quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Um novo horizonte



Graças aos atos do Presidente envolvendo os militares na validação das urnas eletrônicas, e graças à decisão de duvidosa prudência do Ministro Barroso (à época de sua liderança do TSE) ao convidar a presença militar na comissão que apura a confiabilidade das urnas eletrônicas, tem-se hoje crescente envolvimento do Exército em área exclusiva do Poder Civil que rege o processo eleitoral brasileiro.

Apesar de insistentes advertências do Tribunal Superior Eleitoral à Jair Bolsonaro sobre o perigo que a propagação de suas infundadas dúvidas sobre as urnas eletrônicas firam a confiança do eleitor no processo eleitoral, Jair Bolsonaro insiste em manter seu discurso de desconfiança. Declara rejeitá-las caso, segundo ele,  as  eleições não forem "limpas". Vale, então, a indagação: quem definirá a higidez do processo? O presidente? As Forças Armadas? ou o Tribunal eleitoral?

E qual seria o fito da dúvida semeada? A indagação pode levar um observador da política brasileira a  perguntar se um objetivo extra-constitucional  estaria por trás de tais críticas. Será que, iniciada a eleição e constatada uma eventual vantagem do candidato oposto ao governo, haveria interrupção, adiamento ou anulação das eleições?

Pelo que se observa, as portas se abrem pela primeira vez no país redemocratizado,  para a participação militar no TSE.  Esta, adquirindo ímpeto próprio, faz surgir o temor de nova interferência castrense onde o Ministro da Defesa insiste em enviar mais dez soldados para renovado "teste" da inviolabilidade das urnas. 

Simultaneamente, em iniciativa surpreendente, o Procurador Geral da República,  Augusto Aras, rejeita a necessária equidistância entre os Poderes da república, alia-se ao Presidente da República ao solicitar reunião com os comandantes das três Armas  para tratar de "eleições e instituições". Com que objetivo? Já realizada a reunião, seu tema não foi divulgado ao público, assim abrindo as portas à versões contrárias à tranquilidade que um período eleitoral exige. 

Qualquer interrupção do processo constitucional será inaceitável e, certamente, as FF AA, cientes da existência de alguns núcleos antidemocráticos agindo na periferia política, apoiarão as providências legais para contê-los, e, se necessário for, puni-los. Pressupõe-se que os demais comandos militares das forças de terra, mare e ar, alocados às diversas regiões brasileiras, estejam mobilizadas em defesa da democracia.

Neste momento o Brasil está sob a atenção internacional, que, com viés crítico, acompanha o desenrolar do momento eleitoral; seus observadores contam com que a sua democracia e seu respeito à preservação do meio ambiente seja fortalecido no processo de sucessão presidencial. 


sábado, 20 de agosto de 2022

Religião e Eleição



Oração espiritual, mãos, sol, brilhar, com, obscurecido, bonito, pôr do sol


Nada mais importante do que o comportamento responsável, solidário, generoso que as religiões ensinam a seus fiéis. Os Deuses são diferentes em muitas delas, mas a mensagem de fraternidade é comum a todas pois a religião precede às leis e normatizam a vida em sociedade, a vida comunitária. Antes da religião a lei era a do mais  forte e flexível conforme as circunstâncias e interesses daqueles que detinham o poder para ditá-las.

Todas as religiões (desde que não firam a sociedade que a abriga) são válidas, desde o monoteísmo Cristão, ao politeísmo Indiano e ao pandeismo Japonês. 

Também é verdade que religião, poder e riqueza não raro se mesclam, assim perdendo sua pureza ao privilegiar o benefício terreno. Pode ela ser  mutável em busca de adaptação, como pode ser dogmática e estática ignorando um mundo em transformação. 

Porém, o mundo moderno aprendeu a necessidade de separar a religião da política, rejeitando os tempos passados da verdade absoluta em confronto com a relatividade intrínseca à prática democrática. Deste entendimento prosperou a fórmula do Estado Laico abandonando a prevalência do Dogma. 

Hoje se observa um desvio preocupante através da tentativa, sob o comando de Jair Messias Bolsonaro, de mobilizar uma facção religiosa como arma  na busca de poder político, assim desprezando a norma constitucional da laicidade. 

Nas eleições parlamentares  que se aproximam constata-se a candidatura de 900 postulantes  de identificação religiosa, na grande maioria evangélicos. Se eleitos, transformariam o parlamento em poder pseudo-teológico a serviço do "Messias" de plantão, assim emulando a entronização de um "aiatolah" cristão. 

As declarações disseminadas na mídia nacional onde o Presidente afirma  estar sob proteção divina relega o adversário político, perante o eleitorado evangélico, à diabolização por renegar o "escolhido". Violentam não só a razão como também a Constituição, ao privilegiar uma casta e assim  negar a igualdade dentre os cidadãos. Geram o absurdo corolário que sugere ser seu adversário indigno de semelhante proteção. 

Assim desequilíbrios exógenos são criados por razões de crença e não de mérito; àqueles protegidos pela crença "oficial" recebem a preferência do Poder constituído, ampliando seu acesso às benesses concedidas e aos privilégios a outros negados. 

Já, do ponto de vista macro, a opção pelo uso eleitoral da via Evangélica tende a estimular uma contra-reação das demais religiões ou crenças, assim envenenando a nação com o germe de um conflito religioso e hostilidade mútua nunca antes vista no Brasil. 


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Comercio ou Guerra?




Para aqueles que leram o último bom livro de Ken Follet, "NUNCA", uma guerra nuclear pode resultar de uma soma de incidentes menores, de ação e reação, até um ponto de ruptura. Como bom exemplo tem-se o assassinato em 1914 do Grão Duque da Austria em Sarajevo. A partir deste fato, de menor relevância do ponto de vista internacional, uma serie de ações e reações levaram a Europa a mais sangrenta das guerras, sem que nenhuma das nações envolvidas no conflito a desejasse.¹. 

Hoje, tal ponto de ruptura poderá ter por palco a ilha de Taiwan, antes nomeada pelos ingênuos navegadores portugueses de Formosa. Perdeu seu doce nome e hoje pode tornar-se o amargo estopim de uma guerra nuclear, o Armaguedon que ameaça o planeta.

Tendo em vista a crescente hostilidade entre os Estados Unidos e a China, tem-se a recusa do primeiro em aceitar a perda da liderança econômica sobre o planeta, primeiro passo para a prevalência da China no campo geopolítico.  Recusando aceitar a atual tendência, Washington se empenha para revertê-la ativando seu arsenal regulatório, legal e político contra a expansão da economia chinesa e o decorrente aumento de sua influência política em seu entorno. 

Apesar de ter a China afirmado ser Taiwan parte de seu território, também declara  que sua reabsorção é um projeto de prazo longo deixando ao tempo a melhor oportunidade para concretizá-la. Contudo,  constata-se posição contrária tomada pelo partido Democrata, ao enviar a Senadora Nancy Pelosi e, em seguida, uma comissão de parlamentares norte americanos à ilha visando estreitar relações. Desta forma, dois objetivos de Washington são alcançados: o primeiro, o de manter pressão sobre Pequim reduzindo sua margem de manobra econômica e militar; o segundo, a iniciativa oferece ao partido Democrata dividendos neste momento eleitoral ao gerar tensão externa. Uma aliança político-militar de Washington e Taipê significaria  transpor os limites impostos por Pequim.   

Importe lembrar-se que, seguindo sua tradição de partido pró guerra bem como atendendo seus interesse eleitorais, o partido Democrata desenvolve, neste caso,  uma agenda de provocação territorial, a mais grave dentre todas. Cria-se, assim,  um quadro propício para um conflito que poderia tornar-se nuclear. Um avião abatido, uma belonave afundada pode levar à escalada de hostilidades. A ser  uma  escalada recíproca, qual será o limite?

Esta conjunção de fatos favorece a natural a aliança entre a Russia e a China, ambos sob pressão hostil norte-americana. Como consequência no lado adversário tem-se a expansão da OTAN pela inclusão da Suécia e da Finlândia, a, ainda, pelas imposição de sanções econômicas. 

Tal cenário já revela crescente inter-relação entre os dois países asiáticos²; enquanto a China importa petróleo russo, minérios, alimentos e armamento que lhe são essenciais,  a Russia poderá colocar seu arsenal nuclear, o maior do planeta, em defesa da China.

Tal aliança parece consolidada. Caso Washington persista na pressão sobre estas duas potências, mais próximo estar-se-á de um conflito nuclear. O advento da preponderância de misseis na guerra moderna, gera-se a zona cinzenta onde a ameaça que traz o míssil inimigo tanto pode ser convencional quanto nuclear. Como decidir a retaliação? No caso de guerra nuclear, o primeiro a optar por ela levará imensa vantagem. Assim, estabelecem-se as condições favoráveis  para a opção pelo desastre,  

Para o observador isento cabe a indagação: porque não permitir o desenvolvimento econômico da China? A Pequim não interessa os conflitos que adviriam de uma politica de ampliação territorial nem, tão pouco, atritos internacionais que possam reduzir seu crescimento econômico e alto ritmo de instrução e sofisticação científica que lhe trará crescente segurança tecnológica.

Tal progressão,  salvo um cataclisma bélico, será inevitável. Levando-se em conta a população da China de 1,5 bilhão de cidadãos e seu sistema de governança impositivo, ter-se-á uma crescente capacidade de ensino sofisticado. Ceteris paribus,  a tendência será que a cada cientista produzido pelos Estados Unidos três a quatro chineses estarão sendo formados.

Mais vale a China como parceira, não inimiga.   


1) A não ser a França para vingar-se da derrota que lhe impôs a Prússia em 1871

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Faz de Conta



Existe uma nítida propensão à fuga da realidade na sociedade moderna, substituindo, gradual e paulatinamente, o mundo real em benefício de incursões cada vez mais profundas ao mundo do "faz de conta". O stress da luta pelos objetivos pessoais fundamentais em contexto de veloz mudança do seu entorno acentua o desgaste psíco-emocional, gerando a busca por alívio.  Dentre elas destacam-se o advento do MetaVerso e da Moeda Virtual. 

O MetaVerso cria riqueza do nada, ou melhor a pseudo-riqueza, ao gerar o comercio e o investimento de bens tornados valiosos pela mera vontade de qualquer indivíduo em "existir" na realidade paralela. Ao movimento jantam-se empresas que "oferecem" seu produtos, devidamente identificados, para o fim exclusivo de serem transacionados no ambiente virtual. Assim, bolsas do Hermes ou sapatos Louboutin trocam de donos mediante pecunia abstrata. Os aficionados garantem que casas e terrenos podem ser comprados e vendidos por moeda real.

Não bastasse este não-universo, tem-se a moeda virtual, cujo curso é real, alimentando comércio, investimentos e, até mesmo, poupança.  Do lado ativo, uma combinação de criatividade, audácia, e faro de sangue-dinheiro leva o homem-lobo à busca incessante de novas avenidas, nova carne, novo lucro; já, do lado passivo, tem-se o homem-cordeiro, levado pelos cães do dono aos currais da satisfação vicária, trazida pela combinação da tecnologia que dá à esperteza a pátina da respeitabilidade.

Esta adesão à realidade alternativa decorre, presume-se, de uma insatisfação de crescente segmentos das classes abastadas, onde o "cafard" procura o novo descartando o conhecido. Sim, uma vez que as classes necessitadas pouco tempo terão para incursões abstratas. Encontra o homem, então, a Moeda Virtual, uma abstração sem referência que guie a compreensão de seu valor. Tanto pode valer "Mil" quanto "Um", pois em ambos os casos sua essência se iguala. Sem parâmetro, sem referência, sem lastro serve para abrir porteiras para a inconsequência, para a fortuna, para a ruina.



E chega-se ao mais grave, onde a sociedade e suas instituições basilares paulatinamente se acumpliciam a este jogo de espelhos onde tudo é, e onde tudo, a qualquer momento,  pode não ser. A adesão de bancos conhecidos e poderosos, obedecendo à busca continua de lucro a despeito de valores fundamentais como a prudência, abrem departamentos, convocam minions, para gerir e explorar um não-ativo  que está "na moda".

Este "ativo" despencou de 60.000 dólares para 20.000 dólares sem que  hesitação houvesse. Queda vertiginosa de 66% em poucos meses.  Porque caiu tanto, quando as ações e os imóveis, caíram, pelas razão da alta dos juros internacionais, digamos 5 ou 10%? Porque, ao contrario de imóveis e ações representando valores reais, o "coin" nada vale intrinsecamente, assim revelando sua fragilidade. Vesti-lo com a respeitabilidade de uma instituição financeira parece ser grave erro.