sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Armas nos USA

Em sequência ao artigo acima pareceu-me relevante reproduzir pesquisa sobre propriedade de armas, publicada no New York Times. Para melhor compreendê-la vale lembrar que, do ponto de vista demográfico, o Partido Republicano é composto, em sua significativa maioria, por cidadãos brancos. Já os Democratas são multi raciais, incluindo parcelas relevantes de jovens brancos, um conteúdo importante de mulheres, bem como negros, hispânicos e  asiáticos.

Quanto a religião, dentre os brancos  e negros prevalece a religião protestante, esta fracionada entre  protestantes tradicionais tais como Episcopalianos (Anglicanos), Prebisterianos (Caslvinistas) e Evangelicos dentre os quais os Metodístas. Já, dentre os brancos, os Católicos são pequena minoria, contrariamente ao que se observa no segmento Hispânico.No total 51% da população é Protestante e 25% é católica. As demais religiões representam 4% e os não religiosos, aproximadamente 20%.

Espero que estas informações contribuam para um melhor entendimento da cultura armamentista daquele país:

Possuem armas:
                                                                      TODOS            DEM              REP
1. Dentre todos entrevistados                          42%                   31%                56%

2. Homens                                                      48                      40                   57

3. Brancos                                                      47                       37                  55
    Hispânicos                                                  29                       28                  32
    Negros                                                       21                       17                  41
    Asiáticos                                                    15                          5                  22

4. Rural                                                          60                       57                  65
    Suburbio ( rico, nos USA )                         42                       27                  58
    Urbano                                                      30                        20                  40

5. Secundário ou menos                                 41                         33                 59
    Faculdade parcial                                       43                         30                 59      
    Diploma Universitário                                 33                         22                 48
    Post graduação                                          32                         22                 48

6. Protestantes                                               54                         44                 60
    Evangélicos                                                50                         39                 61
    Católicos                                                   39                          33                51
    Sem religião                                               32                          21                58

Constata-se, claramente, que a prevalência de armas no segmento Republicano (WASP e aderentes) supera amplamente àquela das demais raças e segmentos. Como consequência temos a predominância do culto à arma espelhado na força política da National Rifle Association. Será razoável concluir-se que somente sob um governo Democrata poderá os Estados Unidos iniciar um processo de desarmamento parcial.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


Oscar Niemeyer, outra opinião

Somos um país de imensa qualidade, onde despontam personalidades excepcionais que merecem o respeito e a admiração pública. Contudo, mais se observa a tendência de nossos conterrâneos em denegrir àqueles que atingem proeminência e conquistam a estatura de grandes homens.  Dentre as lacunas que afligem a educação de nossos jovens observa-se a falta de reverência pelos nossos expoentes. Tal descaso reduz nossa auto estima e fragiliza nossa capacidade de superarmo-nos. Verificamos, hoje, nova manifestação de auto flagelação, onde um homem excepcional é reduzido e diminuído, na praça pública que a mídia oferece.  

Oscar,  por ser comunista sofreu neste artigo, acusação digna da Inquisição de Torquemada. A condenação de sua memória subordinou-se à fé capitalista defendida pelo autor.  Niemeyer é  reverenciado internacionalmente, apesar de seus ideais. E não será o único; o escritor português, José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura também o era. Diego Rivera, notável pintor mexicano, partilhava da mesma convicção sem que ela diminuísse a admiração de seus conterrâneos. Jean Paul Sartre, comunista durante sua longa carreira de notável pensador e escritor merece e merecerá a admiração de todos aqueles que refletem sobre os labirintos da vida humana.

Foi ele acusado  de inúmeros mal feitos e comportamento nefasto, contrario aos valores que o articulista defende como impositivos. Não parece justo.  Quanto veneno destila aquele que, sob o jugo de uma crença, julga-se proprietário do certo, e algoz do errado.

Condenado, pelo autor,  por não ter repartido sua fortuna e tornado-se pobre por ser comunista, reflete uma imperfeição na argumentação. Inicialmente, foram muitas as obras de Niemeyer doadas às causas convergentes com sua crença. Quanto terá ele contribuído para a caridade e obras sociais? Provavelmente tanto quanto qualquer outro. Ainda, contrariamente ao voto de pobreza encontradiço em certas ordens religiosas, este nunca foi um requisito para os admiradores do ideal comunista.  

