quarta-feira, 19 de junho de 2019
O que fazer na Política Externa?
Sem dúvida, Donald Trump chegou para sacudir as relações internacionais. Divergindo do conselho de Ted Roosevelt, "speak softly and carry a big stick", o atual presidente apenas carrega, e usa, o grande porrete sem se preocupar em falar suavemente.
Enquanto o presidente norte-americano semeia a apreensão através das fronteiras que dividem o mundo, desrespeitando contratos, abandonando tratados, lançando tarifas como se fossem dardos, não é raro encontrar-se brasileiros que o admiram e apoiam.
Assim sendo, importa que, em Brasilia, os formuladores da política externa percebam que os laços que unem este país ao colosso americano precisam ser dosados, favorecidos porém não sendo incondicionais. Inegavelmente, os dois gigantes americanos (1), além de compartilharem uma história multi- centenária de convergência política e econômica tem interesses comuns em manter a estabilidade política nas Américas,. Ambos são países que privilegiam a democracia e a economia de mercado.
Contudo, por seu lado, a política externa brasileira deve basear-se sobre seus interesses, não apenas os imediatos , mas, também, os de longo prazo que ultrapassem as realidades do momento. A boa compreensão dos fatores geo-políticos que cercam a nação é essencial para guiar o intercâmbio dos interesses nacionais bem como a formação de alianças. Sob alguns aspectos os dois países, Brasil e os Estados Unidos, nem sempre são complementares, não raro sendo competidores. No campo do comércio exterior, os dois países são concorrentes. Levando-se em conta a pauta de exportação nacional, onde as commodities preponderam, constata-se rivalidade.
A relegar-se este contencioso comercial à negociação entre as partes, inevitável seria a balança pender para o mais forte, com prejuízo para o Brasil. Contudo, as fortes tensões que por vezes resultam tem sido atenuadas quando não dissipadas graças à intervenção de instituições ancilares à Organização das Nações Unidas tais como a OMC (2), que permite a mediação e a arbitragem.
Quanto à dependência brasileira nos mercados financeiros internacionais, o ingresso de capitais IDP(3), estes proveem, em sua maior parte, da União Europeia e da China, ocupando os Estados Unidos o terceiro lugar. Curioso constatar-se que a contribuição da União Europeia para com o investimento direto no país é duas vezes superior daquele proveniente dos Estados Unidos.
Quanto à política continental seguida pelo Brasil, esta difere, substancialmente, d'aquela adotada, mundi et orbi, pelos Estados Unidos. Para Washington, a América do Sul em geral e o Brasil em particular, são peças menores de xadrez em tabuleiro que abrange o planeta. Neste jogo, o sacrifício de peças é, por vezes, necessário. Ainda, sob a ótica de Foggy Bottom(4) mais vale um Brasil adormecido do que vigoroso. A influencia norte-americana sobre a América do Sul tão mais forte será quando menos relevante for o Brasil.
Herdeiro da política pacificadora de Rio Branco, o Brasil, apoiado em sua dimensão econômica, geográfica e demográfica soube usar influência construtiva junto a seus pares sul americanos. Seu poder sempre foi brando e pacífico rejeitando demonstração de força, permitindo-lhe, desta forma, a autoridade moral de mediador nos conflitos sul-americanos.
Dono de extensas fronteiras de difícil proteção, o Brasil entende que sua integridade depende da prevalência de ambiente pacífico na região, longe de alianças de potencial bélico. Para Brasilia, conflitos no seu entorno, mesmo sem hostilidade direta, representa desequilíbrio político indesejável.
Desta forma, a recente divulgação de uma propalada "aliança especial com os Estados Unidos" exige um melhor conhecimento de suas condições para que o Congresso brasileiro possa avaliá-la. Quais as obrigações recíprocas em tal tratado? Ainda neste tema, causa preocupação a aventada designação do Brasil como aliado "junior" da OTAN. Perseguindo os Estados Unidos uma política afirmativa que hoje confronta a China e a Rússia no outro lado do tabuleiro geo-político, e tendo a OTAN o declarado objetivo de "conter a expansão russa"(5), torna-se-á difícil para o Brasil participar de tal aliança sem comprometer o bom relacionamento, político e econômico, até hoje existente, com aqueles dois países.
Observa-se, assim, que a construção da política externa brasileira, nestes tempos instáveis, tanto no campo econômico quanto no político, requer bem mais do que preferências eleitorais ou ideológicas.
1. Excluído da definição tendo em vista a pequena população do Canadá.
2. Organização Mundial do Comércio
3. Investimentos Diretos no País
4. Apelido para o Itamaraty norte-americano
5. Fareed Zacharia, respeitado cientista político norte-americano, advoga ser o confronto de responsabilidade mútua (Vide a publicação "Foreign Affairs)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário