segunda-feira, 26 de novembro de 2012


REARRUMANDO O ORIENTE MÉDIO

Guerra Civil da Síria, ameaça nuclear do Iran, atentados no Iraq, protestos no Bahrein e na Jordânia e, finalmente, e novamente o conflito Palestino Israelense.

O conflito  não surpreende pois ocorre entre um país oprimido e um país opressor. Dizer-se que o conflito foi provocado pelo Hamas é tão válido como atribuí-lo à Israel. São dois contendores em estado de guerra latente.

O conflito é absolutamente assimétrico, porém, desta vez, a inclusão dos foguetes sofisticados teve mais um efeito simbólico do que militar. Sun Tzu teria admirado como o poder psicológico do fraco conteve o poderoso inimigo. Sim, porque os foguetes de Hamas mataram cinco e feriram cento e onze Israelenses enquanto mais de centena de palestinos foram mortos pelos aviões e foguetes de Netanyahu. Porém anunciaram quão vulnerável se tornaram as cidades Israelenses, onde nem muro nem força armada poderão protegê-las para sempre. Em outras palavras, o foguete teve pouco resultado tático, mas alterou o equilíbrio estratégico.

O Estado Maior Israelense sabe que a única forma de impedir a re-estocagem de mísseis em Gaza seria através de uma ocupação permanente. Esta teria um custo inaceitável, não tanto pela eficácia da resistência, mas pela inviabilidade em termos de logística e de alocação relevante de tropa. Acresce a enorme fricção de controlar-se uma população extremamente hostil de mais de um milhão de pessoas. Ainda a fronteira com o Egito, hoje bem mais próximo e tolerante do Hamas, facilitaria a rota de reabastecimento dos eventuais rebeldes.

É claro, a alternativa de punir qualquer reinicio de lançamento de foguetes provavelmente receberia como resposta novo ataque Israelense, cuja dimensão poderia significar a destruição de Gaza, com milhares de mortos.

A resposta da opinião pública mundial tenderia a ser nitidamente contrária à Israel. Matanças não são mais bem aceitas e a perenidade do contencioso torna-se um irritante geopolítico com crescentes ramificações. A transformação do povo de Israel de perseguido em perseguidor desafia a compreensão de europeus e americanos (latu senso). A estes se juntam o Egito e Turquia, os dois pólos de poder Muçulmano na região, que não mais toleram o uso da força contra os Palestinos.

Já, os aliados Norte Americanos se encontram numa encruzilhada. A perda do ditador Mubarack retira de Washington o dócil joguete, manobrado para atender os interesses de Tel Aviv. A Turquia, outro nascente pólo de poder regional, foi alijada graças à enorme truculência Israelense, ao matar participantes Turcos desarmados em sua jornada à Gaza. Ainda,  perder o peão Turco, membro da OTAN, só pode ter causado consternação tanto no Pentágono como no Departamento de Estado.

Apesar das declarações de Obama, sobre o direito de defesa de um pais que aprisiona um outro povo não serem edificantes, na prática pouca força tiveram para favorecer a continuidade dos bombardeios Israelenses, tão a gosto de Hillary Clinton (Gaza redux, 2009).  Pelo contrário, em vez de Washington, com todo seu poderio, impor a paz, pediu ao Egito que o fizesse. Fez-se o vácuo, e foi preenchido.
Parece razoável concluir-se que o xadrez alterou-se em detrimento de Israel. O bom que poderia ser extraído na direção da paz ainda não está tão perto, porém a tendência será nesta direção. Passo importante será o apoio à pretensão Palestina de reconhecimento pela  Assembléia Geral da  ONU como “estado observador”.

A ferrenha oposição de Barack Obama e Benjamin Netanyahu à pretensão de Mahmud Abbas, lastreia-se sobre argumentos que nos remetem ao “doublethink”  de Orwell em seu  notável “1984”, onde o governo criava realidade alternativa para àquela que era veraz. Alegar-se, como fazem os parceiros acima,  que o processo de paz seria prejudicado pela anêmica Palestina, rejeita a realidade da incontida penetração de Israel na Cisjordânia através da expansão dos assentamentos garantida por décadas de ocupação militar. Como pode a formiga negociar com o tamanduá senão contando sua história ao concerto das nações...

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Uma nação que se transforma

A eleição de Obama, e sua recente reeleição chama nossa atenção para as mudanças demográficas que ocorrem nos Estados Unidos. Expressiva maioria de latinos e asiáticos, aliados à 91% do eleitorado negro levaram à Casa Branca a antítese do poder WASP. Ainda, os jovens  de todas as raças viram em Obama um futuro mais sensível para com a classe média e mais solidário para com os pobres..

Mais informações são oferecidas no trabalho estatístico de A. Gelman e A. Feller da Universidades de Columbia e Harvard, onde se constata que, tivesse o eleitorado renda anual superior a US$ 100.000, 54% dos votos iriam para Mitt Romney. Fosse a renda abaixo dos US$ 50.000 então 60% dos votos pertenceriam a Barack Obama. Confirma que  60% dos jovens preferiram o presidente, e 54% dos idosos acima de 65 anos votaram em Mitt Romney. Ainda, e não menos importante, a maioria das mulheres preferiram o presidente.

O resultado da eleição parece sugerir a gradual perda da preponderância do segmento  WASP no cenário eleitoral, ainda que majoritário demográficamente. A derrota é ainda mais surpreendente tendo em vista a profunda crise econômica que assola aquele país.

O perfil Republicano, aparece como  intimamente associado à raça branca e seu Cristianismo Protestante ao qual se une a recente influência do Tea Party . Este se apropria, ainda que desvirtuando, do notável movimento em prol da independência americana.  Defende uma visão do Estado Mínimo, se opondo às iniciativas de equilíbrio social. Ao defender uma política econômica favorecendo o topo da pirâmide econômica, os Republicanos alijaram parte relevante das classes média e menos favorecida.

Nos últimos anos o ganho real da classe média foi modesto, enquanto os 10% mais ricos absorvem hoje mais de 50% do acréscimo de riqueza anual gerada no país. Tal disparidade já vem se refletindo no acesso à educação superior e na conseqüente  perda de mobilidade social norte americana. Questiona-se a tese Republicana, que pretende que todos têm a oportunidade de prosperar, basta querer estudar e trabalhar. Ora o estudo inferior leva ao emprego inferior assim gerando o circulo vicioso que fragiliza a estabilidade social.

O governo Obama, reconhecendo a mudança de forças políticas que compõem o país,   promete reverter a crescente disparidade de oportunidades aos cidadãos, mas encontrará no partido opositor tenaz resistência. Enquanto o Partido Democrata defende tanto a redução de gastos quanto o aumento de receitas através de impostos para o erário combalido, por outro lado o Sr Boehner, líder dos Republicanos na Câmara dos Deputados, já avisou que  não concordará com qualquer aumento de impostos, acentuando a exigência de corte das despesas do Estado.

Neste engessamento ideológico o país se aproxima do Precipício Fiscal, assim denominado o momento em que redução draconiana de despesas, simultânea ao aumento de impostos para todas as camadas sociais, parece levar os Estados Unidos à beira da Depressão. Contudo, o ditado Inglês que reza “a visão do patíbulo aguça a mente”* aplica-se a este dilema. Tão graves serão as conseqüências que razoável será prever concessões de política fiscal, de parte a parte, que evitem o desastre fiscal.

*The sight of the gallows sharpens the mind



Pedro da Cunha

quinta-feira, 1 de novembro de 2012



O bom caminho

Estamos em dias de  festa cívica. O Brasil começa a acreditar na Justiça, aquela que, até bem pouco tempo se escondia nas entrelinhas do Código penal, se ocultava atrás dos recursos funambulescos, se    agachava atrás das prescrições. Hoje o Brasil, através de seu Supremo Tribunal, descortina o caminho a seguir para reerguer a República.

Os Ministros do Supremo, ou sua maioria, demonstraram a coragem da imparcialidade face à influência sombria do poder político. Tiveram por alicerce o Ministério Público, a Policia Federal e  aqueles políticos que houveram por bem buscar a verdade nas Comissões Parlamentares de Inquérito. Tiveram, também, o apoio de grande parte da imprensa, revelando o lamaçal moral que, por vezes, envolve a política nacional.

Não cabe a argumentação de alguns políticos e militantes  que acusam o Supremo Tribunal de viés partidário. Basta lembrar que as provas foram colimadas pela Polícia Federal,  órgão subordinado ao Ministério da Justiça, partícipe do governo PT mas não cúmplice dos inúmeros ilícitos apurados. Ainda,  torna-se relevante assinalar que os Ministros do Supremo Tribunal, se não pertencem a partidos políticos foram, na sua maioria, 7 dentre 10, designados pelo governo do PT. Constata-se claramente que buscou o STF, com admirável isenção, colocar seu dever acima de inapropriada gratidão. Buscou a  identificação e a punibilidade dos crimes praticados.

É um momento,  não apenas de regozijo cívico,  mas  também, de reflexão. Constata-se que a contribuição da Oposição foi quase inexistente, o que sugere existir uma convergência espúria de interesses que aproxima  alguns segmentos das duas alas do Congresso. Nota-se, também, o silêncio constrangido da maioria esmagadora dos parlamentares do PT, que certamente reconhecem neste episódio, o fortalecimento da República e de suas instituições, e não de perseguição política. Finalmente, e talvez o mais importante no que tange nosso quadro político, cabe a admiração dos brasileiros pela postura serena, correta e respeitosa da presidente Dilma Rousseff, renunciando à qualquer pressão indevida, assegurando a independência dos Poderes que regem a Nação.

Falta muito a fazer. Porém, cabe-nos esperar que a Lei da Ficha Limpa, em aliança virtuosa com o Supremo Tribunal, venham a filtrar, gradualmente,  o turvo caudal que ora ameaça nos submergir, trazendo ao amanhã crescente limpidez. Nossos filhos merecem.