Acusar Oscar Niemeyer de se beneficiar da preferência dos governantes para a execução de suas magníficas obras não parece fazer sentido, pois a licitação que lhe concedeu as encomendas governamentais,  não só o preço mas a qualidade da obra foram quesitos essenciais. Como dizer que a escolha foi equivocada? Dizer que nosso grande arquiteto “encheu os bolsos com o dinheiro público“ é tão absurdo quanto negar que os operosos empreendimentos privados não solicitam  encomendas e recursos preferenciais do governo. Recusar a encomenda de traçar os inigualáveis monumentos de Brasília seria tão absurdo quanto uma grande empresa recusar vender seus serviços ao Governo. Quanto à questão de licitações, melhor será o articulista repensar bem o que escreveu.

Quanto à admiração que Niemeyer supostamente atribuía à Fidel e Stalin não posso comentar, mas parece-me o calcanhar de Aquiles moral dos comunistas da velha escola. Nada, nem o bem estar do povo,  justifica matanças, prisões e tortura. Nada justificava, também, os negócios dos capitalistas Watson, dono da IBM com a Alemanha Nazista.  Joe Kennedy, multimilionário, os Krupp e inúmeros empresários mundo afora também apoiaram Hitler. Não acredito que qualquer um deles concordasse com o  morticínio, deixando-se ludibriar, erroneamente,  pela nobreza que atribuíam à causa. Quantos homens de direita, respeitados em nosso meio, apoiaram as matanças engendrados pelas ditaduras chilena e argentina? Remeto-me à Jesus que advertiu: “atire a primeira pedra...”

Em suma, parece-me inaceitável, pela maliciosa argumentação apresentada, constatarmos a  demonização de um homem que nenhum mal fez ao país, apesar de sua ideologia, um homem que, pelo contrario enalteceu a imagem do Brasil pela persistência e talento que dedicou à sua obra.

domingo, 2 de dezembro de 2012


O desrespeito ao Cidadão

Vimos na imprensa que alguns ilustres senhores Senadores rejeitam pagar o imposto de Renda sobre seu 14º e 13º salários. Não todos, pois muitos concordaram em arcar com o ônus que é  imperativo para os cidadãos normais. Resta, contudo, a indagação  que vai mais fundo, a meu juízo. Por que cargas d’água deve um legislador receber os salário extras que não cabem ao cidadão comum. Certamente não trabalham mais do que o peão ou o bancário, o motorista ou o metalúrgico. De onde vêm a iniqüidade que permite a criação de uma casta a parte? Certamente não será da Constituição. Como pode prevalecer um sistema onde um pequeno grupo de pessoas tem o direito de outorgar-se salários, aumento destes e, ainda, outros benefícios?

Os tempos estão mudando e o clamor público,  através da mídia e das redes sociais, se fazem sentir com crescente intensidade. Não mais cabe a inércia do eleitor, do homem comum que tanto pagam e tão pouco recebem do Estado,  pois o protesto pode ser recompensado. Vale lembrar a Lei da Ficha Limpa e a recente condenação dos poderosos para acreditarmos que o País tem jeito; muito depende de nós.

As centenas de milhões de reais que se esvaem dos cofres público não encontram  justificativa  numa nação ainda subdesenvolvida, buscando educação, saúde, saneamento básico, transporte, etc... Basta, parem de aumentar impostos para compensar, dentre outros,  os excessos que vem de cima. Vamos aprender com os países poderosos, tais como a França e a Itália que recém cortaram os salários e mordomias de seus dirigentes como exemplo dignificante para uma nação que precisa crescer.

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Novamente Palestina

As alianças estão em fase de desmoralização.  No recente embate nas Nações Unídas, os Estados Unidos,   guiados pelo exclusivo interesse de Israel, só conseguiram arregimentar nove países para rejeitar a pretensão Palestina. E que países... o Canada, os Checos, as poderosas Ilhas Marshall, a nobre ilha de Palau, a exemplar Ilha Nauru, a importante Micronésia e a semi colônia do Panamá.

Já as potencias Européias  optaram pela repulsa ou pela abstenção à posição Norte Americana. Pela oposição votaram os Escandinavos, a França, a Itália, a Espanha e outros;  pela omissão e abstenção se manifestaram  países como a Alemanha, o Reino Unido e outros. Assim a Europa negou o apoio à absurda posição do “Clube do Não”.

As restantes 138 nações, levadas pelo repúdio ao permanente congelamento da esmagada Palestina, votaram pela sua inclusão nas Nações Unidas como Estado Observador. Vale notar que a rejeição à  posição americana nenhum benefício material trouxe a estes países, muito pelo contrário. Seu voto deu-se por convicção que a primazia da Lei Internacional, tão ferida no confronto Israel-Palestina,  é essencial à preservação de seus interesses permanentes.  Os cépticos dirão: e a Rússia, e a China?  De fato estes têm sua própria agenda, e na condição de super potências pouco se preocupam com a Lei Internacional.

