REARRUMANDO O ORIENTE
MÉDIO
Guerra Civil da Síria,
ameaça nuclear do Iran, atentados no Iraq, protestos no Bahrein e na Jordânia
e, finalmente, e novamente o conflito Palestino Israelense.
O conflito não surpreende pois ocorre entre um país
oprimido e um país opressor. Dizer-se que o conflito foi provocado pelo Hamas é
tão válido como atribuí-lo à Israel. São dois contendores em estado de guerra
latente.
O conflito é
absolutamente assimétrico, porém, desta vez, a inclusão dos foguetes
sofisticados teve mais um efeito simbólico do que militar. Sun Tzu teria
admirado como o poder psicológico do fraco conteve o poderoso inimigo. Sim,
porque os foguetes de Hamas mataram cinco e feriram cento e onze Israelenses
enquanto mais de centena de palestinos foram mortos pelos aviões e foguetes de
Netanyahu. Porém anunciaram quão vulnerável se tornaram as cidades Israelenses,
onde nem muro nem força armada poderão protegê-las para sempre. Em outras
palavras, o foguete teve pouco resultado tático, mas alterou o equilíbrio
estratégico.
O Estado Maior
Israelense sabe que a única forma de impedir a re-estocagem de mísseis em Gaza
seria através de uma ocupação permanente. Esta teria um custo inaceitável, não
tanto pela eficácia da resistência, mas pela inviabilidade em termos de
logística e de alocação relevante de tropa. Acresce a enorme fricção de
controlar-se uma população extremamente hostil de mais de um milhão de pessoas.
Ainda a fronteira com o Egito, hoje bem mais próximo e tolerante do Hamas,
facilitaria a rota de reabastecimento dos eventuais rebeldes.
É claro, a alternativa
de punir qualquer reinicio de lançamento de foguetes provavelmente receberia
como resposta novo ataque Israelense, cuja dimensão poderia significar a destruição
de Gaza, com milhares de mortos.
A resposta da opinião
pública mundial tenderia a ser nitidamente contrária à Israel. Matanças não são
mais bem aceitas e a perenidade do contencioso torna-se um irritante
geopolítico com crescentes ramificações. A transformação do povo de Israel de
perseguido em perseguidor desafia a compreensão de europeus e americanos (latu
senso). A estes se juntam o Egito e Turquia, os dois pólos de poder Muçulmano
na região, que não mais toleram o uso da força contra os Palestinos.
Já, os aliados Norte
Americanos se encontram numa encruzilhada. A perda do ditador Mubarack retira
de Washington o dócil joguete, manobrado para atender os interesses de Tel
Aviv. A Turquia, outro nascente pólo de poder regional, foi alijada graças à enorme
truculência Israelense, ao matar participantes Turcos desarmados em sua jornada
à Gaza. Ainda, perder o peão Turco,
membro da OTAN, só pode ter causado consternação tanto no Pentágono como no
Departamento de Estado.
Apesar das declarações
de Obama, sobre o direito de defesa de um pais que aprisiona um outro povo não
serem edificantes, na prática pouca força tiveram para favorecer a continuidade
dos bombardeios Israelenses, tão a gosto de Hillary Clinton (Gaza redux, 2009).
Pelo contrário, em vez de Washington,
com todo seu poderio, impor a paz, pediu ao Egito que o fizesse. Fez-se o
vácuo, e foi preenchido.
Parece razoável
concluir-se que o xadrez alterou-se em detrimento de Israel. O bom que poderia
ser extraído na direção da paz ainda não está tão perto, porém a tendência será
nesta direção. Passo importante será o apoio à pretensão Palestina de
reconhecimento pela Assembléia Geral da ONU como “estado observador”.
A ferrenha oposição de
Barack Obama e Benjamin Netanyahu à pretensão de Mahmud Abbas, lastreia-se
sobre argumentos que nos remetem ao “doublethink” de Orwell em seu notável “1984”, onde o governo criava realidade
alternativa para àquela que era veraz. Alegar-se, como fazem os parceiros
acima, que o processo de paz seria prejudicado
pela anêmica Palestina, rejeita a realidade da incontida penetração de Israel na
Cisjordânia através da expansão dos assentamentos garantida por décadas de
ocupação militar. Como pode a formiga negociar com o tamanduá senão contando
sua história ao concerto das nações...