-americano (e, talvez, inglês).
No território mais imediato, ter-se-á um Iraque e uma Síria xiita pressionados por forças internas à solidariedade, ostensiva ou sub-reptícia, com o Irã. Ainda, o Hesbolah libanês, subordinado em boa parte à Teerã, seu supridor de armas sofisticadas, poderá abrir uma "segunda frente" contra Israel, com seríssimas consequências. Ainda, difícil será a posição da Turquia compartilhando extensa fronteira com o Irã, e, sendo, por um lado, aliada dos Estados Unidos através da OTAN, e, por outro, hostil à Israel e à Arábia Saudita.
Já mais afastados, razoável supor-se que tal guerra seria contraria aos interesses da Rússia, cujas relações com os países da Asia central, vizinhas do Irã, são importantes para a sua segurança. Já, a China tem no Irã um importante supridor de petróleo. Dificilmente Pequim abrirá mão deste suprimento, o que envolveria risco de confronto com os Estados Unidos..
E, finalmente, que posição tomará a União Europeia face à uma guerra que contraria seu posicionamento político?
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