Resumindo, a Civilização deu um passo na direção correta, por rejeitar um dos últimos vestígios de colonialismo militar. Que passará pela mente de Barack Obama, Premio Nobel da Paz? Não constata que as Nações Unidas são o fórum ideal para se chegar à Paz? Do seu lado Israel, rejeitando incomprensívelmente um momento de Paz, iniciou, sem qualquer diálogo posterior, as represálias; cortará a Palestina quase pela metade com a expansão de assentamentos e embolsará os primeiros 120 milhões de dólares devidos à Ramallah. Que outras medidas retaliatórias estarão por vir? Que reações provocará do lado Palestino?

Este não será o último capitulo de uma tragédia que se prolonga a sessenta anos.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012


REARRUMANDO O ORIENTE MÉDIO

Guerra Civil da Síria, ameaça nuclear do Iran, atentados no Iraq, protestos no Bahrein e na Jordânia e, finalmente, e novamente o conflito Palestino Israelense.

O conflito  não surpreende pois ocorre entre um país oprimido e um país opressor. Dizer-se que o conflito foi provocado pelo Hamas é tão válido como atribuí-lo à Israel. São dois contendores em estado de guerra latente.

O conflito é absolutamente assimétrico, porém, desta vez, a inclusão dos foguetes sofisticados teve mais um efeito simbólico do que militar. Sun Tzu teria admirado como o poder psicológico do fraco conteve o poderoso inimigo. Sim, porque os foguetes de Hamas mataram cinco e feriram cento e onze Israelenses enquanto mais de centena de palestinos foram mortos pelos aviões e foguetes de Netanyahu. Porém anunciaram quão vulnerável se tornaram as cidades Israelenses, onde nem muro nem força armada poderão protegê-las para sempre. Em outras palavras, o foguete teve pouco resultado tático, mas alterou o equilíbrio estratégico.

O Estado Maior Israelense sabe que a única forma de impedir a re-estocagem de mísseis em Gaza seria através de uma ocupação permanente. Esta teria um custo inaceitável, não tanto pela eficácia da resistência, mas pela inviabilidade em termos de logística e de alocação relevante de tropa. Acresce a enorme fricção de controlar-se uma população extremamente hostil de mais de um milhão de pessoas. Ainda a fronteira com o Egito, hoje bem mais próximo e tolerante do Hamas, facilitaria a rota de reabastecimento dos eventuais rebeldes.

É claro, a alternativa de punir qualquer reinicio de lançamento de foguetes provavelmente receberia como resposta novo ataque Israelense, cuja dimensão poderia significar a destruição de Gaza, com milhares de mortos.

A resposta da opinião pública mundial tenderia a ser nitidamente contrária à Israel. Matanças não são mais bem aceitas e a perenidade do contencioso torna-se um irritante geopolítico com crescentes ramificações. A transformação do povo de Israel de perseguido em perseguidor desafia a compreensão de europeus e americanos (latu senso). A estes se juntam o Egito e Turquia, os dois pólos de poder Muçulmano na região, que não mais toleram o uso da força contra os Palestinos.

Já, os aliados Norte Americanos se encontram numa encruzilhada. A perda do ditador Mubarack retira de Washington o dócil joguete, manobrado para atender os interesses de Tel Aviv. A Turquia, outro nascente pólo de poder regional, foi alijada graças à enorme truculência Israelense, ao matar participantes Turcos desarmados em sua jornada à Gaza. Ainda,  perder o peão Turco, membro da OTAN, só pode ter causado consternação tanto no Pentágono como no Departamento de Estado.

Apesar das declarações de Obama, sobre o direito de defesa de um pais que aprisiona um outro povo não serem edificantes, na prática pouca força tiveram para favorecer a continuidade dos bombardeios Israelenses, tão a gosto de Hillary Clinton (Gaza redux, 2009).  Pelo contrário, em vez de Washington, com todo seu poderio, impor a paz, pediu ao Egito que o fizesse. Fez-se o vácuo, e foi preenchido.
Parece razoável concluir-se que o xadrez alterou-se em detrimento de Israel. O bom que poderia ser extraído na direção da paz ainda não está tão perto, porém a tendência será nesta direção. Passo importante será o apoio à pretensão Palestina de reconhecimento pela  Assembléia Geral da  ONU como “estado observador”.

A ferrenha oposição de Barack Obama e Benjamin Netanyahu à pretensão de Mahmud Abbas, lastreia-se sobre argumentos que nos remetem ao “doublethink”  de Orwell em seu  notável “1984”, onde o governo criava realidade alternativa para àquela que era veraz. Alegar-se, como fazem os parceiros acima,  que o processo de paz seria prejudicado pela anêmica Palestina, rejeita a realidade da incontida penetração de Israel na Cisjordânia através da expansão dos assentamentos garantida por décadas de ocupação militar. Como pode a formiga negociar com o tamanduá senão contando sua história ao concerto das nações...

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Uma nação que se transforma

A eleição de Obama, e sua recente reeleição chama nossa atenção para as mudanças demográficas que ocorrem nos Estados Unidos. Expressiva maioria de latinos e asiáticos, aliados à 91% do eleitorado negro levaram à Casa Branca a antítese do poder WASP. Ainda, os jovens  de todas as raças viram em Obama um futuro mais sensível para com a classe média e mais solidário para com os pobres..

Mais informações são oferecidas no trabalho estatístico de A. Gelman e A. Feller da Universidades de Columbia e Harvard, onde se constata que, tivesse o eleitorado renda anual superior a US$ 100.000, 54% dos votos iriam para Mitt Romney. Fosse a renda abaixo dos US$ 50.000 então 60% dos votos pertenceriam a Barack Obama. Confirma que  60% dos jovens preferiram o presidente, e 54% dos idosos acima de 65 anos votaram em Mitt Romney. Ainda, e não menos importante, a maioria das mulheres preferiram o presidente.

O resultado da eleição parece sugerir a gradual perda da preponderância do segmento  WASP no cenário eleitoral, ainda que majoritário demográficamente. A derrota é ainda mais surpreendente tendo em vista a profunda crise econômica que assola aquele país.

O perfil Republicano, aparece como  intimamente associado à raça branca e seu Cristianismo Protestante ao qual se une a recente influência do Tea Party . Este se apropria, ainda que desvirtuando, do notável movimento em prol da independência americana.  Defende uma visão do Estado Mínimo, se opondo às iniciativas de equilíbrio social. Ao defender uma política econômica favorecendo o topo da pirâmide econômica, os Republicanos alijaram parte relevante das classes média e menos favorecida.

Nos últimos anos o ganho real da classe média foi modesto, enquanto os 10% mais ricos absorvem hoje mais de 50% do acréscimo de riqueza anual gerada no país. Tal disparidade já vem se refletindo no acesso à educação superior e na conseqüente  perda de mobilidade social norte americana. Questiona-se a tese Republicana, que pretende que todos têm a oportunidade de prosperar, basta querer estudar e trabalhar. Ora o estudo inferior leva ao emprego inferior assim gerando o circulo vicioso que fragiliza a estabilidade social.

O governo Obama, reconhecendo a mudança de forças políticas que compõem o país,   promete reverter a crescente disparidade de oportunidades aos cidadãos, mas encontrará no partido opositor tenaz resistência. Enquanto o Partido Democrata defende tanto a redução de gastos quanto o aumento de receitas através de impostos para o erário combalido, por outro lado o Sr Boehner, líder dos Republicanos na Câmara dos Deputados, já avisou que  não concordará com qualquer aumento de impostos, acentuando a exigência de corte das despesas do Estado.

Neste engessamento ideológico o país se aproxima do Precipício Fiscal, assim denominado o momento em que redução draconiana de despesas, simultânea ao aumento de impostos para todas as camadas sociais, parece levar os Estados Unidos à beira da Depressão. Contudo, o ditado Inglês que reza “a visão do patíbulo aguça a mente”* aplica-se a este dilema. Tão graves serão as conseqüências que razoável será prever concessões de política fiscal, de parte a parte, que evitem o desastre fiscal.

*The sight of the gallows sharpens the mind



Pedro da Cunha

quinta-feira, 1 de novembro de 2012



O bom caminho

Estamos em dias de  festa cívica. O Brasil começa a acreditar na Justiça, aquela que, até bem pouco tempo se escondia nas entrelinhas do Código penal, se ocultava atrás dos recursos funambulescos, se    agachava atrás das prescrições. Hoje o Brasil, através de seu Supremo Tribunal, descortina o caminho a seguir para reerguer a República.

Os Ministros do Supremo, ou sua maioria, demonstraram a coragem da imparcialidade face à influência sombria do poder político. Tiveram por alicerce o Ministério Público, a Policia Federal e  aqueles políticos que houveram por bem buscar a verdade nas Comissões Parlamentares de Inquérito. Tiveram, também, o apoio de grande parte da imprensa, revelando o lamaçal moral que, por vezes, envolve a política nacional.

Não cabe a argumentação de alguns políticos e militantes  que acusam o Supremo Tribunal de viés partidário. Basta lembrar que as provas foram colimadas pela Polícia Federal,  órgão subordinado ao Ministério da Justiça, partícipe do governo PT mas não cúmplice dos inúmeros ilícitos apurados. Ainda,  torna-se relevante assinalar que os Ministros do Supremo Tribunal, se não pertencem a partidos políticos foram, na sua maioria, 7 dentre 10, designados pelo governo do PT. Constata-se claramente que buscou o STF, com admirável isenção, colocar seu dever acima de inapropriada gratidão. Buscou a  identificação e a punibilidade dos crimes praticados.

É um momento,  não apenas de regozijo cívico,  mas  também, de reflexão. Constata-se que a contribuição da Oposição foi quase inexistente, o que sugere existir uma convergência espúria de interesses que aproxima  alguns segmentos das duas alas do Congresso. Nota-se, também, o silêncio constrangido da maioria esmagadora dos parlamentares do PT, que certamente reconhecem neste episódio, o fortalecimento da República e de suas instituições, e não de perseguição política. Finalmente, e talvez o mais importante no que tange nosso quadro político, cabe a admiração dos brasileiros pela postura serena, correta e respeitosa da presidente Dilma Rousseff, renunciando à qualquer pressão indevida, assegurando a independência dos Poderes que regem a Nação.

Falta muito a fazer. Porém, cabe-nos esperar que a Lei da Ficha Limpa, em aliança virtuosa com o Supremo Tribunal, venham a filtrar, gradualmente,  o turvo caudal que ora ameaça nos submergir, trazendo ao amanhã crescente limpidez. Nossos filhos merecem.


sábado, 6 de outubro de 2012

O retorno da tortura

Gradativamente a tortura foi abandonada como forma de coação e coerção pelos Estados. Ainda que muita violência ainda ocorra nas delegacias mundias ou nos quarteis dos beligerantes, o repúdio à tortura pelos governos  foi mais um passo civilizatório, tornando inadmissiveis as provas obtidas desta forma. A recusa da confissão sob tortura se lastreia no fato de que o torturado dirá o que necessário for para cessar seu sofrimento. Dirá o que  sabe e o que ignora, inventará o que lhe parecer adequado para sustar a mão do algoz. O torturado poderá ser um frio criminoso, mas tambem poderá ser um inocente envolvido em rede de intrigas ou circunstancias alem de seu contrôle. Como saber?

Tanto as Nações Unidas como a Convenção de Genebra, a primeira tratando da imposição dos Direitos Humanos, e a segunda cuidando da relação bélica dentre adversários, repudiam a tortura, tornando-a ilegal sob a égide da Lei Internacional.

Tendo isto em mente e atendendo à sua índole claramente civilizada, o presidente Barack Obama determinou o término da prática de tortura contra os  adversários, tornando ilegal a tortura oficializada, anteriormente utilizada pelo governo de George W Bush. Determinou o atual presidente que os interrogatórios obedecessem o prescrito no Manual do Exercito Norte Americano, onde a tortura é vedada.

Já o candidato Republicano, Mitt Romney, vem a publico defender o retorno às práticas do governo  Bush.
Manifestou-se, em público, que não considera o afogamento, por vezes incompleto e por vezes real (um pequeno descuido...), como método razoavel de interrogatório. Defende, e aí cita práticas anteriores oficialmente aceitas, que atirar-se o suspeito contra a parede, pendurá-lo pelos membros (páu de arrara) de forma estressante, submete-lo a temperaturas extremas e ruidos insuportáveis não constituem tortura.

Cabe, assim, perguntar-se qual o rumo que toma nossa civilização, que tanto se beneficiou dos exemplos que os Estados Unidos trouxeram ao planeta. Até que ponto poder-se-ia alegar  que  a tortura hoje defendida pelo Sr Romney, seria necessária ou conveniente se as relações norte americanas tivessem sido equilibradas e equitativas com todas as partes que compõe o contencioso que envolve o Oriente Médio e o mundo Muçulmano. Até que ponto, sem descurar da integridade de Israel, a concessão às justas aspirações dos outros povos da região não teria desanuviado a tempestade que ha 60 anos se forma e  que sobre nós paira?